Os casos de feminicídio crescem de forma assustadora no Distrito Federal. A capital registrou 19 ocorrências até ontem, a mesma quantidade do anotado nos 12 meses do ano passado. Houve três crimes nos últimos três dias. No mais recente, ontem de manhã, um policial militar matou a ex-companheira a tiros e tirou a vida em seguida. Na segunda-feira, uma mulher morreu ao despencar da janela do terceiro andar do apartamento onde morava com o marido, preso sob suspeita de tê-la jogado ou a empurrado. No domingo, um taxista também matou a mulher a tiro e fugiu. Policiais o prenderam ontem.
Os registros de agressões contra mulheres que não culminaram em morte também aumentaram este ano no DF. No primeiro semestre, houve 7.169 ocorrências desse tipo de crime, contra 7.029 de janeiro a junho do ano passado. Nesses casos, as três principais formas de ataque são a psicológica (69,3% dos registros), seguida de agressões físicas (52,1%) e violência patrimonial (11,24%).
Na frente dos filhos
Epaminondas era sargento do 8º Batalhão (Ceilândia) e, segundo uma vizinha que não quis se identificar, não aceitava a separação de Adriana. Por isso, ela morava com a mãe. Em nota, a PMDF afirmou lamentar imensamente o caso. “O trabalho diário dos policiais militares nas ruas do DF visa, entre outras coisas, evitar esse tipo de crime. A PMDF se solidariza com os familiares e está à disposição para auxiliar no que for necessário”, diz o texto.
Rotina de brigas
Salmon estava no apartamento no momento do crime, mas contou aos agentes que dormia, por isso não viu nem escutou nada. Em depoimento, o idoso disse que, no sábado, Jonas tentou estrangular a vítima e que as brigas eram constantes. Ele morava com o casal havia 18 anos. Carla denunciou Jonas duas vezes por violência doméstica. Os agentes aguardam perícia necroscópica para identificar se a vítima tinha sinais de agressões. Ela estava com algumas escoriações no braço direito, mas os investigadores não souberam precisar em que momento ocorreram.
Jonas também tinha pequenos ferimentos nas mãos e nos braços, mas afirmou não se lembrar do que tinha ocorrido. Ele estava aparentemente embriagado no momento da prisão. Policiais militares arrombaram a porta do apartamento, pois ele se trancou no imóvel após a morte de Carla. Jonas foi indiciado por homicídio triplamente qualificado — motivo torpe, não apresentar possibilidade de defesa e feminicídio. Se condenado, pode pegar até 30 anos de cadeia. Na tarde de ontem, o Tribunal de Justiça (TJDFT) converteu a prisão dele em preventiva. Até então, estava preso em flagrante. Carla será velada no Cemitério Campo da Esperança de Taguatinga, hoje. O velório terá início às 12h e o sepultamento está previsto para ocorrer às 14h30.
Taxista se entrega
Acompanhado de um advogado, Edilson afirmou que só se manifestará em juízo. “Ele deve responder por feminicídio. Ainda não localizamos a arma do crime, por isso, não temos como indiciá-lo por porte ilegal de arma”, explicou a delegada Simone Alencar, da 27ªDP. O acusado está preso na Papuda.
Termo criado em 1976
O termo feminicídio é usado desde a década de 1976, quando o Primeiro Tribunal Internacional de Crimes contra as Mulheres, em Bruxelas, na Bélgica, tratou das mortes de mulheres nos Estados Unidos e no Líbano. Além do Brasil, outros 16 países da América Latina utilizam o termo no código criminal como uma forma de agravante penal de homicídios.