Como a prisão decretada na segunda-feira (28/1) foi temporária, tem prazo de apenas cinco dias. Em 24 de outubro, Rafael, que trabalhava como motorista particular de Gabriela, sequestrou e mandou matar a médica. Nos meses que se passaram, fingiu ser ela em conversas por WhatsApp com amigos e familiares. Foi um irmão, policial civil em Minas Gerais, que desconfiou e acionou os oficiais do Distrito Federal no início deste ano. Um comparsa, que teria ajudado no dia do crime, continua foragido.
Nesta quinta-feira (31/1), mais um carro comprado pelo assassino com dinheiro da vítima foi localizado. Dessa vez, um Audi, em uma oficina de Sobradinho. Segundo o delegado Leandro Ritt, o veículo seria modificado e já estava com o motor desmontado. ;A partir da veiculação das imagens do Rafael na imprensa, as pessoas começaram a identificar e a fazer denúncias. Foi assim que encontramos o carro. É possível que mais apareçam;, afirmou o delegado. Amanhã, o veículo será levado para a garagem da Divisão de Repressão a Sequestros (DRS).
Gabriela era diretora-geral do Hospital Regional de Taguatinga (HRT) desde março do ano passado e Rafael trabalhava como motorista dela havia dois anos. Ele foi indicado pela própria mãe, que exercia a função anteriormente, mas precisou se afastar por problemas de saúde. De acordo com o Portal da Transparência, o salário dela girava em torno de R$ 16 mil, mas ela tinha ainda mais dois contratos com serviços privados.
Devido à quantidade de compromissos que precisava cumprir e por ter confiança em Rafael, deu a ele uma procuração de plenos poderes, o que permitia que ele movimentasse as contas bancárias (em pelo menos três bancos) e assinasse documentos em nome dela. Contudo, sempre que podia, o motorista retirava valores em benefício próprio, em torno de R$ 1.500 por mês, sem o conhecimento da vítima.
Um namorado havia alertado a médica sobre os riscos. Os dois já haviam terminado o relacionamento, mas, mesmo assim, ele conseguiu convencê-la a revogar a procuração. No dia 23, véspera da tragédia, ela enviou uma mensagem a Rafael pedindo que ele devolvesse o documento. A polícia descarta envolvimento do ex no crime.
Foi quando um comparsa de Rafael apareceu com uma faca anunciando um suposto assalto. Tudo havia sido combinado anteriormente e o grupo seguiu até uma área do Parque Nacional em Brazlândia, onde Gabriela teria sido enforcada até a morte. A perícia ainda vai confirmar a causa da morte.
Na confissão, Rafael disse ter pago R$ 5 mil ao ajudante, alguém que indicou como Baiano. O delegado da DRS, Leandro Ritt, que cuida do caso, descarta o nome. ;Ele evidentemente está protegendo alguém. Já é certo que haja ao menos mais uma pessoa envolvida, mas ele está escondendo quem seja;, afirmou.
O advogado de Rafael, Cleyton Lopes de Oliveira, afirmou, ontem, que ainda não teve acesso ao inquérito, mas que o cliente dele está cooperando com a investigação.
Compras
Além do Audi encontrado hoje, outros dois carros haviam sido identificados, ambos com modificações estéticas. Para a compra de um deles, foram feitas três transferências bancárias no valor de R$ 10 mil cada. Por enquanto, a Polícia Civil calcula que ele tenha subtraído ao menos R$ 200 mil de Gabriela. ;Estamos aguardando o afastamento bancário de mais duas contas. É possível que esse valor seja muito maior;, avalia o delegado.
De posse da procuração de plenos poderes, Rafael também vendeu uma residência que a médica tinha na cidade de Pirenópolis (GO) e o apartamento em que ela morava com a filha, de 8 anos, na Asa Norte. Além disso, rescindiu os contratos com serviços privados prestados pela médica.
Desaparecimento
Para convencer amigos e familiares de que a médica estava bem, Rafael se passou por ela e enviou mensagens dizendo que estava se internando em uma clínica para tratamento de depressão, onde não poderia receber visitas, e que retornaria no Natal. Como a médica já havia se tratado uma vez, ninguém desconfiou, a princípio.
A Secretaria de Saúde informou que, em dezembro, a Superintendência da Região de Saúde Sudoeste abriu processo administrativo para apurar a ausência da servidora e que, naquele mesmo mês, bloqueou o pagamento dela.
Na noite de segunda-feira, o assassino levou os policiais ao local onde havia deixado a médica. Apenas as ossadas permaneceram após os dois meses de decomposição e foram levadas para o Instituto de Medicina Legal (IML), onde ficarão por pelo menos 30 dias até que o laudo pericial seja concluído.