Correio Braziliense
postado em 21/07/2020 06:35
A trilha sonora e os sons dos filmes fazem parte dos elementos invisíveis, que amplificam e sugerem imagens. Segundo o compositor Luiz Olivieri, ouvir é um ato de invenção, uma forma muito peculiar e particular de compreensão do mundo. A trilha sonora é o elemento que abre espaço para que o espectador possa também criar as próprias narrativas sensoriais, que se misturam ao filme. Com a cena audiovisual cada vez mais consolidada em Brasília, é possível ver profissionais de destaque no ramo das trilhas sonoras.
Conheça alguns dos compositores da cidade:
Luiz Olivieri
Desde pequeno Luiz Olivieri se interessa por diferentes timbres de instrumentos e pelos sons dos ambientes. Com passagem pela Escola de Música de Brasília (EMB) e pela Universidade de Brasília (UnB), o criador de trilhas sonoras é referência na capital. Em 2013, ele abocanhou um Kikito do Festival de Cinema de Gramado pela composição da trilha do filme maranhense Acalanto. “Quando ingressei na UnB, no curso de bacharelado em artes visuais, comecei a criar trilhas sonoras para os trabalhos dos colegas do curso e do Departamento de Comunicação. Aos poucos fui percebendo o quanto os sons influenciavam o nosso olhar e como eles ocupam um espaço misterioso e instigante para nós”, relembra.
O processo de composição das músicas é extenso e envolve todas as pessoas que desenvolvem a produção do trabalho. Como pesquisa, Luiz Olivieri gosta de escutar músicas com diferentes territórios sonoros para ampliar a escuta.
“Todo o mercado de pesquisa e produção artística vive um momento delicado no Brasil em função do pensamento equivocado do governo federal. Quando o Estado apoia projetos culturais, provoca impactos econômicos e sociais muito positivos. Além disso, as produções artísticas brasileiras levam o nome do país para o mundo. No geral, o mercado em Brasília possibilita que o compositor de trilhas sonoras trabalhe na produção de curtas e longa-metragens, espetáculos teatrais, de dança e circo apoiados pelo Fundo de Apoio à Cultura, em sua maioria. Há também trilhas para publicidade, além da possibilidade de trabalhar séries para tevê.” conta Olivieri.
Sascha Kratzer
Compositor e produtor musical, o alemão Sascha Kratzer vive em Brasília há mais de uma década. Ainda na Alemanha, os pais dele tinham uma locadora de filmes, onde Kratzer teve o primeiro contato com o universo cinematográfico. “Eu cresci assistindo grandes fitas de Westerns, com músicas de Ennio Morricone. De volta para o futuro, Karate Kid, Rambo... A música de Rambo era muito forte para mim, a melodia não saía da minha cabeça. Na mesma época, eu comecei a tocar alguns instrumentos, como flauta, triângulo, piano e órgão. Eu gostava mais de criar sons, do que de tocar a partitura certinha”, relembra o produtor.
O alemão é responsável pelas trilhas dos filmes brasilienses O último Cine Drive-in e O homem cordial, nesse último levando para casa um Kikito do Festival de Cinema de Gramado pela melhor trilha sonora. “Eu cheguei a Brasília em janeiro 2010, e descobri que tem um mercado de cinema muito grande aqui no Brasil. Tem muitos filmes sendo feitos, muitos talentos, grandes diretores. Eu estou feliz de trabalhar com toda essa galera e pela vida muito gostosa aqui em Brasília, eu amo essa cidade do fundo do meu coração”, declara Kratzer.
As produções de Sascha Kratzer são inspiradas pelo cotidiano. A natureza, os sentimentos e a família fazem parte do processo criativo do produtor. “Metade de um filme é a música. Você tem a imagem e o roteiro, mas a música é que consegue lhe manipular e levar a algum lugar importante. No entanto, a gente não pode esquecer que o silêncio tem a mesma importância, o silêncio também é música”, filosofa.
Décio Gorini
A composição é algo que sempre percorreu a vida de Décio Gorini. Desde criança, o compositor tem intimidade com os instrumentos musicais. Antes de assumir a música como uma tarefa profissional, ele cursou jornalismo na UnB e, lá, teve o contato com o curso de cinema e com várias pessoas que davam aula e enfatizavam o papel da trilha sonora. “A primeira vez que eu senti vontade de fazer música e que eu percebi o poder dela foi muito jovem, assistindo os faroestes de Sergio Leone e aquelas músicas foram muito marcantes para muita gente. E pra mim foi quando eu percebi a potência da música, não só no cinema, mas na minha vida”, conta o compositor.
A música conduz o sentimento da plateia e nos filmes não seria diferente: a trilha conduz os espectadores para alguma conclusão. “O exemplo máximo disso é o filme de suspense, que sem a música, o filme fica de comédia, muitas vezes. É uma responsabilidade muito grande, por que muitas vezes o filme é salvo lá no finalzinho com a trilha sonora. Basta a gente lembrar do falecido Ennio Morricone que hoje a gente lembra de filmes que ficaram apagados na história, mas que as trilhas sobreviveram. Isso é claro que pela qualidade da música, mas também pela música ter dado um aumento de qualidade narrativa. Uma trilha boa contribui para a percepção do todo daquele filme”, pontua.
As trilhas sonoras do compositor já rodou o mundo em festivais. “A gente vive hoje um momento singular. O cenário é muito bom o mercado está superaquecido, mas o financiamento do audiovisual no Brasil passa por um momento único na história. Nós ainda dependemos de incentivos fiscais, seja Governo Federal, seja governo local. Aqui em Brasília a maior parte dos filmes que são produzidos aqui são feitos com apoio do Fundo de Apoio à Cultura do DF. Existe um mercado crescente nessa área, mas o cinema carece de incentivo, de injeção de capital”, relata Gorini.
O grande mestre
No início do mês, em 6 de julho, o cinema perdeu um dos nomes mais relevantes da história das trilhas sonoras no audiovisual. O compositor Ennio Morricone morreu aos 91 anos. O maestro morava em Roma e estava internado após uma queda. Com mais de 500 produções no currículo, divididas em longas, curtas, ficções, documentários e especiais próprios, Morricone ficou famoso por dar sons característicos a filmes de faroeste. Entre os trabalhos mais conhecidos estão Três homens em conflito, Era uma vez na América, Cinzas no Paraíso e Os oito odiados, que fez o músico levar o Oscar de melhor trilha sonora.
*Estagiária sob supervisão de Igor Silveira
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