Correio Braziliense
postado em 30/06/2020 18:45
O Coletivo de pais e mães em defesa do Centro de Ensino Fundamental 410 Norte pede a divulgação do resultado das investigações sobre o envenenamento do professor e ex-diretor da instituição, Odailton Charles de Albuquerque Silva, de 50 anos. Cerca de 70 integrantes do grupo assinaram um nota oficial, em que pedem transparência quanto às circunstâncias por trás da morte do educador. A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) consideravam duas hipóteses: homicídio ou suicídio. No texto, os pais de alunos da escola destacam que acompanham o caso desde o início, em 30 de janeiro. Nesse dia, Odailton Charles esteve CEF 410 Norte para repassar informações sobre a gestão dele como diretor para a nova chapa. No local, passou mal e precisou ser socorrido Hospital Regional da Asa Norte (Hran). Ele chegou a enviar áudios para outros professores, afirmando que tinha sido envenenado por uma colega de trabalho, após supostamente ingerir um suco de uva.
Após quase uma semana internado, o ex-diretor morreu no Hran, em 4 de fevereiro. O inquérito era apurado pela 2ª Delegacia de Polícia (Asa Norte), na supervisão do delegado-chefe da unidade à época, Laércio Rossetto. Quando o investigador assumiu como titular da Coordenação de Repressão a Homicídios e de Proteção à Pessoa (CHPP), o caso também foi encaminhado para a especializada.
Saiba Mais
Por causa da restrição, o coletivo emitiu uma nota aberta sobre o assunto. “Tomamos conhecimento que as investigações da polícia sobre o caso estariam concluídas e o processo poderia entrar em segredo de justiça, tirando da comunidade escolar essa importante informação. Entendemos que o resultado deve ser aberto para que tenhamos conhecimento sobre a conclusão do caso”, explica o texto.
“Muita apreensão e dúvidas foram geradas aos servidores, professores, estudantes, além dos pais e mães desde a ocorrência do fato. (...) A comunidade escolar precisa saber o resultado das investigações”, finaliza o material.
Caso elucidado
Em cerca de cinco meses, a Polícia Civil realizou um extenso trabalho para montar o quebra-cabeça e, assim, elucidar como o professor Odailton Charles morreu. Peritos da corporação já tinham confirmado o envenenamento pela substância proibida aldicarbe, encontrada em raticidas, como o chumbinho. No entanto, ainda não tinha sido possível comprovar se ele tomou o químico por vontade própria ou ao ser enganado.
À época confirmação de um possível assassinato não ocorreu porque especialistas dos institutos de Medicina Legal (IML) e de Criminalística (IC) não encontraram vestígios de suco de uva nas roupas do educador. Em áudio, ele afirmou que tinha sido envenenado após tomar a bebida oferecida por uma amiga, assim como explicou que iria denunciar um suposto esquema de corrupção da escola.
Sem testemunhas que afirmassem ter visto o professor ingerir o suco de uva, os policiais solicitaram ao menos sete laudos minuciosos para conseguir concluir a investigação e, assim, confirmar se Odailton Charles tirou a própria vida ou foi vítima de homicídio. Segundo o delegado Laércio Rossetto, chefe da CHPP, o caso “está totalmente esclarecido e não restam dúvidas quanto ao que ocorreu. No entanto, só poderemos informar a conclusão da investigação se a Justiça decidir não colocar o processo em sigilo.”
Para chegar a conclusão, foram solicitados os seguintes laudos: reprodução simulada (do dia do envenenamento, com a presença de todos os presentes no dia); cadavérico (para confirmar a causa da morte); perícia criminal em veículo (identificar possíveis resquícios do agrotóxico proibido); toxicológico (comprovar a ingestão do veneno); informática (avaliar o conteúdo dos computadores de todos os envolvidos no inquérito); situação de dados de telefonia celular (também para identificar as pesquisas realizadas pelos envolvidos, assim como para verificar a autenticidade dos áudios enviados pelo educador); e autópsia psicológica (para analisar o perfil do professor).
Só com as provas periciais e com os levantamentos realizados pelos policiais civis é que determinou-se como o professor morreu. Apesar de a corporação ter a resposta do caso que chocou a capital federal e o país, não é possível realizar a divulgação do resultado por causa do pedido de sigilo protocolado no TJDFT.
O inquérito foi concluído e relatado pela autoridade policial (o delegado responsável pelo caso, Laércio Rossetto), e está sendo submetido a análise do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT). O órgão decidirá se encaminhará a denúncia à Justiça, que fica responsável tanto pelos trâmites legais, como pela decisão de o processo correr ou não sob sigilo.
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