Cidades

Protetores de animais estão à beira do colapso por falta de doações

Além da queda nas arrecadações, animais estão sendo devolvidos e abandonados

Correio Braziliense
postado em 03/08/2020 18:17
Cadela resgatada  durante a pandemiaResponsáveis por Associações e abrigos de proteção aos animais falam em colapso por conta da redução das doações no período de pandemia. Além dos doadores terem sumido, muitas devoluções de animais resgatados têm acontecido porque as pessoas adotam um pet e se arrependem e acabam rejeitando o animal. 

A idealizadora do Projeto Acalanto/DF, Lucimar Aparecida, 47 anos, que cuida de aproximadamente 800 animais no Distrito Federal, relata que nos meses de junho e de julho as despesas com veterinários não foram pagas e as doações não cobriram os gastos com ração. “Estamos para entrar em colapso. As pessoas estão deixando de ajudar. Nós somos um grupo de protetoras independentes. Os animais que cruzam nosso caminho, nós resgatamos e levamos para nossas próprias casas. Existem protetoras independentes que não têm o que comer em casa.” 

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O grupo composto por, ao menos, 34 protetores precisa de quase duas toneladas de ração por mês apenas para os cachorros, e praticamente a mesma quantidade em ração para gatos. Os voluntários acolhem os animais em casa e, caso o projeto não consiga a doação da ração, os próprios protetores pagam pela alimentação e demais cuidados dos animais. 

A professora Mônica Cristina, 50 anos, é uma voluntária no projeto. Ela mora em Sobradinho e diz que a falta das feiras de adoção tem dificultado ainda mais um trabalho que já costuma ser dispendioso. “Tenho muitos bichinhos resgatados precisando de lares e, enquanto não podemos fazer feira de adoção, esses cães estão crescendo em um hotel onde eu pago para cuidar deles. Nós precisamos de ajuda, seja de ração, medicamentos, tapetes higiênicos, produtos para limpeza, dinheiro para castração. E sem as feiras os animais vão crescer o que dificulta a adoção e as necessidades vão se acumular”, diz.
 
A protetora Luciana Pereira possui dezenas de animais no abrigo que ela fez em casa. Ela lembra que todo tipo de doação pode ajudar, até itens que poderiam ir parar no lixo, mas nada se mostra mais urgente que a alimentação. “A gente pede doação de ração ainda durante a pandemia. Eles comem duas vezes ao dia. Nós estamos aqui no santuário com 64 gatos, 19 cães fora os roedores e coelhos. Se você puder ajudar vai trazer qualidade de vida para eles. Doe pra gente tudo aquilo que pra você não tem serventia. Pode ser um brinquedo, um acessório PET que você não usa mais, eles gostam de brincar. Mas nós pedimos, principalmente, eles pedem: não deixem nossos pratos ficarem vazios. Doem ração”, disse Luciana.

A queda nas doações fez com que o Grupo Resgate Noroeste, que acolhe animais abandonados na região Noroeste da capital federal, realizasse rifas e criasse outras estratégias de arrecadação. Antes, um bazar realizado de três em três meses ajudava nas despesas mas, com a pandemia, tudo parou. A coordenadora do grupo, Stephanie Cunha, diz ainda que outro problema é a devolução dos animais acolhidos. 

A cadelinha Carol foi acolhida pelo Grupo de Resgate. Ela foi encontrada junto com cinco filhotes e a mãe no meio do mato, num terreno no Noroeste, no início da pandemia. Os sete cachorros vira-latas foram cuidados, vacinados, ganharam peso e foram postos para adoção através das redes sociais. Carol, 2 meses, teve a sorte de ganhar um lar, mas pouco depois voltou para o abrigo. “A dona disse que devolveu porque voltou ao trabalho e não podia mais cuidar. E isso tá acontecendo com outras protetoras”, disse Stephanie ao Correio

No período da pandemia, 18 animais foram recolhidos na região de atuação do Grupo e, segundo a coordenadora, cada acolhimento custa,, em média R$ 1 mil, já que todos os animais passam por avaliação médica e muitas vezes precisam de medicamentos. Atualmente o grupo está com 17 animais resgatados, o que demanda, em média, meia tonelada de ração por mês, já que parte da doação é entregue às famílias carentes do Noroeste para que elas também possam alimentar seus animais.  

Stephanie Cunha também usa a palavra colapso para definir a situação das associações no período de pandemia. “Estamos à beira de um colapso, se não tivermos ajuda (falo de um modo geral, todos os grupos, abrigos e protetores) os resgates vão parar e os cães ficarão sem ajuda. Inclusive os já resgatados, que precisam de ração, cuidados de higiene, vacinas, medicação. A situação é crítica mesmo”, frisou. 

Na Associação Toca Segura a situação não é diferente. O Grupo cuida de 200 cães adultos e gasta, em média, R$ 8 mil por mês com alimentação e medicamentos para os animais. Parte do trabalho do grupo é cuidar também dos animais que permanecem nas ruas, especialmente próximo à feira do produtor em Ceilândia. A coordenadora da Associação, Monique Pires, 31 anos, explicou:  “A gente começou essa ação em 1º de março. Castramos e alimentamos os animais da feira do produtor. São 100 kg de ração por mês além de vermífugo e carrapaticida. Para todos os animais, a gente precisa  de 800kg de ração adulta por mês, em julho recebemos 200kg de doação.”

Há quinze anos acolhendo animais de rua, a Associação Protetora dos Animais Abrigo Flora e Fauna também tem passado por dificuldades. O abrigo localizado no setor de Chácaras do Gama Ponte Alta de Baixo está atualmente cuidando de 800 animais, mas acolhe muito mais, conforme narra o vice-presidente da associação, Wellington Fabiano Anjo Soares. “Nós também ajudamos os animais da comunidade, porque muitas vezes chegam aqui na porta do abrigo pessoas pedindo ajuda como por exemplo uma cachorrinha que precisa de uma cirurgia e não tem condições. Ai o abrigo também acolhe esses animais e o tutor fica com a cachorrinha e a gente cuida do animal. Então esse número pode chegar a 1000, 1.200”. 


Saiba como ajudar: 

Projeto Acalanto
Instagram: @projetoacalantodf
Doações: https://linktr.ee/projetoacalantodf

Resgate Noroeste
Instagram: @resgatenoroestedf
Doações: https://www.vakinha.com.br/vaquinha/racao-meses-de-abril-e-maio-2020
PicPay @resgate.noroeste


Associação Toca Segura
Instagram: @tocasegura
Doações: https://apoia.se/tocasegura

Abrigo Fauna e Flora
Conheça: https://www.abrigofloraefauna.org.br/
Doe: https://apoia.se/abrigofloraefauna
%u200Bhttps://abacashi.com/p/abrigo-flora-e-fauna
https://app.picpay.com/user/abrigofloraefauna

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