Cidades

Servidora do Ibama nega ligação com caso da naja: "Não fiz nada errado"

O Correio conversou com Adriana da Silva Mascarenhas, que refuta as acusações. A funcionária do Ibama é suspeita de ligação com o caso da naja que picou o estudante de veterinária Pedro Henrique

Correio Braziliense
postado em 28/07/2020 06:00
Adriana Mascarenhas assinou a licença que autorizava a captura, a coleta e o transporte da naja“Não fiz nada de errado”, declarou Adriana da Silva Mascarenhas, servidora do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) afastada, provisoriamente, do cargo de coordenadora do Centro de Triagem e Reabilitação de Animais Silvestres (Cetas), por suposto envolvimento em tráfico de animais. Em documento obtido pelo Correio, com exclusividade, consta que Adriana autorizou, em 12 de fevereiro de 2019, a entrega de uma cobra jiboia-arco-íris a Gabriel Ribeiro de Moura, de 24 anos, amigo de Pedro Henrique Santos Krambeck Lehmkuhl, 22, o jovem picado por uma naja.

Em entrevista ao Correio, a servidora afirmou que conhecia Gabriel — preso temporariamente por ocultar diligências —, pois o estudante de medicina veterinária costumava ir ao Cetas com residentes do Hospital Universitário de Brasília (HUB). “Por eu ter concedido a licença, isso não significa que eu esteja envolvida em um esquema de tráfico internacional de animais exóticos. O que eu fiz não é irregular, pois não foi uma destinação final, mas, sim, temporária”, destacou.

O modelo de licença do Cetas segue as recomendações das Divisões Técnico-ambientais (Ditec). É comum, por exemplo, expedições de licenças para o transporte de animais silvestres, que necessitam de atendimento veterinário externo; deslocamento entre unidades do Ibama; e para a destinação final, seja até a soltura no ambiente natural ou para um cativeiro legalmente admitido. Entre os locais aptos a receberem esses animais estão o Zoológico de Brasília e hospitais veterinários. Fora isso, é vedada a autorização de licença para outros meios.

No caso da servidora, o Ibama considerou que, além de violar gravemente a legislação de regência, ela demonstra a intenção em conceder o documento infringindo a norma legal, uma vez que, “à época dos fatos, era responsável pelo Cetas, possuindo larga experiência da função”. “Dentro do Cetas tem muitos animais. Chega bicho toda hora, então tem que alimentar, dar banho de sol. Fiz isso por uma questão de humanização”, argumentou Adriana.

Conhecidos


A funcionária alega que a atividade está prevista na Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) n° 547/2013. Contudo, segundo o documento, só é autorizada licença provisória quando regulamentada internamente pelo Termo de Guarda de Animais Silvestres (Tgas). Adriana teria concedido, ainda, permissão de entrega de quatro serpentes, da espécie corn snake, dos Estados Unidos, para um outro amigo de Pedro Henrique. As licenças foram emitidas em 13 de fevereiro de 2018 e em 19 de fevereiro de 2019, respectivamente.

Segundo investigações, Adriana teria beneficiado pessoas próximas, como a manicure, que recebeu um mico-estrela, e a amiga do namorado, que conseguiu a autorização para criar dois papagaios. “O mico, por exemplo, era cego e ficava em uma gaiola sozinho, jogado em um canto. Os papagaios ficavam apanhando dos outros por serem bobos; e as cobras, eu liberei porque quem me procurou eram estudantes de medicina veterinária. Não doei esses animais. Simplesmente, entreguei por um tempo, enquanto não achávamos uma melhor destinação”, disse.

Um outro servidor do Ibama, afastado em 17 de julho, também era lotado no Cetas. O Correio apurou que ele liberou duas cobras de espécie corn snake, dos Estados Unidos, para um homem.
Pedro Henrique Santos Krambeck Lehmkuhl deverá prestar depoimento à polícia em agosto. Ele foi picado por uma naja kaouthia, em 7 de julho, e está sendo investigado por integrar um esquema de tráfico internacional de animais exóticos e silvestres.

Memória

Intenção de fuga

Gabriel Ribeiro de Moura, 24 anos, teve a prisão temporária prorrogada por mais cinco dias, no domingo. A decisão foi concedida pela Justiça após pedido do delegado responsável pelo caso, William Ricardo, da 14ª Delegacia de Polícia (Gama). Em depoimento, uma testemunha informou à Polícia Civil sobre a intenção de Gabriel Ribeiro fugir do Distrito Federal com as 16 serpentes capturadas pela polícia no Núcleo Rural de Planaltina. Ele foi o responsável por esconder a naja perto do shopping Píer 21, após o incidente com Pedro Lehmkuhl. 

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