Tainá Seixas
postado em 20/07/2020 06:00

Apesar da comoção, a quantidade de capturas de cobras que aparecem em residências no DF diminuiu no acumulado do ano, em comparação com 2019. Desde janeiro, o Batalhão de Polícia Militar Ambiental (BPMA) resgatou 239 cobras. No mesmo período do ano passado, foram 267 ofídios.
[SAIBAMAIS]Na semana passada, Yara Ballarini, 30, avistou uma jararaca dentro do galinheiro de sua casa, no Córrego do Urubu, no Varjão. De acordo com a empresária, é comum o surgimento de serpentes no local, devido à região onde mora. Para evitar que cobras e outros bichos entrem na residência, ela fez adaptações ; colocou forro e rodapé nas portas. ;Eu tenho medo, mas prefiro deixá-las no canto delas, porque acho que a gente que está invadindo o ambiente desses animais;, avalia Yara.
Bernardo Prieto, 35 anos, também se deparou com cobras em casa, no Jardim Botânico. Ao chegar na residência, ele encontrou uma serpente na piscina. ;Eu peguei um gancho, retirei e soltei no mato;, conta o empresário. Fazer capturas desses animais por conta própria, no entanto, é altamente desaconselhável pela Polícia Militar Ambiental, responsável por efetuar os resgates.
Ligue 190
A orientação da polícia é de que a pessoa, ao avistar uma cobra ou outros animais silvestres e exóticos dentro de casa, chame, imediatamente, o Batalhão da Polícia Militar Ambiental (BPMA) pelo telefone 190.
Apesar de as cobras, normalmente, aparecerem em residências no período chuvoso, buscando refúgio, a cabo Fernanda Echamende do BPMA assegura que a corporação atende a muitas chamadas durante a seca. ;Todo dia recebemos ligações para captura de cobras. Geralmente, são cobras nativas do Cerrado e que aparecem em locais onde tem campos próximos, como setores de chácaras;, explica.
Após a captura das serpentes, o BPMA as devolvem à natureza, caso sejam de espécies nativas da região e estejam em boas condições de saúde. Se não estiverem sadias, as cobras são encaminhadas ao Centro de Triagem e Reabilitação de Animais (Cetas-DF), do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Uma vez recuperadas, o instituto retorna o animal ao habitat deles.
No ano passado, foram 611 cobras resgatadas pelo BPMA. A espécie mais frequente é a jiboia, que não é peçonhenta. A cascavel, também, aparece bastante, no Distrito Federal, e possui um perigoso veneno, capaz de matar uma pessoa. Bernardo relata que perdeu um primo, há cinco anos, devido à picada de uma cascavel. O rapaz, à época com 28 anos, pedalava na QI 27 do Lago Sul quando foi picado pela obra. Voltou a pedalar, à procura de socorro, o que fez o veneno se espalhar pelo corpo. Ele faleceu dois dias depois.
Caso de polícia
Se a cobra for exótica ; de fora do Brasil ;, o caso pode ser investigado pela Polícia Civil, como ocorreu com Pedro Henrique Lemkuhl. Em situações como essas, é feita uma apuração para descobrir como o animal chegou ao país. O Ibama fiscaliza os locais de cativeiro, aplica multas e presta os devidos cuidados veterinários. Parte das serpentes resgatadas está, atualmente, em quarentena, no Zoológico de Brasília. A jiboia entregue, ontem, no Gama, está com o Ibama. O órgão busca instituições habilitadas para a custódia da cobra.
- Memória
Suspeita de tráfico
O estudante de medicina veterinária Pedro Henrique Lemkuhl foi picado por uma cobra naja, em 7 de julho. O rapaz é investigado por participação em esquema de tráfico de animais. Há, também, a suspeita de promoção de pesquisas clandestinas com animais exóticos. Em 10 de julho, três amigos do estudante prestaram depoimentos, incluindo o rapaz que soltou a naja perto do Shopping Pier 21. Na última quinta-feira, a mãe e o padrasto do rapaz compareceram à 14; DP.
Pedro deve prestar depoimentos quando receber liberação médica. Ele, atualmente, está em casa, após seis dias de internação hospitalar devido ao veneno da naja. A família e o jovem foram multados em R$ 78 mil, por maus-tratos e por manter serpentes nativas e exóticas em cativeiro sem autorização.
Na sexta-feira, o Ibama afastou um servidor do Centro de Triagem e Reabilitação de Animais Silvestres (Cetas) do órgão por suposta participação no caso do jovem picado por uma naja. Segundo o órgão, foi aberto um processo administrativo disciplinar interno para apurar se o funcionário está envolvido. - Linha do tempo
8 de julho
A cobra naja, da espécie kaouthia, originária dos continentes asiático e africano, foi capturada próxima ao Shopping Pier 21, após ser solta no local por um amigo de Pedro, e encaminhada ao Zoológico.
Dia 9
O BPMA resgatou 16 cobras em um haras, em Planaltina (DF), onde eram mantidas inadequadamente. Dessas, 10 eram de origem norte-americana e seis nativas da Amazônia e Cerrado. O dono do espaço foi multado, em R$ 68 mil, pelo Ibama por maus-tratos, manter animais nativos e exóticos sem autorização e dificultar a ação dos fiscais. Este caso tem ligação com Pedro Henrique, que, também, é investigado pelas 16 cobras, assim como sua mãe, padrasto e amigo.
Dia 10
O Ibama, em ação conjunta com a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), resgatou seis serpentes em Vicente Pires: duas jiboias arco-íris da Caatinga, duas da espécie píton (Ásia) e duas jiboias de Madagascar (África). O proprietário do local foi multado, por maus-tratos e por manter as serpentes ilegalmente, em R$ 39 mil. No estabelecimento, também, foram encontrados três tubarões bambu, originários da Oceania, um lagarto teiú e um peixe moreia. O Ibama aguarda a documentação dos animais. No mesmo dia, o instituto recebeu, voluntariamente, uma cobra jararacuçu, da Mata Atlântica, e uma víbora-verde-de-vogel (Ásia), de um homem que as mantinha em casa. Todas as cobras foram encaminhadas ao Zoológico.
Dia 11
Seguindo pistas do caso da naja, o Ibama e a polícia foram à residência do pai do amigo de Pedro Henrique, onde resgataram uma jiboia arco-íris. O homem foi multado em R$ 33,5 mil. No mesmo dia, outra entrega voluntária de duas jiboias arco-íris, duas cobras rat snakes (norte-americanas) e um lagarto gecko foi feita ao Ibama. As jiboias serão devolvidas à natureza e os demais animais seguem em guarda provisória do órgão.
Dia 14
Moradora de Samambaia telefonou para o Ibama relatando criar uma jiboia em casa. O instituto buscou o animal e a mulher não foi multada, por ter entregue o animal voluntariamente. Em ação conjunta entre Ibama e Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos do Distrito Federal (Ibram), foram resgatadas uma jiboia, um jabuti e um tigre d;água, em Sobradinho. O responsável foi multado pelo órgão.
Dia 19
Uma jiboia de espécie boa constrictor foi entregue, voluntariamente, na 14; Delegacia de Polícia (Gama). O dono da serpente não foi responsabilizado e o animal ficará sob guarda provisória do Ibama até ter um novo destino.