Diversão e Arte

Cinema candango palpita: Diretores adiantam projetos que virão pós-pandemia

Entre os filmes estão trabalhos de Iberê Carvalho e Cibele Amaral

Correio Braziliense
postado em 15/04/2020 04:27
Entre os filmes estão trabalhos de Iberê Carvalho e Cibele Amaral
O conteúdo do roteiro de Socorro, futuro longa-metragem a ser dirigido por Cibele Amaral, impressiona pela atualidade: não há piedade para aqueles que tentam escapar de um confinamento imposto, num mundo em que deslocamentos só transcorrem a partir de permissões especiais. Ambientado no início dos anos 2000, Socorro ainda traz o bônus de confirmar a maior eficácia do mundo virtual frente a um meio ambiente sacrificado. “O roteiro é incrivelmente próximo à realidade atual, infelizmente”, observa a diretora. Com filmagens previstas para 2020, o projeto teve financiamento pelo Fundo Setorial do Audiovisual, com verbas asseguradas “antes de a Ancine entrar na paralisia atual”, observa Cibele. Junto com os cineastas de Brasília André Luiz Oliveira, Carina Bini e Iberê Carvalho, Cibele está na fila dos artistas escalados para gravações às vias de ocorrer, pouco antes da Covid-19 despontar.

“A arte prevê o futuro e dialoga com a ciência. Ela é necessária! Sem arte, agora, como estaríamos? Sem os contadores de história da atualidade, sem os roteiristas? Quem ia aguentar ficar em casa?”, observa Cibele. Na ficção científica que ela idealiza, há metalinguagem, cômica, sobre um diretor que deseja filmar produção muito acima de suas possibilidades. “No filme, o ser humano consegue remediar a hecatombe ambiental que ameaça acabar com a humanidade, mas o preço a pagar é o confinamento. Para garanti-lo, vírus superpotentes foram criados em laboratório. Bizzarro, né?”, explica, em torno da infeliz coincidência do roteiro criado. Artistas ambiciosos, robôs e seres duplicados completam o enredo.



Cozinha comunitária

A diretora Carina Bini (D), ao lado de Neiva Rey, senhora que inspirou o longa La Mamma
Compôr o registro de um universo feminino que trate da tradição culinária italiana e da relação das pessoas com a comida, entre sabores e afetos, está na disposição da estreante em longas Carina Bini. Coprodução internacional entre Brasília e uma produtora italiana, orçada em R$ 3,6 milhões, La Mamma está financeiramente apto para as filmagens, diante dos 80% de valores captados, numa ponte de recursos do Fundo da Arte e da Cultura local, do Fundo Setorial do Audiovisual e de contrapartidas entre as produtoras (Atman Filmes, Asa Cine e Stemo Productions).

O intimismo deve nortear a fita, como explica Bini: “Terá praticamente apenas uma locação, com foco nas interpretações dos atores, e no rigor fotográfico que a exposição do universo da protagonista pede. Falaremos de memória e de afetos”. O roteiro efetivará edital de cooperação bilateral entre a Ancine e fundação italiana Centro Experimental de Cinematografia (CSC), local em que foi desenvolvido.

A ser rodado em Pirenópolis e na cidade de Assis (Itália), La Mamma conta a história da idosa Chiara, imigrante italiana, que, pela culinária, garantiu sua sobrevivência no Brasil. “Ela acredita que sua comida cura pessoas e alimenta almas. Acredito que a personagem Chiara representa a mudança de paradigma que o mundo precisa abraçar e isso fica ainda mais claro frente a esta crise mundial, que vem para praticarmos a cooperação, a valorização das coisas simples e fundamentais para a vida humana, como por exemplo, o ato de comer”, diz Carina Bini. O resgate do valor do bem comum pode ser um papel social importante de La Mamma cumprir neste momento sensível, pelo que aponta a diretora.



Música libertária


Entre os filmes estão trabalhos de Iberê Carvalho e Cibele AmaralPremiado diretor brasiliense, Iberê Carvalho, sempre lembrado pelo longa-metragem O último Cine Drive-in, sabe que cinema tem temas que exigem tratamento urgente. Empenhado com a realização de um ambicioso longa-metragem, em processo colaborativo de escala mundial (Lockdown Covid-19), ele não deixa de lado outra certeza: a de que a arte tem muita importância na vida das pessoas. A visão dá norte para a mais nova investida em produção audiovisual dele, destinada à exibição na tevê, com o título Maria.

Depois de uma experiência muito orgânica na direção do ainda inédito longa-metragem O homem cordial (a ser lançado no segundo semestre), Iberê trilha o ritual de um planejamento bem detalhado para a criação de Maria, a ser estrelado por Dhi Ribeiro, Nando Cunha e Duda Moreira. Com as filmagens previstas para março postergadas, o diretor se aprofunda nas ferramentas de orientação para a equipe: storyboard e marcações rascunhadas de posição de atores, câmeras e luzes. “Isso agiliza o processo, mas não se pode engessar a criatividade – a mera execução do já planejado criaria cenas frias e estéreis”, observa.
 

Saiba Mais

 

Ficção escrita por Renata Mizrahi, Maria traz uma plataforma de coprodução entre as empresas locais Pavirada Filmes, Quartinho, Gancho de Nuvem e Globo Filmes. A história cerca a vida de uma segurança de prédio corporativo da capital, e que tem o sonho de ser cantora. “Maria é uma fábula moderna, com uma mulher comum, e que assume o protagonismo num grande espetáculo musical”, comenta o diretor.



Duas perguntas / André Luiz Oliveira


A canção de Lorenzo será o mais novo documentário de André Luiz Oliveira. Tem por foco o jovem músico brasiliense Lorenzo Barreto, que, autista, tem ampla trajetória na musicoterapia. O cineasta conhece o rapaz de 16 anos, há 12. No filme serão mostradas abordagens clínicas, leis e lutas, desafios e tratamento, com participações de pais e cuidadores. Muito material de arquivo será editado para o filme que terá um esperado momento de descontração: um show musical de Lorenzo com vários artistas convidados.

O show musical trará desafios tanto para Lorenzo, na sua condição de autista, ao lidar com o público, quanto para o diretor, diante da imprevisibilidade do evento. “O importante é que o show, os bastidores, o processo de filmagem, e o filme, em si, cumpram também o objetivo terapêutico a que se propõe e seja mais uma ferramenta usada para o crescimento do Lorenzo”, avalia André Luiz. As filmagens aguardam o cumprimento de um edital público que alinha o FAC e a Ancine, órgão que sustenta convênio de viabilidade.


Você prevê ajustes no roteiro que dialoguem com as circunstâncias de recolhimento social?
O próprio autismo já é um tema muitíssimo atual e será sempre, pois ainda é um mistério para os pesquisadores e o seu espectro se amplia cada vez mais, assumindo uma relevância social enorme. Existe também esta conexão muito forte e contraditória do espectro do autismo com essa época de pandemia e necessidade de isolamento social. Podemos aprender muito com os autistas como tenho aprendido com Lorenzo (personagem do filme) ao longo desses anos de convivência, da mesma forma deveremos aprender com esta crise planetária que estamos vivendo.

O que estes tempos difíceis impõem à arte, e qual o papel dela?
Nesses tempos de ignorância, inconsciência e obscuridade institucionalizada, o papel da arte é acender a luz da consciência ausente em grande parte das pessoas e assim criar áreas de esperança... A arte em si é reparadora e promove cura porque trabalha com a essência da matéria psíquica, atemporal, cuja origem é a própria criação de onde todos viemos. Os artistas são apenas agentes e canais dessa energia reparadora, criadora do universo. O resto que assombra é o sintoma daquilo que cada um de nós, coletivamente, cria.

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  • Foto: Iberê Carvalho/Divulgacao

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