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Black is king: As discussões geradas após o lançamento do filme de Beyoncé

Após lançamento, 'Black is king' foi um dos assuntos mais comentados das redes sociais

Não é de hoje que uma produção da cantora Beyoncé ganha repercussão logo após a divulgação. Com o projeto mais recente, , criado para enaltecer a cultura negra por meio da recriação da história de O rei leão, não seria diferente. Apesar de ter sido disponibilizado só uma parte, o material levou a hashtag #BlackisKing para um dos tópicos mais comentados do Twitter, gerou discussões nas redes sociais, resultou em elogios e críticas por parte da mídia, foi ovacionado pelos fãs e, principalmente, trouxe à tona questões envolvendo a representação das culturas negra e africana.

Confira um compilado a respeito do que se comentou e se discutiu sobre a recente criação de Beyoncé

A produção no contexto da luta antirracista no Brasil

Neste domingo (2/8), a antropóloga e historiadora Lilia Moritz Schwarcz publicou um artigo em sua coluna no jornal Folha de São Paulo no qual questiona algumas decisões de Beyoncé. Professora da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, ela reclamou que "Beyoncé erra ao glamourizar negritude com estampa de oncinha", como afirma o título da publicação. E completa no subtítulo:  “Diva pop precisa entender que a luta antirracista não se faz só com pompa, artifício hollywoodiano, brilho e cristal". 

Não demorou muito e Schwarcz foi criticada pelo texto. Artistas e ativistas brasileiros, como IZA, Tia Má, Ícaro Silva e Luana Xavier, se manifestaram. "Lilia, quem precisa entender sou eu. Eu preciso entender que privilégio é esse que te faz pensar que você tem alguma autoridade para ensinar uma mulher negra como ela deve ou não falar sobre o seu povo", publicou a cantora Iza. 

O ator Ícaro Silva se disse constrangido em ser contemporâneo da antropóloga. "Não vejo por onde defender seu declarado racismo, sua arrogância branca elitista em se dar o direito não somente de reduzir uma obra prima ao nicho "antirracista" mas em acreditar que tem conhecimento antropológico sobre África. Obviamente não tem, ou não teria reduzido a pele de um bicho sagrado à estampa que peruas de sua classe insistiram em apropriar em sua cafonice colonialista". 
 
 

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O advogado e também colunista do jornal Folha de São Paulo, Thiago Amparo usou o perfil no Twitter para comentar a produção da artista, bem como os pontos do texto da antropóloga. Para isso, ele trouxe, entre outras referências e ideias, o conceito de afrofuturismo, ou seja, "uma estética cultural que combina ficção científica, história e fantasia para explorar a experiência afro-americana e visa conectar aqueles da diáspora negra com sua esquecida ascendência africana". Thiago lembrou também como Beyoncé, ao recontar a história a partir do  olhar de Nala, resignifica a centralidade masculina narrativa, "o que traz um aspecto de intersecção de raça e gênero, essencial ao feminismo negro". Por fim, afirma: Black is king é importante, pra mim, porque nos permite um lugar que nos é relegado: criar mitos. Rejeita o lugar de dor, que não é nosso, mas nos foi imposto. Faz o que mitos na Grécia faziam, faz o que anciãos africanos e indígenas fazem: contam sobre nós a partir de nós. 
 
 
 
Após a repercussão, a antropóloga se explicou e pediu desculpas. "Agradeço a todos os comentários e sugestões. Sempre. Gostaria de esclarecer que gostei demais do trabalho de Beyoncé. Penso que faz parte da democracia discordar. Faz parte da democracia inclusive apresentar com respeito argumentos discordantes. Já escrevi artigo super elogioso à Beyoncé, nesse mesmo jornal, o que só mostra meu respeito pela artista. E por respeitar, me permiti comentar um aspecto e não o vídeo todo", publicou no Instagram.

O debate na África

O lançamento de Black is king acentuou outra crítica que já se configurava desde a divulgação das primeiras imagens e trailers, há um mês. Na opinião de muitas pessoas nascidas na África, a representação do continente fortemente atrelada à selva é pejorativa. O tema despertou vários debates nas redes sociais.

A publicação francesa The Africa Report destacou postagens de ativistas que rejeitam a construção estética criada por Beyoncé em referência a um continente tão extenso e plural. O fato de a cantora não incluir a África em suas turnês mundiais foi mencionado entre as críticas.

A construção estética 

Embora a íntegra do filme não esteja disponível no Brasil, o clipe correspondente à faixa Already, cantada com o ganês Shatta Wale e com o rapper norte-americano Major Lazer, foi divulgado no YouTube.

No vídeo, é possível ver o figurino repleto de reproduções de peles de animais, pinturas corporais, adereços e adornos tribais. Há ainda a mescla de cenas na natureza e em espaços urbanos. 

"Uma carta de amor para a diáspora negra"

"Black is king fala da beleza e riqueza da cultura negra, sem parecer grotescamente rica ou artificial demais. O filme oferece variados estilos de produção: às vezes minimalistas, com Beyoncé cantando em vastos espaços abertos em Bigger, enquanto outras sequências são intensas e coloridas, com imagens vibrantes e dançarinos de alta energia, como em My power", descreveu o jornal britânico The Guardian

Na avaliação do jornal, o álbum visual soa como "uma carta de amor para a diáspora negra, para lembrá-los de que eles também fazem parte de algo maior"e é "convincente em todos os sentidos", destacando que a variedade étnica e geográfica da África é contemplada, ainda que haja uma conexão com O rei leão, que se passa fundamentalmente no Leste do continente.

Já para a revista norte-americana Variety, "Black is king se destaca como uma celebração da negritude em suas muitas formas: mulheres negras, homens negros, crianças negras, maternidade negra, paternidade negra, passados negros, presentes negros e futuros negros".