Cidades

Pesquisa de emprego aponta desigualdades entre negros e não negros no DF

Levantamento compara primeiros semestres de 2017 e 2018. Enquanto negros e pardos tiveram redução de 2,8% nos salários, brancos e amarelos receberam 0,6% a mais

Jéssica Eufrásio
postado em 20/11/2018 22:13
Levantamento compara primeiros semestres de 2017 e 2018. Enquanto negros e pardos tiveram redução de 2,8% nos salários, brancos e amarelos receberam 0,6% a mais Um boletim especial da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) no Distrito Federal foi publicado nesta terça-feira (20/11) por ocasião do Dia da Consciência Negra. O levantamento destacou que, mesmo compondo a maior parte da População Economicamente Ativa (PEA) do DF, negros e pardos são os mais afetados pelo desemprego e tiveram maior redução nos ganhos provenientes do trabalho. A pesquisa comparou a inserção dos brasilienses no mercado de trabalho nos primeiros semestres de 2017 e 2018.

No período em questão, o desemprego na capital federal caiu de 20,3% para 19%, entretanto a população negra segue como a mais afetada pela falta de trabalho, com 73,8% contra 26,2% de não negros nessa situação. Para efeitos de classificação, a pesquisa considerou como "população negra" os negros e pardos e a parcela "não negra" como brancos e amarelos. Ainda que a PEA da capital federal seja composta majoritariamente por pessoas que se autodeclaram negras ou pardas (67,3%), as pessoas negras correspondem a 73,8% do contingente de desempregados do DF.

Taxa de distribuição da População Economicamente Ativa (PEA) no DF

Esse mesmo grupo também teve redução de 2,8% nos ganhos de trabalho em relação ao mesmo período do ano passado. Para não negros, essa taxa subiu 0,6%. Em números absolutos, a remuneração média dos negros ocupados caiu de de R$ 2.831 para R$ 2.753, e a de não negros cresceu de R$ 5.030 para R$ 5.061. A pesquisa também identificou que negros e pardos tendem a atuar com mais frequência em empregos na área da construção e do comércio, segmentos com remunerações menores, e em postos de trabalho menos protegidos.

Setor público


Na categoria que inclui os assalariados, a maior disparidade foi observada no setor público. Enquanto 30,9% dos não negros estão inseridos no ramo, apenas 18,4% da população negra ou parda do Distrito Federal trabalha nessa área. Na comparação do primeiro semestre de 2017 e 2018, a taxa de empregabilidade no serviço público subiu 0,2% entre brancos e amarelos e se manteve entre negros.

Distribuição dos ocupados por cor e setor de atividade econômica

Uma das situações favoráveis à população negra apresentada na pesquisa tratou-se do tempo de procura por trabalho. Enquanto brancos e amarelos levam, em média, 51 semanas para conseguir um emprego, negros e pardos levam 47 semanas nesse processo. Diante desse resultado e do fato de que a população negra corresponde à maior parte (65,8%) do contingente de ocupados do DF, a pesquisa apontou que é possível inferir que o cenário aparentemente positivo decorra de uma flexibilização para aceitar "qualquer oportunidade laboral".

Mulheres


No caso das mulheres, o levantamento indicou diferenças de nove pontos percentuais entre as negras e pardas que não trabalham (22,6%) e os homens brancos e amarelos desempregados (13,6%). O índice apresenta 5,6 pontos percentuais de diferença quando comparado à taxa de mulheres não negras desempregadas (17%). Quando as categorias de trabalho assalariado são avaliadas, o emprego doméstico prevalece entre as mulheres negras, com 16,2% delas atuando em funções desse ramo.

A pesquisa foi produzida pela Secretaria do Trabalho, Desenvolvimento Social, Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos do Distrito Federal, pela Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan) e pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). O estudo está disponível neste link.

Outros estudos


Em novembro do ano passado, a Codeplan divulgou uma pesquisa sobre o perfil do negro no Distrito Federal. O documento apresentou comparações relativas à escolaridade, ocupação, inclusão digital e ao rendimento da população negra no DF. O boletim teve como base a Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (Pdad) e foi baseado nos dados obtidos em 2011, 2013 e 2015.

Em abril, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontou que o DF é a unidade federativa com os maiores rendimentos médios mensais do país. O estudo, baseado na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) contínua, revelou disparidades em relação à presença de mulheres e homens no mercado de trabalho, além de diferenças entre os salários recebidos por negros, pardos e brancos.

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