Cidades

Caso Larissa: possível feminicídio choca população da Candangolândia

A diarista Larissa Francisco Maciel, 23 anos, morreu estrangulada. E teve a roupa e partes do corpo queimadas após o crime. Corpo foi encontrado em um templo religioso da cidade

Correio Braziliense
postado em 09/01/2020 06:00
Tenda de igreja onde o corpo de Larissa estava, 
na Quadra 4 da região administrativaA morte da diarista Larissa Francisco Maciel, 23 anos, pode somar-se a uma estatística crescente no Distrito Federal: a dos feminicídios. O assassinato da jovem, encontrada em um templo religioso da Candangolândia, na manhã de segunda-feira, chocou amigos e familiares, além de moradores da região administrativa. Apesar de nenhum suspeito ter sido identificado pelos agentes da 11ª Delegacia de Polícia (Núcleo Bandeirante), os policiais acreditam que as características do crime enquadram-se nos padrões de mortes violentas de mulheres.
 
Na terça, o corpo de Larissa foi levado para Cabeceiras (MG) para ser enterrado no cemitério da cidade. Apesar de a jovem ser brasiliense, parte dos familiares dela vive no município mineiro. Em entrevista ao Correio, a mãe da vítima, de 38 anos, que preferiu não se identificar, disse que não consegue entender o que pode ter acontecido com a filha. “Estou em estado de choque. Precisei resolver toda a documentação para levar o corpo da minha filha para Minas e estou deixando tudo nas mãos da polícia. O que posso dizer é que não está fácil”, lamentou. A mulher também afirmou que não tem ideia de quem possa ter cometido o crime. “A gente, que é pai e mãe, não espera que isso possa ocorrer com os filhos, ainda mais quando são tão novos”, emocionou-se.
 
Amigos de Larissa lamentaram o assassinato. “Era uma pessoa iluminada e querida por todos. Estava sempre feliz, mesmo quando passava por algum problema”, contou um amigo, de 26 anos, que também não quis se identificar. De acordo com ele, a violência pode ter sido cometida por algum conhecido, porque a região administrativa é pequena. “Só queria que ela estivesse aqui com a gente.”
 
Na manhã desta quarta-feira (8/1), o clima próximo ao local onde o corpo de Larissa foi encontrado era de tensão. No templo religioso, ainda havia marcas de queimado no chão. Uma moradora da região, que preferiu manter a identidade em anonimato, destacou que a vizinhança ficou assustada com a violência. “Ninguém está acostumado a ver esse tipo de crime aqui. A Candangolândia é relativamente pequena, e todos acabamos nos conhecendo. Espero que a polícia pegue logo quem fez isso”, ressaltou.

Um conhecido de Larissa informou que a jovem costumava reunir-se com amigos próximo a um posto de gasolina, onde ela teria sido pela última vez. “Ali, tem muito movimento de tráfico de drogas e pessoas perigosas. Porém, ela não se envolvia com isso. Ela gostava de curtir a vida, nada além disso”, frisou.
 Larissa Francisco Maciel, pode somar-se a uma estatística crescente no Distrito Federal: a dos feminicídios
Uma outra amiga da vítima, uma manicure de 27 anos, relatou que a diarista era conhecida pelo jeito “doce e sereno de falar.” “Desde que a conheço, há mais de um ano, nunca a vi envolvida em qualquer tipo de briga. Por isso que todos nós estamos chocados com o crime. Não há nada que justifique o que fizeram com a minha amiga”, afirmou.

Aumento

A Secretaria de Segurança Pública (SSP) do Distrito Federal registrou 33 feminicídios em 2019. O número é 17% maior do que o de 2018, quando 28 casos foram tipificados como tal. Além disso, a quantidade de ocorrências do ano passado é a maior desde 2015, em que mortes de mulheres por questões de gênero passaram a ser consideradas um qualificador para o homicídio.
 
Por meio de nota oficial, a SSP salientou que, em maio do ano passado, iniciou campanha de incentivo para que a população denuncie casos de violência. A pasta acrescemtou que, em 2017, assinou contrato com uma empresa para o fornecimento de até 6 mil dispositivos de monitoração. “Desde então, as tornozeleiras eletrônicas tornaram-se uma alternativa para prevenir casos de violência doméstica e de feminicídio, além de atender a outras demandas judiciais, como medida cautelar e prisão provisória”, destacou o texto.
 
Em 2019, casos de violência contra mulheres marcaram o ano na capital. Entre eles, os feminicídios de Genir Pereira de Sousa, 47, e Letícia Sousa Curado de Melo, 26, mortas pelo cozinheiro Marinésio dos Santos Olinto, 41, em junho e agosto, respectivamente. O assassino confesso se passava por motorista de transporte pirata para atrair as vítimas. Quando elas aceitavam a corrida, ele as levava para regiões abandonadas da cidade, as matava e descartava o corpo. Além das mortes, Marinésio é investigado por abusar de outras mulheres.

Para saber mais

Reconhecido como crime hediondo desde 2015, o feminicídio consiste no assassinato de mulheres por razão de gênero. Conhecer as nuances e as características que envolvem esse tipo de violação é fundamental para ter um enfrentamento efetivo e evitar que existam novas vítimas.

Fonte: Agência Patrícia Galvão

Onde pedir ajuda

» Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência 
Presidência da República / Telefone: 180 (disque-denúncia);
 
» Centro de Atendimento à Mulher (Ceam) / De segunda a sexta-feira, das 8h às 18h / Locais: 102 Sul (Estação do Metrô), Ceilândia e Planaltina;
 
» Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam) / 
Entrequadra 204/205 Sul, Asa Sul / (61) 3207-6172;
 
» Disque 100 — Ministério dos Direitos Humanos / Telefone: 100;
 
» Programa de Prevenção à Violência Doméstica (Provid) 
da Polícia Militar / (61) 3910-1349 ou (61) 3910-1350 

Polícia busca imagens 

Imagens do circuito interno de segurança de um posto de gasolina poderão auxiliar na investigação sobre o suposto feminicídio da diarista Larissa Francisco Maciel. O diácono de uma igreja evangélica, na Quadra 4 da Candangolândia, encontrou o corpo da jovem no altar. A vítima apresentava sinais de estrangulamento, além de ter as roupas e a genitália queimadas. A 11ª Delegacia de Polícia (Núcleo Bandeirante) investiga o caso e tenta identificar com quem a mulher esteve antes de ser assassinada.

Testemunhas relatam que Larissa chegou à conveniência do posto de gasolina, na Quadra 5, por volta da 0h de segunda. Ela encontrou-se com sete pessoas no local, onde bebeu e dançou. De madrugada, chegou a passar em casa, na Quadra 2 da cidade, para trocar a blusa.

Larissa voltou para beber no posto e, no início da manhã, às 5h, saiu acompanhada do grupo, em um carro. O que aconteceu até ela ser encontrada morta, às 8h40, ainda é apurado. A 11ª DP pede para que quem tiver qualquer informação acerca do caso informe aos agentes na unidade policial ou por meio de denúncia anônima pelo telefone 197. 

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