Cidades

Confinados e estressados: índice de brigas de casais aumenta na pandemia

Relatos na internet aumentaram 431% desde o início do isolamento e especialistas dão dicas de como lidar com as dificuldades

Correio Braziliense
postado em 24/06/2020 15:50

Dificuldade em lidar com as diferenças é uma das causas do aumento das brigas durante confinamentoO confinamento modificou as relações entre as pessoas e com os casais não tem sido diferente. Enquanto alguns vivem uma verdadeira lua de mel, outros reclamam que a quarentena acaba com a paixão. Sem poder sair de casa e estressados, os casais têm brigado mais no país. Segundo o levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública em parceria com a empresa de pesquisas Decode Pulse, os relatos sobre brigas de casais na internet aumentaram 431% desde o início do isolamento social.

 

Segundo o psiquiatra Luan Diego Marques, o aumento do índice de atritos ocorre principalmente no caso de casais que têm dificuldades em lidar com os conflitos e imperfeições do outro. “A pandemia escancara alguns sentimentos que os casais guardavam e as brigas aumentam. Costumam ser coisas que sempre incomodaram e, ao passarem mais tempo juntos, o incômodo aumenta”, diz.

 

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Mas como desanuviar a cabeça das brigas sem poder sair por aí com os amigos? De acordo com o psiquiatra Luan, fugir do conflito não é a melhor alternativa. É importante que, ao procurar distrações, os envolvidos no relacionamento busquem a individualidade, se conectar com algo que gostem. “Extravasar significa se conectar a si mesmo, ao próprio espaço. Quando falamos que o casal é uma unidade, é preciso entender que há o eixo da unidade e, dentro dele, há os indivíduos, que possuem demandas. Perceber isso é importante até para fortalecer o casal”, diz.

 

De acordo com o psiquiatra, o período exige ainda mais sensatez e maturidade nas discussões de relacionamento. “A palavra diálogo sempre foi necessária, e se o casal não viver isso durante o confinamento, vai haver brigas, sensações de angústia, ansiedade, insônia e questionamentos se o relacionamento vale a pena”, explica. Para resolver a situação, é preciso cuidado e prudência: “O aspecto do cuidar significa permitir, entender essa emoção de angústia e construir o melhor momento e situação para comunicar isso ao outro”, afirma Luan.

 

Entre as soluções que os casais podem adotar, Luan sugere a boa comunicação. “Quando estamos chateados, podemos comunicar o que sentimos de maneira hostil. É bom delimitar o melhor momento para conversas. Se perceber que vai falar deixando se levar pelas emoções, é bom esperar para que ocorra um bom diálogo", diz. Para casais que estão juntos, a sugestão é a parceria e gerenciamento do relacionamento como um time. “Questionem um ao outro como tem sido passar a quarentena juntos. E tentem se preparar para a hora que o outro for dizer o que não gosta e não agrada para lidar bem com a sinceridade e opinião do outro”, afirma.

 

Juntos há quatro anos, o casal Helzir Ramon de Mendonça, 30, e Rayssa Hennely Brito de Oliveira, 22 optaram pela conversa para resolver momentos de conflitoA conversa foi a prática adotada pelo analista psicossocial Helzir Ramon de Mendonça, 30 anos, e a auxiliar administrativa Rayssa Hennely Brito de Oliveira, 22. Junto há quatro anos, o casal conta que precisou adaptar a rotina e as tarefas durante a quarentena. Um dos exercícios para viver o momento bem é a ajuda mútua. “Não significa que ambos precisam fazer tudo junto, mas buscar que nenhum dos dois se sobrecarregue. É saber respeitar o espaço um do outro, sem gerar a sensação de solidão ou ausência do companheiro”, compartilha Rayssa.

 

Segundo o casal, o confinamento tem ajudado a intimidade. “Fora a lua de mel, nunca tivemos um período de tempo tão juntos. Isso nos trouxe um conhecimento maior um do outro, algo que implica conhecer defeitos e qualidades do cônjuge. O principal aprendizado é conhecer qualidades e defeitos de si mesmo”, afirma Helzir. Em caso de brigas, o casal diz que busca se apoiar na conversa. “O ideal é que estejamos em um momento em que ambos estão de cabeças frias, tentando sempre ajustar o que precisa ser ajustado”, completa o analista psicossocial.

À distância

Em meio à pandemia, o  casal de estudantes universitários Rebeca Guimarães Pereira, 22, e Michel Galeno Lenes Santana, 22 lidam com o distanciamento e buscam manter a sinceridade para manter  namoro saudávelEnquanto alguns que estão juntos gostariam de estar distantes, outros que estão longe desejam todos os dias estar pertinho de quem ama. É o caso do casal de estudantes universitários Rebeca Guimarães Pereira, 22, e Michel Galeno Lenes Santana, 22. Juntos há um ano e cinco meses, eles contam que optaram pela segurança das famílias e têm evitado se encontrar, uma vez que não moram juntos.

 

Para evitar que a distância abale o relacionamento, o casal reforçou a sinceridade um com o outro. “É importante deixar claro quando algo está incomodando, mas também tentar entender o outro, ter compreensão e lembrar que as lutas e vitórias do relacionamento são do casal, e não individuais”, diz Rebeca.

 

Em caso de desentendimentos, a alternativa adotada pelo casal também é a conversa: “Buscamos expor o que estamos sentindo, ou como nos sentimos com determinadas atitudes do outro para se chegar num entendimento”, afirma Michel. De acordo com o estudante, o momento exige compreensão de ambas as partes. ”É preciso entender as limitações da comunicação pelo celular, pois é fácil entender ou interpretar mal alguma mensagem, principalmente por escrito”, completa o estudante.

 

Para casais que não moram juntos e não conseguem se ver, o terapeuta Fabrício Nogueira diz que os possíveis apoios a serem utilizados são as ferramentas tecnológicas. “É um tempo que eu posso ajustar o meu relacionamento falando de mim, dizendo como foi meu dia de trabalho, como me senti, como sinto saudades e como o outro é importante pra mim. É um meio que temos para alimentar os bons sentimentos, as boas sensações”, afirma.

 

No caso de brigas, Fabrício diz que o segredo para uma boa conversa é falar segundo a própria percepção e sensação. “Eu posso apontar o que me incomodou no outro, sem acusar as suas intenções, pois isso entra no campo do julgamento e não estamos aqui para fazer isso. Por isso as pessoas se chateiam, gritam e agridem umas às outras. Pois tentamos adivinhar o que passa na cabeça do outro, e acabamos acusando”, ressalta. “Isso abre um campo de diálogo. E ambas as pessoas falando de si, vão chegar a um denominador comum”, reforça o especialista.

 

* Estagiária sob supervisão de Mariana Niederauer 

 

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  • O casal Helzir Ramon de Mendonça, 30, e Rayssa Hennely Brito de Oliveira, 22
    O casal Helzir Ramon de Mendonça, 30, e Rayssa Hennely Brito de Oliveira, 22 Foto: Arquivo Pessoal
  • O casal de estudantes universitários Rebeca Guimarães Pereira, 22, e Michel Galeno Lenes Santana, 22
    O casal de estudantes universitários Rebeca Guimarães Pereira, 22, e Michel Galeno Lenes Santana, 22 Foto: Arquivo Pessoal

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