Diversão e Arte

Vargas Llosa é o sexto escritor latino-americano a ganhar o Nobel

Desde o mexicano Octavio Paz, em 1990, um escritor latino não era agraciado pela Academia Sueca

Nahima Maciel
postado em 08/10/2010 07:10

A Festa do Bode (2000)Mario Vargas Llosa dava aulas na Universidade de Princeton, em Nova York, às 6h45, quando recebeu o telefonema de Peter Englund, presidente do júri de literatura do Prêmio Nobel. Estava de pé desde as 5h da manhã e não sabia nem que estava entre os candidatos ao prêmio. A lista dos indicados é mantida sob sigilo absoluto. Vargas Llosa foi o sexto escritor latino-americano a ganhar o Nobel. Vai receber US$ 1,5 milhão por ter escrito uma obra considerada, pela Academia Sueca, que concede o prêmio, uma ;cartografia das estruturas de poder e afiadas imagens de resistência, rebelião e derrota do indivíduo;. Desde 1990, quando o Nobel foi concedido ao mexicano Octavio Paz, um autor latino-americano não era agraciado com o maior prêmio literário do mundo.

Autor de 38 livros entre romance, teatro e ensaios, Mario Vargas Llosa, 74 anos, está entre os nomes mais importantes do que ficou conhecido como o boom da literatura latino-americana nos anos 1970. Da mesma geração, Gabriel García Márquez também ganhou o Nobel em 1982. A escolha da academia reafirma a importância de tal produção para a cena internacional. ;Não pensava sequer que estava entre os candidatos. Acredito que é um reconhecimento à literatura latino-americana e à literatura em língua espanhola. Grande parte deste prêmio eu devo à Espanha, pois foi onde eu me tornei um escritor conhecido;, declarou Vargas Llosa, ontem, em entrevista à rádio colombiana RCN.

Los cachorros (1967)O engajamento político é uma das marcas da vida do peruano. Essa postura o levou a se filiar ao partido de centro-direita Frente Democrática (Fredemo) e concorrer às eleições à Presidência do Peru, em 1990 (leia mais na página 3). As propostas liberais e a luta pela ausência do Estado na política econômica repercutiram mal entre a intelectualidade esquerdista latino-americana, o que gerou um certo patrulhamento ideológico. A experiência foi relatada no livro Peixe na água, publicado em 1993. ;Era mais bacana ler Garcia Marquez;, repara Sérgio de Sá, professor da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília (UnB) e autor de A reinvenção do escritor. ;De certa forma isso acaba se refletindo na obra. Quando você escreve, você se escreve;, acredita Eric Nepomuceno, tradutor de García Márquez e Juan Rulfo.

Vargas Llosa publicou pela primeira vez em 1959. Os chefes é um livro de contos sobre desafios, provações e morte, mas a carreira literária começou mesmo com o romance A cidade e os cachorros. Publicado em 1962, o romance é baseado em sua experiência pessoal no Colégio Militar de Lima, no qual estudou durante a adolescência. Nos anos 1970, Vargas Llosa escreveria clássicos como Pantaleão e as visitadoras (1973) e Tia Júlia e o escrevinhador (1977). Na década seguinte, o peruano esteve no Brasil para pesquisar sobre Euclides da Cunha e a Guerra de Canudos. O interesse foi traduzido no romance épico A guerra do fim do mundo, publicado em 1981.

Experiências
Lituma nos Andes (1993, Prêmio Planeta)Os anos 1990 seriam marcados por Os cadernos de Dom Rigoberto, sobre um corretor de seguros que alimentava inúmeras fantasias sexuais e era pai de um rapaz obcecado pelo artista Egon Schiele. De 2000 para cá, Llosa publicou A festa do bode, sobre a ditadura na República Dominicana, e Travessuras da menina má (2006), que traça um panorama de transformações sociais e políticas ocorridas na Europa e na América Latina. Muitas das experiências vividas pelo autor aparecem através de seus personagens. O traço autobiográfico é constante na obra do peruano, que foi agraciado, em 1994, com o Prêmio Cervantes, o mais importante da literatura em língua espanhola, e o Prêmio Príncipe das Astúrias de Letras Espanha, em 1986.

O Brasil também é tema recorrente na escrita de Vargas Llosa. Além de A guerra do fim do mundo, também escreveu sobre Jorge Amado e o governo Lula ; em Sabres e utopias ;, uma compilação de artigos sobre política, direitos humanos, história e literatura recém-publicado. Vargas Llosa irá à cerimônia de entrega do Prêmio Nobel em 10 de dezembro, em Estocolmo e, de acordo com a tradição, será o encarregado de fazer o discurso em nome de todos os premiados, com exceção do Nobel da Paz, realizado em um ato paralelo, em Oslo. No próximo dia 14, o escritor faz palestra em Porto Alegre na série de seminários Fronteiras do Pensamento.
O falador (1987)

"Espero que me tenham dado este prêmio por minha obra literária, mais do que por minhas ideias políticas;
Mario Vargas Llosa, escritor peruano





Estrelas latinas

1945
Gabriela Mistral (Chile)

1967
Miguel Ángel Asturias (Guatemala)

1971
Pablo Neruda (Chile)

1982
Gabriel García Márquez (Colômbia)

1990
Octavio Paz (México)

[SAIBAMAIS]

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