Cidades

''Estou refém dessa situação'', diz jovem importunada sexualmente em ônibus

O acusado, de 41 anos, foi preso na sexta-feira (3/1) e passou por audiência de custódia, no sábado (4), quando conseguiu a liberdade. Vítima diz ter mudado a rota por medo

Correio Braziliense
postado em 06/01/2020 22:00

Ilustração: mão aperta galho de rosasVítima de uma importunação sexual e, agora, refém do medo. É assim que se sente a jovem de 22 anos abusada, na última sexta-feira (3/1), enquanto dormia em um ônibus da linha 100.2, que faz o trajeto Lago Sul/Paranoá. Em entrevista ao Correio, a mulher falou sobre o crime e sobre a sensação de constante ameaça, depois que o acusado, um homem de 41 anos, recebeu da Justiça o direito de responder ao processo em liberdade. O suspeito, que não tinha passagens pela polícia, foi preso no dia do crime e liberado no dia seguinte, em audiência de custódia.

 

"As pessoas nos estimulam a falar e, quando fazemos isso, vemos as falhas do nosso sistema. Esse homem já está solto e, agora, sou eu quem estou vivendo com medo de esbarrar com ele na rua. Só eu sei o ódio que ele demonstrou sentir por mim naquele dia. Tenho terror só de pensar em acabar vendo-o", relata a jovem, sob anonimato.

 

Por estar amedrontada, ela mudou a rotina e, inclusive, alterou o trajeto que fazia do trabalho para casa. "Não pego mais a mesma linha de ônibus. Fico pensando que ele também deve pegar o coletivo por causa do trabalho e, então, tem uma rotina parecida com a minha. O que mais me entristece é isso. Eu sou a vítima de toda a situação, mas estou vivendo como refém", lamenta. 

 

"O que mais espero é que o pior não aconteça para que ele tenha que responder pelos atos dele. Tudo o que eu passei foi horrível, sinto nojo só de recordar do que ocorreu. Quando senti as mãos dele em mim, lembrei da minha irmã de 15 anos, e senti que eu era responsável por expôr um lixo desses. A todo instante, ele desmerecia a minha palavra e dizia que, por ser homem, iriam acreditar nele. Por isso que, quando aquele homem notou que as pessoas tinham ficado do meu lado, tentou fugir", destaca a vítima.

 

A jovem conta que não se sente arrependida pela denúncia, mas que se sente desamparada pelo desfecho da prisão. "Como posso viver tranquila sabendo que meu abusador está à solta? Ele pode, sim, querer vingança e me ferir. Toda a minha rotina é pensada para evitar encontrá-lo ao acaso. Pretendo até me mudar de cidade", acrescenta. 

 

A delegada Jane Klébia, chefe da 8ª Delegacia de Polícia (Paranoá), explica que está solicitando as imagens do circuito interno do ônibus para anexar ao processo. Ela destaca que não pode solicitar uma nova prisão ao Judiciário. "O prendemos em flagrante pelo delito, mas a Justiça decide como ele responderá ao processo. Agora, se a vítima se sentir ameaçada por esse homem, ela deve procurar a delegacia de novo, abrindo um novo boletim de ocorrência", esclarece.

 

A investigadora acrescenta que o caso não acabou e que "ele responderá em liberdade, mas será indiciado na Justiça". "Se ele ameaçar a vítima e tivermos novo boletim contra o acusado, temos que acionar o juiz e informar toda a situação. Assim, o magistrado pode revogar e prendê-lo preventivamente." 

 

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