Cidades

Proposta de auxílio financeiro de R$ 816 a famílias vulneráveis avança

Governador Ibaneis Rocha (MDB) enviou ontem à Câmara Legislativa projeto de lei que prevê pagamento de duas parcelas de R$ 408 para pessoas em situação de vulnerabilidade. Medida deve atender 28 mil famílias com renda mensal per capita de até R$ 522,50

Correio Braziliense
postado em 09/04/2020 06:00
Para Gerlinei dos Santos, pessoas mais pobres sofrem mais com os impactos econômicos provocados pela pandemiaPessoas em situação de vulnerabilidade no Distrito Federal devem contar, em breve, com um auxílio financeiro emergencial para enfrentar o momento de crise econômica provocado pela pandemia do novo coronavírus. Conforme antecipou ao Correio em entrevista na sexta-feira, o governador Ibaneis Rocha (MDB) enviou ontem à Câmara Legislativa um projeto de lei que prevê a criação do Programa Renda Mínima Temporária. A expectativa é de que a medida contemple 28 mil famílias não atendidas por outras iniciativas de transferência de renda, como Benefício de Prestação Continuada (BPC) ou Bolsa Família.

Se aprovado, o programa do Executivo local atenderá quem tem renda mensal per capita de até meio salário-mínimo (R$ 522,50). Os valores serão pagos em duas parcelas de R$ 408, durante os dois meses de programa, com possibilidade de prorrogação para três. A Secretaria de Desenvolvimento Social prevê investimento de R$ 12,2 milhões por mês. O Banco de Brasília (BRB) fornecerá um cartão para os beneficiários, mas a quantia também poderá ser entregue em dinheiro. As frações do auxílio serão entregues preferencialmente às mulheres. Pessoas que receberão os R$ 600 do Governo Federal não serão contempladas pelo programa do DF. Ainda não há definição quanto ao processo de cadastramento.

Ainda, às 17h35 de ontem, o DF registrou 511 confirmações de contaminação pelo novo coronavírus. Desse total, 12 morreram e 148 se recuperaram. Até o fechamento desta edição, 65 pacientes estavam internados em hospitais, sendo 17 em estado grave, de acordo com a Secretaria de Saúde. Uma dessas pessoas é a advogada de 52 anos que foi a primeira a testar positivo para a Covid-19 na capital federal. Ontem, ela teve leve melhora do quadro, mas permanece na unidade de terapia intensiva (UTI) do Hospital Regional da Asa Norte (Hran).

Economia


A disseminação do coronavírus no DF tem aumentado dia a dia. Enquanto o Executivo local estabelece medidas para evitar aglomerações e intensificar o distanciamento social, como forma de mitigar as consequências da doença, muitos brasilienses . Em diferentes partes da capital federal, é possível encontrar pessoas que não têm tomado os devidos cuidados.

A preocupação de especialistas na área de saúde diz respeito, principalmente, à questão da sobrecarga do sistema, o que resultaria na falta de leitos para atendimento de casos novos e para recebimento de pacientes com outras enfermidades. De 20 de março até terça-feira, a Secretaria de Proteção da Ordem Urbanística (DF Legal) recebeu 4.805 denúncias sobre locais abertos sem autorização (leia Funcionamento). A multa para estabelecimentos que descumprirem os decretos publicados pelo Executivo local vai de R$ 3,6 mil a R$ 24 mil.

Para alguns que continuam a sair de casa, o cenário econômico é motivo de inquietude e justifica a desatenção às medidas de isolamento social. Caminhoneiro, Gerlinei Batista dos Santos, 36 anos, saiu de Itamaraju (BA) para morar no DF há oito meses. Desempregado, ele acredita que o isolamento prejudica pessoas mais pobres. “O pessoal vai adoecer cada vez mais. E como vamos ficar em quarentena? O preço das coisas subiu. Pacote de arroz, ovo, tudo está caro. Não estou trabalhando por falta de oportunidade, e tem gente que vai passar fome mesmo com o auxílio do governo”, lamenta.

Professor de economia do Ibmec São Paulo, João Ricardo Costa Filho afirma que é imprescindível que o Estado crie medidas de auxílio para chegar rapidamente às pessoas mais vulneráveis. “Se conseguirmos fazer com que elas tenham essa rede de proteção, podemos ir desligando a economia nos setores que não são essenciais, para que a doença não se espalhe. Portanto, conseguiremos atingir dois objetivos: tanto os de saúde pública, para não sobrecarregar o sistema, quanto os econômicos-sociais”, pontua.

Agravamento


Até ontem, o Distrito Federal figurava em primeiro lugar entre as unidades da Federação com o maior número de casos para cada grupo de 100 mil habitantes. No entanto, após um salto no número de registros, o Amazonas ultrapassou a capital federal, que caiu para a segunda posição. Enquanto o DF tem coeficiente de incidência de 16,7, o estado amazonense chegou a 19,1. Nesta semana, a Prefeitura de Manaus reconheceu a possibilidade de colapso na rede hospitalar.

Médico infectologista e presidente do Comitê para Enfrentamento ao Coronavírus da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Bernardino Albuquerque comenta que, apesar das diferenças entre as regiões, é preciso que as secretarias de saúde façam uma leitura da realidade epidemiológica de cada local. “A situação no estado está muito preocupante em função do número de casos e de óbitos. Além disso, há uma possibilidade de disseminação muito mais expressiva. É preciso que haja acompanhamento, fiscalização. O que temos visto é exatamente a população nas ruas, principalmente nas áreas mais periféricas”, observa.

Para evitar o agravamento da situação no DF, Roberto José Bittencourt, médico com pós-doutorado em saúde pública e professor do curso de medicina da Universidade Católica de Brasília (UCB), destaca a importância da testagem e do mapeamento dos pacientes que estiverem com a Covid-19. Ainda, ele considera que os 511 casos do Distrito Federal são apenas a “ponta do iceberg”. “É necessário fazer a testagem mais ampla possível. Não precisa ser de toda a população do DF. Pode-se fazê-la em camadas. Primeiramente, com os infectados, rastreando toda a rede de contato deles. Depois, com os profissionais de saúde, que precisam testar a cada cinco dias, pois é o tempo médio de incubação do vírus. Identificando, isola-se o paciente”, sugere.

Após traçar a linha de base, as próximas levas de testagem seriam para saber como está a evolução dos casos e quais regiões são o “elo frágil do cordão de isolamento”. Roberto José lembra que a falta de confirmação dos casos implica em subnotificação e que, para se ter uma estimativa próxima do número real, seria preciso multiplicar o total atual por sete ou 10. Por isso, defende o médico, o investimento deve ser direcionado ao rastreamento das notificações confirmadas.

“Será que, dessa população de cerca de 5.110 pessoas não daria para saber onde estão, com quem moram, a quais igrejas ou festas foram?”, questiona. “Se fizermos uma testagem vigorosa, poderemos flexibilizar (as restrições). Poderemos planejar o sistema de saúde e a saída do isolamento social. Dá para sair, mas tem de ser planejado. Não dá para ser da forma que se tem feito: um dia flexibiliza, no outro fecha. Isso não é planejamento, é flutuar de acordo com a pressão política”, criticou.

Funcionamento


Saiba o que pode ou não funcionar no DF após os decretos publicados pelo Executivo:

O que abre?

» Serviços e produtos de saúde (clínicas, consultórios, laboratórios e farmácias)
» Clínicas veterinárias (somente para atendimentos de urgência)
» Estabelecimentos de venda de produtos alimentícios (vedado o consumo no local)
» Lojas de materiais para construção e produtos para casa
» Postos de combustíveis
» Lojas de conveniência e minimercados em postos de combustíveis (proibido o consumo no local)
» Pet shops e lojas de medicamentos veterinários ou produtos saneantes domissanitários
» Comércios do segmento de veículos automotores
» Empresas de tecnologia (exceto lojas de equipamentos e suprimentos)
» Empresas que firmarem instrumentos de cooperação com o GDF no enfrentamento à emergência de saúde referente ao coronavírus ou à dengue
» Funerárias e serviços relacionados
» Lotéricas e correspondentes bancários 
» Lavanderias (só para entrega em domicílio)
» Floricultura (idem)
» Empresas do segmento de controle de vetores e pragas urbanas

O que fecha?

» Escolas públicas e privadas, creches, faculdades e universidades (até 31 de maio)
» Festas, shows, eventos esportivos ou reuniões de qualquer natureza, que exijam licença do Poder Público
» Cinemas e teatros
» Academias de esporte de todas as modalidades
» Museus, zoológico, parques ecológicos, recreativos, urbanos, vivenciais e afins
» Boates e casas noturnas
» Shopping centers e clubes recreativos
» Feiras permanentes (apenas para comercialização de gêneros alimentícios para humanos ou animais)
» Cultos, missas e rituais de qualquer credo ou religião
» Salões de beleza, barbearias, esmalterias e centros estéticos
» Estabelecimentos comerciais de qualquer natureza (bares, restaurantes, lojas, quiosques, food trucks e trailers)


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