Deborah Fortuna / Enviada especial
postado em 08/10/2019 18:06
Alajuela (Costa Rica)* ; Embora o governo brasileiro emita sinais contraditórios sobre sua política ambiental, o país ainda é visto pela comunidade internacional como essencial na luta contra o aquecimento global. É o que diz Andres Landerretche, coordenador da Presidência da COP25, conferência climática das Nações Unidas que ocorre em dezembro, no Chile, após o Brasil desistir de sediar o evento."O Brasil é parte da solução, não do problema. É inviável pensar em uma solução sem que o Brasil seja parte dela", afirma o chileno, que foi à Costa Rica para participar da Pré-COP, evento preparatório da conferência de dezembro.
À frente da COP25, Landerretche se esforçará para que o Brasil continue sendo um ator importante no debate, como foi nas conferências anteriores. "Vamos apelar até o último minuto para entender qual é o problema, tentar chegar a uma solução de consenso para o Brasil, mas que também nos permita avançar", diz ao Correio.
O Brasil anunciou que não sediaria mais a COP25 em novembro de 2018, quando o presidente era Michel Temer e Jair Bolsonaro havia sido eleito. Os argumentos foram "dificuldades orçamentárias".
Foi então que o Chile se candidatou, o que, na visão de Landerretche, foi benéfico ao país vizinho: "O Brasil tirou sua candidatura por questões de política nacional. Então conversamos e pensamos que esta é uma grande oportunidade para avançar com os temas sustentáveis em todo o país [Chile]".
"Vida ou morte"
A pré-COP foi iniciada nesta terça-feira (8/10) com representantes de governos de todo o mundo, que já se debruçam sobre os temas que, mais tarde, virarão acordos firmados entre os chefes de Estado, incluindo, por exemplo, a agenda de cooperação entre a União Europeia e a América Latina.
Nos corredores do evento, o tom é de urgência. "Enfrentamos ações climáticas inéditas", analisa Joseluis Samaniego, diretor da Divisão de Desenvolvimento Sustentável e Assentamentos Humanos (DDSAH) da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal).
Na visão do especialista, é imprescindível que países de todo o globo se reúnam para discutir os novos modelos de gestão, principalmente na questão do transporte e consumo de energia, e que comecem a ter projetos práticos para diminuir as emissões de carbono. "As ações têm benefícios além da luta contra as mudanças climáticas: também trazem a introdução de energias renováveis e eletromobilidade no transporte público", aponta.
Esta é a primeira vez que a pré-COP ocorre em um país diferente do que sediará o evento central. A expectativa é que mais de mil pessoas compareçam às discussões ao longo desta semana. Para a vice-ministra das Relações Exteriores da Costa Rica, Lorena Aguilar, o trabalho feito ali lida com uma questão de "vida ou morte".
[SAIBAMAIS]"Não podemos esperar mais. Temos que fazer as implementações do que acordamos. Mudança climática, energia, mudança na agricultura, tecnologia, financiamento ecológico. Este é o marco", ressalta. "Não podemos fazer as coisas como fazíamos antes. Não podemos seguir queimando petróleo. Temos que mudar toda a nossa maneira de ser", completa.
Inclusão em debate
Outra diferença desta pré-COP, indica Aguilar, é a ampliação dos temas debatidos. Uma preocupação dos organizadores é pensar como o desafio ambiental impacta questões de gênero, direitos humanos e populações em situação de vulnerabilidade, como os povos indígenas.
"Este evento abraça o tema da inclusão. Não há tempo a perder. Esta é uma pré-COP não convencional porque abarcamos os direitos humanos, o direito à participação, o direito a decidir e também o direito a ser informado. Não só o tema da energia que é fundamental e importante", acrescenta.
* A repórter viajou a convite da Cepal
* A repórter viajou a convite da Cepal