Cidades

"Pior é saber que pode acontecer de novo", diz cunhado de Gizelda Mota

Gizelda é uma das vítimas do acidente provocado por preso no regime semiaberto que cometeu um assalto com restrição de liberdade, no sábado

Sarah Peres - Especial para o Correio, Augusto Fernandes, Bruna Lima - Especial para o Correio
postado em 13/08/2018 06:48
Jhonatan da Silva e Pedro Luís Pereira, parentes das vitimas
O que deveria ser um dia de confraternização e harmonia, em comemoração ao Dia dos Pais, transformou-se em tristeza para as famílias de Gizelda da Silva Mota, 39 anos, e Márcio Barbosa Oliveira, 53, vítimas do acidente provocado no sábado (11/8) por Paulo Brás de Oliveira Júnior, 23, que cumpre pena por associação criminosa e roubos no Centro de Progressão Penitenciária, em regime semiaberto.
[SAIBAMAIS]Os parentes de Gizelda e Márcio tiveram de liberar os corpos dos dois no Instituto Médico Legal (IML), no Complexo da Polícia Civil, e organizar as cerimônias fúnebres das vítimas. Ontem também foi aniversário do pai de Gizelda. Ela trabalhava como diarista e, no sábado, tinha atendido uma família que mora na 515 Sul. Minutos antes do acidente, havia ligado para a filha dizendo que estava voltando para casa, no Jardim Ingá (GO), e pediu a Márcio uma carona até a Rodoviária do Plano Piloto. De acordo com familiares, Márcio e ela eram amigos.

Gizelda tinha dois filhos. Um bebê de apenas um ano e uma menina, de 15. A maioria dos seus parentes mora no município goiano, que fica a aproximadamente 45 quilômetros do centro de Brasília. Familiares da mulher a descrevem como uma pessoa extrovertida e guerreira. ;Todos gostavam dela. Uma mulher trabalhadora. Fazia de tudo pelos filhos;, disse o sobrinho dela, o professor de educação física Jhonata da Silva, 28.

A família só ficou sabendo da morte de Gizelda ontem. ;Como ela gostava muito de sair, pensamos que estava na casa de algum amigo. Mas às 10h, ainda não tínhamos nenhuma informação, e decidimos ir até a casa onde ela trabalhou no sábado. Quando nos contaram, o nosso mundo caiu;, lamentou a esposa de Jhonata, Thaís Araújo, 22.

A família disse estar indignada com o fato de o responsável pela morte de Gizelda ter sido liberado no saidão do Dia dos Pais. "A revolta é enorme. Pior ainda é saber que, nos próximos feriados, isso pode acontecer novamente, com outras famílias. Não foi a primeira, e nem será a última vez. No final de tudo, são as pessoas inocentes que acabam pagando;, criticou o cunhado de Gizelda, o eletricista Pedro Luís Pereira, 51. Ela será enterrada amanhã, no Cemitério Jardim da Consolação, em Luziânia (GO).

O sentimento era o mesmo com os parentes de Márcio. ;É muito triste e inadmissível. Nossa família está arrasada. Enquanto ele (Pedro Brás) está vivo, nós perdemos um homem responsável e dedicado, que queria o bem de todos. Uma pessoa que não tinha inimigos e com bom coração;, disse o sobrinho da vítima, o motorista Evaldo de Oliveira, 28.

Márcio não era casado nem tinha filhos, no entanto, deixa a mãe, de 80 anos, e sete irmãos, que vivem em Planaltina. A vítima morava e trabalhava na 711 Sul há cerca de 30 anos, junto com a família da taróloga Dona Dayane. Ela estava no aniversário de um neto quando soube da tragédia. ;Ele (o Márcio) era como um filho para mim, sempre me ajudou muito. Eu e toda a minha família estamos abalados com tudo o que ocorreu;, comentou. O enterro será hoje, no Cemitério de Planaltina, às 11h.

Manobra brusca

No fim da tarde de sábado, Paulo roubou o relógio de uma mulher, na Quadra 505 Sul, foi flagrado por policiais militares e começou um tiroteio. Ele fugiu do local após roubar um Mitsubishi TR4 branco, sequestrando Ilza Nogueira, 62, e o sobrinho dela, 6. Durante a perseguição, na altura do Viaduto Camargo Corrêa, no Eixão Sul, o criminoso fez uma manobra brusca e colidiu na traseira de uma Kombi, que tombou, invadiu a pista oposta e bateu de frente com um Ford EcoSport branco, com cinco pessoas.

Os ocupantes da Kombi, Márcio e Gizelda, morreram no local. Sete pessoas tiveram ferimentos (leia mais sobre as vítimas). A maioria já recebeu alta do Hospital de Base do DF. Somente Manoel José de Sá, 73, que estava no EcoSport, continua internado. Ele foi socorrido com sangramento na cabeça e asfixia. Segundo a jornalista Claudia Bengtson, 50, madrinha de batismo de uma criança que estava no carro, o estado de saúde do idoso é muito grave. ;Ele vai fazer ressonância (hoje) para saber se houve comprometimento de três vértebras da cervical. Perdeu três dentes, está com o nariz quebrado e com uma fratura no braço;, explicou.

De acordo com outro parente, o acontecimento gerou revolta na família. ;Nos sentimos desprotegidos. É um misto de raiva, ódio e preocupação. Não entendo como uma pessoa dessas é liberada para matar os seus parentes;, esbravejou o homem.

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