Cidades

Morre jornalista e poeta TT Catalão, aos 71 anos

A trajetória de TT Catalão se confunde com a da capital federal. Jornalista, poeta e militante cultural deixa um legado de resistência e de amor à Brasília

Correio Braziliense
postado em 02/01/2020 09:47

TT Catalão dividiu a vida de jornalista com a de artista, se envolvendo diariamente no meio cultural da cidadeMorreu, na madrugada de quinta-feira (2/1), por volta das 2h30, o poeta Vanderlei dos Santos Catalão, o TT Catalão, aos 71 anos. Jornalista, letrista, músico e ativista cultural morava na capital federal desde 1972. TT foi vítima de uma hepatite fulminante e insuficiência renal.

O velório do jornalista acontecerá na sexta-feira, (3/1), a partir das 10h no Espaço Cultural da 508 Sul. O enterro está marcado para as 16h no cemitério Campo da Esperança. A família faz o convite para que todos os que forem à despedida compareçam de branco, em forma de homenagem ao poeta.

A trajetória do poeta se confunde com a história de Brasília. Ele chegou a ser figura de destaque no extinto Ministério da Cultura (MinC), durante o governo Lula. Ele foi um dos mentores da construção coletiva do Programa Cultura Viva, um dos projetos mais bem avaliados do ministério.

 

TT Catalão morava no Rio de Janeiro, produzindo reportagens para a revista O Cruzeiro, quando recebeu o convite para vir a Brasília. Foi chamado para se tornar um dos instrumentistas da banda de rock Portal, e aceitou. Aqui, encontrou as pessoas vivendo a cidade, uma grande comunidade tão sonhada por Oscar Niemeyer. “(A cidade) Não tinha uma fronteira, uma divisa muito delineada. Eram pessoas, em tribo mesmo, que experimentaram a cidade enquanto espaço público. Isso é uma coisa muito importante. Não ficava uma cidade tão sitiada nos seus guetos, nos seus ‘quadrados’, que isola. As pessoas tinham a sensação de viver uma cidade comum”, comentou, em abril passado ao programa Natureza Viva, da Rádio EBC.

 

A vida na Brasília que buscava uma identidade serviu de inspiração ao poeta, que logo se instalou na redação do Correio Braziliense, ainda em 1976. Dividiu a vida de jornalista com a de artista, se envolvendo diariamente no meio cultural da cidade. Logo se tornou referência. Em 1978, coeditou e organizou suplementos e performances na Mostra do Horror Nacional, com José Mojica, Fernando Lemos, Ivan Cardoso, Elyseu Visconti e Júlio Bressane, em reação à censura no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.

 

TT Catalão também participou do clássico filme Idade da Terra, de Glauber Rocha, lançado em 1980. Em 1987, criou a política de bolsas de estudos culturais e, dois anos depois, fundou e se tornou o primeiro presidente eleito do Conselho de Cultura do Distrito Federal. Em 1993, criou e geriu o Espaço Cultural Renato Russo, na 508 Sul, pela Secretaria de Cultura. À época, mantinha as atividades do local até a meia-noite. Ele permaneceu à frente do espaço até 1997.

 

Entre os anos de 1997 e 2003, foi o editor de Pesquisa e Informação do Correio. Nesse período, trabalhou como consultor de conteúdo para o programa Cultura Ponto a Ponto, abordando sobre a cultura popular brasileira. A exibição era realizada pela TVE-Rio e pela TV Cultura-SP e, depois, acrescido para o laboratório Cultura Viva de Cinema e Vídeo com os Pontos, na Universidade Federal do Rio de Janeiro.

 

Cultura viva

 

No Governo do Distrito Federal, assumiu a chefia de gabinete da Fundação Cultural na primeira gestão pós-ditadura. Entre 2007 e 2008, tornou-se o subsecretário de Políticas Culturais e teve papel fundamental na aprovação da Proposta de Emenda à Lei Orgânica do DF, que vinculou 0,3% da Receita Corrente Líquida do Distrito Federal para o FAC (Fundo de Apoio à Cultura). Em 2010, assumiu a Secretaria de Programas e Políticas Culturais do Ministério da Cultura (MinC), auxiliando a implantação do Programa Cultura Viva como uma polícia de Estado, em 2014.

 

TT Catalão também foi colaborador do primeiro blog do Noblat, do projeto Açougue Literário T-Bone, do BraXil, da Cultura Digital, e da Revista Raiz-SP, sobre cultura popular. Durante 2003 e 2006, participou do quadro Crônicas da Cidade, aos sábados, no DFTV.

Faça como ele

 

TT Catalão criou uma das capas mais icônicas do Correio Braziliense, publicada em 23 de janeiro de 1998. Com a manchete “Faça como eles, não faça como eles”, a primeira página do jornal destacava o então governador do Distrito Federal, Cristovam Buarque, e a então deputada federal Marta Suplicy atravessando fora do equipamento de segurança instalado em via próxima ao Palácio do Buriti. O flagrante fotográfico aparecia abaixo da imagem de capa do álbum Abbey Road, dos Beatles. Dessa forma, o Correio marcava a entrada em vigor do novo Código de Trânsito Brasileiro, dois anos após campanha de paz no trânsito liderada pelo jornal. 

 

Repercussão

 

“TT Catalão chamava a atenção por sua sensibilidade, sua poesia, seu amor à cultura, a Brasília e ao Brasil. Era um desses seres iluminados, insubstituível. Perdi um amigo e uma pessoa a quem admirava muito”. - Rodrigo Rollemberg - Ex-governador do Distrito Federal

“Brasilia perde um pedaço de sua inspiração poética, de nossa criatividade no uso do idioma e de nosso estoque em simpatia tolerante”. - Cristovam Buarque - Ex-senador 

“Um belo samba diz que poeta que morre é semente. Brasília chora e lamenta a morte de TT Catalão, poeta, músico, visionário, figura marcante na cultura de Brasília, que nos deixa mais pobres, embora suas palavras – às vezes de revolta, às vezes de esperança – continuem vicejando. TT Catalão foi também servidor público, ocupando vários cargos, deixando sua marca em projetos inovadores que incentivavam a produção e difusão cultural, tanto no DF quanto em nível nacional. Carioca, encontrou em Brasília a musa inspiradora de muitas de suas poesias; brasileiro, jamais perdeu a esperança de viver num país melhor; humano, buscou sempre o melhor nas pessoas. Mas o luto pelo poeta não sufoca a poesia. Como diz um de seus mais conhecidos poemas: “Ah/ esta solidão celular/ ter tantos ao meu alcance/ e não ter com quem falar”. - Paco Britto - Governador em exercício do Distrito Federal

 

Sepultamento

O velório de TT Catalão será na manhã desta sexta-feira (3/1), às 10h, no Espaço Cultural Renato Russo, na 508 Sul. O sepultamento será a partir das 16h, no cemitério Campo da Esperança, também na Asa Sul. A família faz o convite para que todos os que forem à despedida compareçam de branco, em forma de homenagem ao poeta. 

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