Cidades

DF já registra 19 feminicídios este ano, mesmo número de 2017 inteiro

Com três mortes nos últimos três dias, chega a 19 o número de crimes de ódio contra mulheres no DF, o mesmo número do registrado nos 12 meses do ano passado. No caso mais recente, ontem, PM executou a ex-companheira e se matou em seguida

Mariana Machado
Walder Galvão - Especial para o Correio
Isa Stacciarini
Pedro Grigori - Especial para o Correio
postado em 08/08/2018 06:00 / atualizado em 19/10/2020 11:40

Adriana Castro, Marília Jane e Carla Graziele, assassinadas por seus companheiros no DF


Os casos de feminicídio crescem de forma assustadora no Distrito Federal. A capital registrou 19 ocorrências até ontem, a mesma quantidade do anotado nos 12 meses do ano passado. Houve três crimes nos últimos três dias. No mais recente, ontem de manhã, um policial militar matou a ex-companheira a tiros e tirou a vida em seguida. Na segunda-feira, uma mulher morreu ao despencar da janela do terceiro andar do apartamento onde morava com o marido, preso sob suspeita de tê-la jogado ou a empurrado. No domingo, um taxista também matou a mulher a tiro e fugiu. Policiais o prenderam ontem.

Os registros de agressões contra mulheres que não culminaram em morte também aumentaram este ano no DF. No primeiro semestre, houve 7.169 ocorrências desse tipo de crime, contra 7.029 de janeiro a junho do ano passado. Nesses casos, as três principais formas de ataque são a psicológica (69,3% dos registros), seguida de agressões físicas (52,1%) e violência patrimonial (11,24%).

Na frente dos filhos


Marília Jane de Sousa Silva, 58 anos. » Morta a tiro pelo marido, Edilson Januário de Souto, 61, na casa dos dois, na quadra 405 do Recanto das Emas, na noite de domingo, após ele passar a tarde bebendo em um bar. Edilson fugiu logo em seguida e foi preso ontem, 40, por volta das 10h de ontem, dia em que a Lei Maria da Penha completou 12 anos. Ele parou de moto na calçada da casa de Adriana e chamou por ela. Quando a vítima saiu, o militar deu três tiros, sendo dois na cabeça da vítima. O terceiro foi contra a própria boca. Ambos morreram na hora. No momento do crime, os três filhos do casal, um menino de 11 anos, uma menina de 8 e o caçula, de 5, brincavam na garagem.

Epaminondas era sargento do 8º Batalhão (Ceilândia) e, segundo uma vizinha que não quis se identificar, não aceitava a separação de Adriana. Por isso, ela morava com a mãe. Em nota, a PMDF afirmou lamentar imensamente o caso. “O trabalho diário dos policiais militares nas ruas do DF visa, entre outras coisas, evitar esse tipo de crime. A PMDF se solidariza com os familiares e está à disposição para auxiliar no que for necessário”, diz o texto.

Rotina de brigas


Carla Graziele Rodrigues Zandoná, 37 anos » Caiu da janela do terceiro andar de um dos prédios da 415 Asa Sul, na noite de segunda-feira. O marido, Jonas Zandoná, 44, é suspeito de  tê-la jogado. Carla havia denunciado Jonas duas vezes à polícia por agressões físicasBrigas, discussões e agressões marcaram o relacionamento entre Jonas Zandoná, 44 anos, e Carla Graziele Rodrigues Zandoná, 37. Na noite de segunda-feira, a mulher caiu da janela do terceiro andar de um prédio na 415 Sul e morreu ao dar entrada no hospital. A suspeita é de que o marido tenha a arremessado do edifício. O casal estava junto havia ao menos 18 anos e dividia a residência com Salmon Lustosa Evas, 75 anos. Aos investigadores da 1ª Delegacia de Polícia (Asa Sul), testemunhas informaram que as brigas no imóvel eram frequentes e que o homem agrediu a mulher dois dias antes de ela morrer.

Salmon estava no apartamento no momento do crime, mas contou aos agentes que dormia, por isso não viu nem escutou nada. Em depoimento, o idoso disse que, no sábado, Jonas tentou estrangular a vítima e que as brigas eram constantes. Ele morava com o casal havia 18 anos. Carla denunciou Jonas duas vezes por violência doméstica. Os agentes aguardam perícia necroscópica para identificar se a vítima tinha sinais de agressões. Ela estava com algumas escoriações no braço direito, mas os investigadores não souberam precisar em que momento ocorreram.

Jonas também tinha pequenos ferimentos nas mãos e nos braços, mas afirmou não se lembrar do que tinha ocorrido. Ele estava aparentemente embriagado no momento da prisão. Policiais militares arrombaram a porta do apartamento, pois ele se trancou no imóvel após a morte de Carla. Jonas foi indiciado por homicídio triplamente qualificado — motivo torpe, não apresentar possibilidade de defesa e feminicídio. Se condenado, pode pegar até 30 anos de cadeia. Na tarde de ontem, o Tribunal de Justiça (TJDFT) converteu a prisão dele em preventiva. Até então, estava preso em flagrante. Carla será velada no Cemitério Campo da Esperança de Taguatinga, hoje. O velório terá início às 12h e o sepultamento está previsto para ocorrer às 14h30.

Taxista se entrega


Adriana Castro Rosa Santos, 40 anos » Assassinada pelo marido, o policial militar Epaminondas Silva Santos, 51, que, em seguida, se matou, no Riacho Fundo 2, ontem de manhã. Eles estavam em processo de separação e tinham três filhos, de 11, 8 e 5 anos.O taxista Edilson Januário de Souto, 61 anos, se entregou na 27ª Delegacia de Polícia (Recanto das Emas), ontem. Ele é acusado de matar a mulher, Marília Jane de Sousa, 58, no domingo. Edilson teria passado o dia em um bar, a menos de 500m de onde morava com Marília. Quando chegou à residência, discutiu com Marília e atirou quatro vezes. A mulher tentou correr, mas um dos disparos a acertou no tórax, enquanto tentava sair pelo portão. Depois de matá-la, o taxista arrasou o corpo para dentro da garagem e fugiu de carro.

Acompanhado de um advogado, Edilson afirmou que só se manifestará em juízo. “Ele deve responder por feminicídio. Ainda não localizamos a arma do crime, por isso, não temos como indiciá-lo por porte ilegal de arma”, explicou a delegada Simone Alencar, da 27ªDP. O acusado está preso na Papuda.

Termo criado em 1976

O termo feminicídio é usado desde a década de 1976, quando o Primeiro Tribunal Internacional de Crimes contra as Mulheres, em Bruxelas, na Bélgica, tratou das mortes de mulheres nos Estados Unidos e no Líbano. Além do Brasil, outros 16 países da América Latina utilizam o termo no código criminal como uma forma de agravante penal de homicídios.

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