Cidades

Juiz determina júri popular a médica acusada de matar filho; defesa recorre

Filho da pediatra, de 3 anos, morreu em junho passado por intoxicação e insuficiência respiratória causados por consumo indevido de medicamentos. Defesa diz que recorrerá da decisão

Jéssica Eufrásio
postado em 24/06/2019 19:54 / atualizado em 22/09/2020 13:42
Mãe e filho moravam em apartamento na Asa Sul. Camisa da Seleção que pertencia à vítima ficou pendurada na janela do imóvelUm decisão do juiz substituto Frederico Ernesto Cardoso Maciel determinou que a pediatra Juliana de Pina Araújo, 35 anos, acusada de matar o filho de 3 anos em junho passado, vá a júri popular. A sentença, no entanto, não é definitiva, uma vez que a defesa da ré pretende recorrer, como apurou o Correio.

Segundo a denúncia apresentada pelo Ministério Público, João Lucas de Pina morreu devido a um quadro de intoxicação e insuficiência respiratória após ter tomado medicamentos indevidamente, fornecidos pela mãe. O resultado do exame de corpo de delito apontou, ainda, que a criança teve uma artéria perfurada pela médica.
 
A advogada de defesa de Juliana, Claudia Tereza Sales, afirmou à reportagem que recorrerá da decisão ; divulgada na segunda-feira (17/4) ; com base em laudos que apontam a ré como inimputável, pois sofre de transtorno psiquiátrico. "Vamos entrar com um pedido de absolvição e de medidas de segurança", afirmou.

"No momento dos fatos, ela (Juliana) estava com a capacidade de discernimento alterada. A defesa reuniu laudos psiquiátricos que contestam, inclusive, o do próprio do IML (Instituto de Medicina Legal). Eles mesmos atestaram que ela não têm previsão de alta", completou Claudia Tereza.

Após matar o filho, Juliana tentou tirar a própria vida. Ela foi encontrada com com cortes no pescoço e nos punhos e foi internada na ala psiquiátrica do Hospital de Base. Pouco mais de um mês depois, a médica foi transferida para a Penitenciária Feminina do Distrito Federal (Comeia). Uma nova decisão judicial, publicada em agosto, determinou que ela fosse hospitalizada em uma clínica psiquiátrica. A substituição da prisão preventiva partiu de um pedido do juiz que analisava o caso ao IML.

A acusada trabalhava como médica no Hospital Materno-Infantil de Brasília (Hmib), no Hospital de Base e no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). No dia do crime, Juliana ligou para o ex-companheiro e pai da criança pedindo perdão e dizendo que queria engolir um bisturi. À Justiça, ele afirmou que Juliana era "uma mãe muito cuidadosa", mas que sofria de depressão.

Medicamentos de uso controlado

Juliana chegou a contar ao porteiro e a vizinhos que tinha matado o filho. Em seguida, testemunhas levaram a médica, o menino e a avó dele para o Hmib. João Lucas chegou com vida à unidade de saúde, mas não resistiu. As investigações ficaram a cargo da 1; Delegacia de Polícia (Asa Sul).

No apartamento da família, agentes encontraram duas cartelas com 30 comprimidos, cada, de Frontal, indicado para o tratamento de transtornos de ansiedade. Havia, ainda, uma caixa de Ritalina ; medicamento de venda controlada usado, geralmente, para aumentar a concentração ;, com 18 cápsulas a menos, e um bisturi.

Em janeiro de 2018, João Lucas foi internado com quadro semelhante. Resquícios de medicamentos encontrados no corpo da criança, à época, eram os mesmos usados por Juliana, segundo a polícia. A assessoria do hospital no qual o menino deu entrada informou que ele permaneceu um dia na unidade de saúde e que não apresentava sinais de maus-tratos.

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