São Paulo ; Não há como assistir ao mais recente filme de M. Night Shyamalan e não ser obrigado à comparação com um clássico absoluto das telas: Psicose (1960). Como Norman Bates, naquele filme de Hitchcock, o protagonista de Fragmentado, vivido nas telas pelo escocês James McAvoy (o jovem professor Xavier, de X-Men), se revela para o espectador como alguém atormentado e dono de mais de uma faceta psicológica.
[SAIBAMAIS]
Mas, enquanto Norman Bates encampava ralas caracterizações, o dono da cena de Fragmentado se multiplica, totalizando mais de 20 personalidades. Kevin Wendell Crumb (o tipo vivido por McAvoy) é doente, e tece recriações da realidade à volta dele. Viver apenas uma vida não o satisfaz.
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;Até a química do corpo muda. Baseado na crença da pessoa. Com diferentes seres humanos que compartilham um mesmo corpo. Múltiplas consciências ao mesmo tempo, numa pessoa, (transtornos); , explica o diretor M. Night Shyamalan, que veio para o Brasil a fim de promover o filme Fragmentado, que estreia amanhã, nos cinemas. ;Quando penso na criação do filme, minha ideia é mais de um espaço sem janela. Não uso aventuras espaciais e naves. Espaços confinados são as coisas que estimulam a minha imaginação;.
O novo filme de Shyamalan demarca uma reerguida, alcançada pelo relativo sucesso de A visita (2015), um alento, depois de fitas como O último mestre do ar (2010) e Depois da Terra (2013). Uma força sobre-humana, que toma emprestado elementos do sucesso de Corpo fechado (2000), outro título assinado por Shyamalan, se apossa de Fragmentado. Neste curso do personagem múltiplo abraçado por James McAvoy, atormentado pelo transtorno dissociativo de personalidade, é bom ressalvar: há brechas para o cineasta se esbaldar na fissura pelo sobrenatural. É sempre um quesito de enorme apelo na filmografia do mesmo diretor também de O sexto sentido (1999).
Obcecado pelo rigor do storyboard (uma prévia esboçada de cada cena), Shyamalan admite que Fragmentado é o longa mais complexo que já escreveu. Tratada como uma espécie de ;protetora de perturbados;, pelo que é chamada a complacente doutora Fletcher (Betty Buckley), ela desconhece facetas do paciente capaz de rogar por sessões de terapia emergenciais.
Suspense psicológico
Kevin alastra terror pelos subterrâneos de uma edificação na Filadélfia. A contragosto, três moças são mantidas reféns deste homem de atos inesperados, que nem chegam a ser premeditados. Kevin pode passar do ríspido Dennis para a autoritária Patricia, sem nunca deixar de alternar o caráter afável de Barry ou ainda a sagacidade infantil do pequeno Hedwig, todas facetas do parsonagem .;Um pintor tem que atentar para a moldura do quadro. A Universal emoldurou como um drama psicológico que evolui para um suspense aterrador. As pessoas me perguntam: ;Será que é um filme de terror?;, mas o que pesa é suspense psicológico;.
Entre a ambiguidade de mais de duas dezenas de identidades, há ainda um lado ;monstruoso;, prestes a ser apresentado para as jovens trancafiadas, que atendem por Claire (Haley Lu Richardson), Marcia (Jessica Sula) e a durona Casey (Anya Taylor-Joy). Numa espécie de bunker em que é mantida, a última dessas meninas tem tempo para reviver e aplicar, no momento de risco extremo, estratégias aprendidas numa outra situação trágica que a assombra sistematicamente.
Associado à produtora Blumhouse ; que responde pelo fenômeno da franquia Atividade paranormal ;, M. Night Shyamalan apostou, com Fragmentado, na concepção de um protagonista transtornado que não abusa de apetrechos externos para a caratcerização. A cabeça raspada de James McAvoy (ator que se apresenta em oito versões do adoentado Kevin) funciona com uma espécie de tabula rasa para a impressão de cada personagem.
Indicado ao Oscar, pelo trabalho com A garota dinamarquesa (2015), o figurinista Paco Delgado parece ter cedido à crença interna de Kevin, que prima por agir como outro(s). Nisso tudo, ainda há espaço para aquela constante aparição de Shyamalan nas fitas que conduz, ao melhor dos pretensiosos (e jocosos) estilos do mestre Alfred Hitchcock.
O repórter viajou a convite da Universal.
Orçamento estimado do filme
- US$ 257 milhões