Diversão e Arte

Noite de abertura do Festival de Brasília tem protestos e homenagens

Classe artística se manifestou contra cortes nas verbas de cultura e o ator Stepan Nercessian foi homenageado

Roberta Pinheiro, Vinícius Veloso*, Adriana Izel, Ricardo Daehn
postado em 23/11/2019 13:13
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A noite de abertura do 52; Festival de Brasília do Cinema Brasileiro foi marcada pela boa presença de público e por manifestações da classe cinematográfica, no Cine Brasília, para assistir ao filme O traidor. O longa-metragem, exibido na Hors Concours, é a ficção de Marco Bellocchio e está na lista de 93 filmes pré-indicados para o Oscar 2020 de melhor filme estrangeiro. Maria Fernanda Cândido, estrela do filme, compareceu. O enredo, baseado em fatos, conta a história de Tommaso Buscetta, um mafioso italiano (líder da sociedade criminosa Cosa Nostra) que foge às pressas do país europeu rumo ao Brasil.

Antes da cerimônia de abertura, o secretário de cultura do DF, Adão Cândido, destacou os motivos para a escolha do filme: ;Abrimos com uma coprodução entre Brasil e Itália sinalizando essa visão de como se deve dar a profissionalização da indústria cinematográfica, mostrando como o cinema nacional pode atingir altos níveis;. Sobre a noite de estreia, o secretário disse ser a coroação de um ano de trabalho: ;Sempre é um momento importante. A curadoria fez um trabalho de assistir a mais de 200 filmes para fazer uma seleção que mostrasse o Brasil. Os estados do país estão representados pelas mostras;, completou.

Com quase duas horas de atraso, a cerimônia trouxe momentos tensos para o secretário. Ele enfrentou uma plateia de realizadores inconformada, que entoou vaias e questionou a tentativa de corte de recursos do Fundo de Apoio à Cultura (FAC) neste ano. Para 2020, no palco, em meio aos ânimos eufóricos do público, ele garantiu um edital da ordem R$ 20 milhões.

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Tributos

Ainda antes da exibição do filme, o Festival de Brasília prestou homenagens a nomes ligados à cultura local e nacional. O ator Stepan Nercessian foi um deles. Sempre presente no Festival, ele ressaltou a importância de resistir aos diversos governos e a capacidade de luta do povo brasileiro. ;Eu sempre vejo o cinema como uma grande luta, que não começou agora, não vai terminar agora, e que, no futuro, teremos de continuar juntos. A capacidade de luta do cinema e das pessoas que o fazem é muito forte. Se não fosse, a gente já tinha morrido há muito tempo. O cinema brasileiro tem um grande aliado que é o público. Fora isso, é só porrada. Dou muito valor a um festival como este se mantendo vivo, pois as dificuldades são imensas;, ressaltou.

Cinéfilo desde os anos 1950, o pesquisador de cinema Fernando Adolfo foi uma das pessoas mais badaladas da noite. Com temporadas entre Salvador, Maceió e Brasília, Fernando está na cidade para receber a medalha Paulo Emílio Salles Gomes, entregue a expoentes do Festival. ;Um dos maiores prazeres foi ver o nascimento de talentos como Arnaldo Jabor, Cacá Diegues, Nelson Pereira dos Santos e Cláudio Assis. São pessoas muito relacionadas ao evento;, disse.

Os 45 anos de atividade, junto à antiga Fundação Cultural e à Secretaria de Cultura, levam Adolfo a um painel de fortes lembranças, como a de ter servido de cicerone das equipes de filmagens de Deus e o diabo na terra do sol (1963), de Glauber Rocha, em Salvador e Monte Santo. ;Minha formação foi no cinema brasileiro, especialmente depois do advento do cinema novo. Na Secretaria de Cultura, fui assessor, chefe de gabinete e diretor executivo. Mas a principal tarefa sempre foi a de cuidar do Festival de Brasília.;

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Saudada pelo público, a partir da exibição de um vídeo gravado no exílio motivado por ameaças, a diretora e pesquisadora Debora Diniz foi protagonista de uma homenagem da Associação Brasiliense de Cinema e Vídeo (ABCV). Contou a favor da empatia do público o conteúdo humanístico e as abordagens dos direitos humanos que ela sempre cultivou como antropóloga e cineasta. ;Saber que importo em termos da produção de filmes, me enche de orgulho e traz maior sentido;, observou.

Outro homenageado da noite foi o maestro Claudio Santoro, que completaria 100 anos amanhã. A mulher dele, Gisele Santoro, subiu ao palco e recebeu a honraria do também maestro Claudio Cohen. Houve um minuto de silêncio em memória do diretor Fábio Barreto, morto na última quarta-feira, do ator candango Andrade Junior e do dramaturgo Domingos Oliveira.
O longa ítalo-brasileiro O traidor, dirigido por Marco Bellocchio, foi exibido ontem, no Cine Brasília, na sessão de abertura
Ao lado da equipe do filme O traidor, Maria Fernanda Cândido ressaltou a importância do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. ;É um festival que forma um público, que tem opinião e sabe cultivar o que pensa o cinema brasileiro. Então, é uma grande honra poder estar aqui;, afirmou. Logo após o término da declaração da atriz, o ator Marcelo Pelucio subiu ao palco para ler uma carta da classe artística brasiliense destinada à Secretaria de Cultura, em que questionam o pagamento do Fundo de Apoio à Cultura (FAC) de 2018 e o edital de 2019, entre outros pontos.

*Estagiário sob supervisão de Alexandre de Paula

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