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Caso Bernardo: 'Não há dúvidas de que a criança esteja morta', diz delegado

Apesar de não localizarem o corpo do menino no lugar indicado por Paulo Roberto Osório, investigadores da Polícia Civil dizem não ter dúvidas de que a criança está morta. Agentes acreditam que acusado mente para prolongar sofrimento da família

Cibele Moreira, Alan Rios
postado em 06/12/2019 06:00
[FOTO1]Mesmo sem localizar o corpo de Bernardo da Silva Marques, de 1 ano e 11 meses, a polícia tem certeza de que a criança morreu. O pai, Paulo Roberto Caldas Osório, 45 anos, confessou o assassinato do filho por vingança da mãe, Tatiana da Silva Marques, 30, e da ex-sogra, Juciane Mascarenhas Nascimento, 57. O crime ocorreu na sexta-feira, 29 de novembro, pouco depois de o acusado buscar a criança na creche, na 906 Sul. ;Não há dúvidas de que a criança esteja morta. As investigações apontam para isso;, afirmou o delegado responsável pelo caso, Leandro Ritt, da Divisão de Repressão ao Sequestro (DRS).

Nesta quarta-feira (4/12), equipes da Polícia Civil do Distrito Federal realizaram as buscas em um perímetro de 100km indicado pelo acusado como o local onde teria deixado o corpo do filho. Porém, os agentes não encontraram nenhum sinal de Bernardo ou da cadeirinha dele. Segundo a polícia, Paulo Roberto informou, em depoimento, que abandonou o filho à beira da estrada, em uma região de vegetação densa, após a divisa de Goiás com a Bahia. Quando a equipe de buscas foi ao local, notou que a região era de produção de soja e havia poucos pontos que se encaixavam nessa versão. Outras áreas são exploradas.

A mãe de Bernardo, no entanto, mantém a esperança de encontrar o filho vivo. ;Eu não sei o que aconteceu, onde o meu filho pode estar, mas eu só quero que ele esteja bem. Não consigo mais dormir direito. Estou cansada, mas estou tirando forças da minha família, dos meus amigos e do apoio que venho recebendo. De vez em quando olho as redes sociais e muitas pessoas dizem que estão comigo, que eu vou achar meu filho;, disse nesta quarta-feira (4/12) ao Correio Braziliense. ;Ele (Paulo Roberto) é uma pessoa doente e quero que vá se tratar. Quando estava normal, tratava todo mundo muito bem. Tinha aniversário da minha mãe que eu esquecia, mas o Paulo lembrava e mandava flores para ela. Quando ele fez isso tudo, estava fora de si;, lamentou.

Tatiana reforçou, ainda, que não sabia detalhes do passado do ex-companheiro. ;Só agora fiquei sabendo que ele tinha sido preso porque matou a mãe (o crime ocorreu em 1992 na mesma casa onde ele ainda morava, na 712 Sul). Ele só me falava que a morte dela tinha sido uma tragédia e que um dia ele me contaria. O Paulo era mais calado, não se abria. Em janeiro deste ano, quando o pai morreu de diabetes, ele se fechou ainda mais;, lembra.

O assassinato de Neusa Maria Alves, 45 anos, chocou a população de Brasília à época. Paulo Roberto tinha 18 anos e, ao ser preso, teve dificuldades para explicar o que havia feito, apesar de ter confessado o homicídio ; ele a matou com cinco facadas. Naquele ano, chegou a dizer que estava traumatizado com os assaltos que a família sofreu em casa. No último roubo, estava no quarto e ouviu os gritos da mãe. Ao correr na direção dela, viu um dos assaltantes com uma faca no pescoço dela. Mãe e filho ficaram amarrados durante o crime. À polícia, Paulo Roberto contou que aquela seria a última vez, indicando uma possível reação em caso semelhante.

Paulo ficou detido por 10 anos em uma ala de tratamento psiquiátrico do Centro de Internamento e Reeducação (CIR), no Complexo Penitenciário da Papuda. Médicos o avaliaram e constataram, em laudo, os distúrbios mentais do então condenado. Em depoimento à polícia nesta semana, Paulo Roberto demonstrou ódio em relação à ex-companheira e à ex-sogra. A raiva ficou exposta em áudios enviados por ele, por WhatsApp, para Tatiana. As gravações tem xingamentos e ofensas contras as duas. ;Não consigo explicar esses momentos diferentes dele, de ódio e de carinho;, relatou Tatiana.

Avaliação médica

Agentes da DRS prenderam Paulo Roberto na última segunda-feira, em um hotel na Bahia. Ele deverá responder na Justiça por homicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáver, com pena prevista de 30 anos de reclusão. Porém o fato de ele ter matado a mãe e, agora, com a possibilidade de ter assassinado o filho, há dúvidas sobre as condições psicológicas do acusado. Ainda não existe uma avaliação médica atual de Paulo Roberto, servidor concursado da Companhia do Metropolitano do DF (Metrô/DF).

Para Fabrízio Jacinto Lara, advogado especialista em direito criminal, quando há comprovação de que o envolvido tem problemas psiquiátricos, somente a prisão, sem tratamento agravaria o quadro de saúde e traria prejuízos ao indivíduo e à população. ;Por isso, os médicos legistas do Instituto de Medicina Legal (IML) fazem uma avaliação e encaminham ao juiz, que aplica a pena. Nos casos em que a doença mental existe e a pessoa que praticou o fato não teve condições de entender o que fez, há uma medida de segurança por tempo indeterminado;, explicou.

Enquanto a aplicação da pena leva em conta a culpabilidade, a medida de segurança diz respeito à periculosidade. ;Ela pode ser uma internação em um hospital de custódia ou um tratamento ambulatorial em casos menos graves, por exemplo. Essa é uma via de tratamento que trata e resguarda a sociedade;, explica. Apesar de não haver tempo definido para a medida de segurança, ela tem como mínimo a detenção de três anos, para casos mais graves. ;O período máximo só não pode durar mais do que a pena máxima para o crime. Mas, anualmente, o condenado passa por uma nova avaliação psiquiátrica;, detalhou Fabrízio.

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A psicoterapeuta e mestre em psicologia forense Tabata Gerk ressaltou que a avaliação médica minuciosa é essencial. ;É preciso entender como ele estava no dia do ocorrido e com quais condições psicossociais para se ter um diagnóstico aprofundado. É uma situação muito delicada, ainda mais quando é reincidente;, avaliou.
Tabata realizou pesquisas na ala de psiquiatria da Papuda. ;Há muito tabu em relação aos problemas de saúde mental, e isso dificulta que haja mais investimentos na área. O melhor cenário é um acompanhamento psiquiátrico de qualidade para que possa prevenir e diminuir as chances de reincidência;, pontuou. De acordo com ela, no caso de Paulo Roberto, o melhor para ele, neste momento, é ficar retido. ;Como é um caso que mobiliza muita gente, as pessoas podem querer fazer justiça com as próprias mãos;, alertou.

*Colaborou Walder Galvão

Licença

Em 2005, três anos após deixar a prisão, Paulo Roberto passou em concurso público na Metrô/DF para o cargo de agente de estação. Foi aprovado, inclusive, no exame psiquiátrico. Atualmente, Paulo Roberto estava afastado da função, de licença psiquiátrica.

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