Irlam Rocha Lima
postado em 03/10/2019 06:35
Há 30 anos, o coração da música brasileira bate forte em Brasília, no pequeno palco de um misto de bar, restaurante e casa de show na 306 Norte. É ali o endereço do Feitiço Mineiro, que resiste como reduto artístico-cultural e gastronômico.
Durante três décadas, o Feitiço ; como é chamado, carinhosamente por seus frequentadores ; democraticamente tem acolhido nomes icônicos da MPB (dos mais diversos segmentos), mas também cantores, compositores e grupos brasilienses que, ali, têm oportunidade de mostrar o trabalho que realizam.
;O Feitiço Mineiro tem praticamente a metade da existência da capital do país. E é com orgulho e alegria que, no meu entendimento, temos contribuído para desenvolvimento cultural da cidade, nas áreas da gastronomia e de outros ramos da arte, especialmente o da música;, ressalta Denise Pereira, sócia da empresa. ;Esse sempre foi o sonho do nosso querido e saudoso Jorge Ferreira, que, desde a criação do Feitiço, se dedicou com muito amor e dedicação a essa causa;, acrescenta.
A celebração da data começa amanhã, às 22h, com o show protagonizado pelo grupo vocal-instrumental pernambucano Quinteto Violado e pelo compositor, cantor e violonista piauiense Clodo Ferreira. Essa apresentação, que será dividida em três partes, voltará a ocorrer sábado, no mesmo horário. Nela, os artistas vão revisitar a trajetória artística, iniciada no começo dos anos 1970. Outras atrações previstas para outubro são Paulinho Pedra Azul (dias 11 e 12) e Indiana Nomma (dias 18 e 19).
Inicialmente, Clodo, acompanhado por João Ferreira (violão), Pedro Ferreira (percussão), Vavá Afiouni (bicho) e Kaley Seraime (violino), mostra canções do seu repertório Mentira da saudade, Iluminura, parceria com Carlinhos 7 Cordas; e Conterrâneos, que fez com os irmãos Climério e Clésio. ;Esse show com o Quinteto Violado já era para ter acontecido. Há dois anos, estive com o Marcelo Melo (líder do grupo), no próprio Feitiço, e conversamos sobre essa possibilidade. Finalmente o projeto será concretizado;, comemora Clodo Ferreira.
Carreira
Na sequência entra em cena o Quinteto, com a atual formação: Marcelo Melo (violão e voz), Dudu Alves (teclado e voz), Sandro Lins (baixo e bateria), Ciano Alves (flauta e violão) e Roberto Medeiros (bateria e voz). ;Como se trata de uma data festiva, vamos fazer uma espécie de retrospectiva, focalizando alguns momentos que marcaram nossa carreira, como os dos shows Berra boi, Missa do Vaqueiro, além de homenagens a Geraldo Vandré, Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro, no centenário do Rei do Ritmo;, antecipa Marcelo.
Juntos, os artistas fazem a parte final do espetáculo. Embora eles guardem em segredo o que interpretarão, sabe-se que eles juntam as vozes em Asa Branca (Luiz Gonzaga), Cavalo Marinho (clássico do Quinteto Violado), Revelação (Clodo e Clésio Ferreira) e Cebola cortada (Clodo e Petrício Maia). ;O pessoal do Quinteto criou novos arranjos para minhas músicas, que ficaram muito interessantes;, elogia Clodo.
Um palco de estrelas
Foi no Feitiço Mineiro onde Baden Powell faz sua última apresentação em Brasília pouco antes de morrer, em 2000. Por quele palco passaram grandes mestres do samba, praticamente todos os integrantes do Clube da Esquina e nomes de destaque da MPB. Criação do visionário sociólogo, poeta e empresário Jorge Ferreira, o Feitiço Mineiro resiste às intempéries e se mantém como a principal referência musical no circuito noturno da capital.
;Para mim, é um privilégio ter me tornado sócio do Feitiço, justo quando esta instituição brasiliense completa 30 anos;, afirma Marcos Bezerra, empresário do ramo da gastronomia. ;Quatro pilares são responsáveis por essa casa se manter no imaginário desta cidade: a equipe de funcionários, a fidelidade da clientela, a gastronomia e programação musical que oferece;, complementa.
Ex-diretor artístico do Canecão, a lendária casa de espetáculos do Rio de Janeiro, Gerson Alvim, há mais de 10 anos é o mentor musical do Feitiço. Nesse período, ele tem desenvolvido vários projetos com, basicamente, a participação de artistas locais.
Em outros tempos quem exerceu essa função foi Sônia Alves, que criou, por exemplo, o projeto Gente do Samba, com a participação de bambas como Monarco, Elton Medeiros, Nelson Sargento, Noca da Portela, Walter Alfaiate, Almir Guineto e Dona Ivone Lara. Sambistas da nova geração, também fizeram show no Feitiço, no início da carreira, entre os quais Diogo Nogueira, Mart;nália, Teresa Cristina e os grupos Semente, Casuarina e Sururu na Roda.
Na comemoração dos 20 anos do Feitiço, em 2009, toda a programação contemplou os membros do Clube da Esquina. Milton Nascimento à parte, todos os outros ocuparam o palco do Feitiço: Lô Borges, Beto Guedes, Flávio Venturini, Wagner Tiso, Toninho Horta, Tavinho Moura e Fernando Brant. Aliás, os dois últimos estiveram juntos em outras celebrações.
Receberam aplausos dos frequentadores do Feitiço Mineiro, representantes de outros segmentos da música popular brasileira como Zezé Motta, Lucinha Lins, Mônica Salmaso, Claudete Soares, Alaíde Costa, Sueli Costa, Maria Creusa, João Bosco, Chico César, (Jards Macalé, Guinga, Paulinho Tapajós, Zé Renato e Tunay ; possivelmente o recordista de apresentações no local. (IRL).
Quinteto Violado e Clodo Ferreira
Show comemorativo dos 30 anos do Feitiço Mineiro amanhã, às 22h, no bar restaurante da 306 Norte. O couvert artístico custa R$ 50, na parte interna; e R$ 35, na parte externa. Não recomendado para menores de 18 anos. Informações: 3272-3032.