Cidades

Em velório, túmulo de cemitério cede e duas pessoas caem na cova vizinha

"Em meio a tanta dor, tivemos que passar por algo que jamais imaginaríamos", lamentou Simone Freitas. Samu foi chamado para prestar socorro e carro ficou atolado

Sarah Peres - Especial para o Correio
postado em 04/01/2019 15:20
Buraco cedeu e duas pessoas se machucaram, no Cemitério Campo da Esperança de Taguatinga Como se não bastasse o sofrimento da despedida de um ente querido, uma família do Distrito Federal passou por uma situação que pode ser comparada a uma cena de um filme de terror. No momento em que davam as mãos para rezar o último Pai Nosso, parte do túmulo vizinho desabou e duas pessoas caíram na cova, no cemitério de Taguatinga. "Em meio a tanta dor, tivemos que passar por algo que jamais imaginaríamos. Como lidar com tanto sofrimento repentino?", lamenta Simone Freitas Cabral, 37 anos.
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Um jovem de 16 anos escalou a cova sozinho e ajudou a madrinha dele a sair do buraco, com a ajuda de outros parentes. "Primeiro, abriu um buraco. Nisso, entrou uma perna do Renato e da mulher. Quando ele tentou puxar o pé, a terra cedeu de vez e os dois caíram. Como ele é novo, conseguiu se virar. Depois, ajudou a madrinha dele. Mas os dois saíram machucados", detalha Simone.
A moradora da Colônia Agrícola Samambaia e cerca de 30 pessoas velavam o corpo de Rosalina Gonçalves Freitas, 85, que faleceu em decorrência de complicações da doença de Alzheimer. "Já estávamos todos muito abalados com a despedida da minha avó, pois nunca é fácil dizer adeus para quem amamos. Quando isso aconteceu, ficamos tão transtornados que sequer conseguimos terminar a cerimônia. Isso não é justo", afirma.
A família acionou o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), mas a ambulância também ficou atolada. O registro foi feito por um dos presentes (veja vídeo), que questiona a situação: "Infelizmente, o constrangimento não acaba, né? O socorro veio até nós e acabou de ficar encalhado. A que ponto chegamos?"
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Renato não sofreu ferimentos graves. A madrinha dele machucou o pé, que ficou inchado. Ela recebeu atendimento dos socorristas e não precisou ser levada para o hospital. A família pretende abrir um boletim de ocorrência. "Um coveiro me disse que essa não era a primeira vez que algo parecido acontecia. Então, eles precisam tomar uma providência o quanto antes", frisa Simone.
O Correio entrou em contato com a assessoria do Campo da Esperança Serviços Ltda. Por nota, a empresa lamentou o ocorrido e que arcará com todos os custos de consulta e medicação para os envolvidos no acidente. Ainda, esclareceu que investiga a causa do desabamento e que os "reparos necessários já estão em andamento e são feitos pela equipe de engenharia da empresa."

Problemas recorrentes

Relatório do Tribunal de Contas do DF (TCDF), divulgado em primeira mão pelo Correio em 20 de dezembro passado, revela que seis cemitérios do Distrito Federal administrados pela empresa Campo da Esperança Serviços Ltda., apresentam uma série de irregularidades. Estão na lista as necrópoles da Asa Sul, de Brazlândia, Taguatinga, Sobradinho, Planaltina e do Gama. Alguns dos problemas existem desde o contrato assinado em 2002 entre o Executivo local e a concessionária.
"Em visita aos seis cemitérios do DF, realizada em maio de 2017, o corpo técnico do TCDF confirmou que ainda havia falhas na identificação e conservação de túmulos; problemas nos muros e cercamentos das necrópoles; falhas na construção de ossuários gerais e individuais, e de cinzários", frisou o relatório.
Conforme o TCDF, ao menos 12 destas falhas precisam ser solucionadas urgentemente. Parte das adversidades persistem há pelo menos 10 anos.

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