postado em 29/04/2008 20:55
Política monetária e operações de crédito do sistema financeiro
I - Evolução dos agregados monetários
A base monetária, considerada a média dos saldos diários, atingiu R$130,8 bilhões em março, traduzindo queda de 1,3% no mês e incremento de 20% no período de doze meses, mantendo-se, a exemplo dos demais agregados monetários, dentro do intervalo estabelecido pela programação monetária para o primeiro trimestre de 2008. A variação no mês resultou dos recuos de 0,9% no saldo médio do papel-moeda emitido e de 2,2% nas reservas bancárias.
Relativamente às fontes de emissão monetária, tendo como referência os fluxos mensais, as operações do setor externo implicaram expansão de R$2 bilhões, como resultado das compras líquidas de divisas pelo Banco Central no mercado interbancário de câmbio, ao mesmo tempo em que o movimento expansionista das operações do Tesouro Nacional atingiu R$1,8 bilhão. No sentido contracionista, destacaram-se os ajustes nas operações com derivativos, R$1,6 bilhão, os recolhimentos referentes à exigibilidade adicional sobre depósitos, R$378 milhões e os relativos ao compulsório sobre os depósitos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), R$321 milhões.
As operações com títulos públicos federais no mês, incluindo a atuação do Banco Central visando o ajuste da liquidez do mercado monetário, determinaram expansão de R$968 milhões. No mercado primário, ocorreram resgates líquidos de títulos do Tesouro Nacional no total de R$4,9 bilhões, enquanto no mercado secundário as vendas líquidas somaram R$3,9 bilhões.
Os meios de pagamento, em seu conceito restrito M1, alcançaram R$185,5 bilhões em março, com recuo de 0,9% no mês e acréscimo de 18,1% em doze meses. Os saldos médios do papel-moeda em poder do público e dos depósitos à vista reduziram-se em 0,7% e 1,1% no mês. Quando considerado o período dos últimos doze meses, os referidos componentes cresceram 18,4% e 17,9%, respectivamente.
O conceito M2, que agrega ao M1 depósitos para investimentos, depósitos de poupança e títulos emitidos pelas instituições financeiras, apresentou elevação de 2,9% em relação a fevereiro e de 19,9%, ante março de 2007. O estoque de títulos privados, refletindo as captações líquidas de R$15,9 bilhões em depósitos a prazo, cresceu 5,8%, totalizando R$349,9 bilhões. Os depósitos de poupança cresceram 0,8% no mês, atingindo montante de R$242,4 bilhões.
O saldo de M3, conceito que agrega ao M2 as quotas de fundos de renda fixa e os títulos públicos federais que dão lastro à posição líquida de financiamentos em operações compromissadas entre o público e o setor financeiro, registrou alta de 1,4% em relação ao mês anterior, somando R$1,7 trilhão. O conceito M4, que compreende o M3 mais os títulos públicos de detentores não financeiros, apresentou saldo de R$2 trilhões em março, com crescimento de 1,3% no mês e de 19,9% em doze meses.
Em reunião de 27.3.2008, o Conselho Monetário Nacional (CMN) aprovou a programação monetária para o segundo trimestre de 2008, contemplando estimativas para os principais agregados monetários, conforme tabela abaixo. As projeções são consistentes com cenário de crescimento da renda e trajetória de taxas de juros compatível com a política econômica em curso.
II - Operações de crédito do sistema financeiro
As operações de crédito do sistema financeiro, após apresentarem evolução moderada nos dois primeiros meses do ano, registraram expressivo crescimento em março, evidenciando desempenho favorável das operações com recursos livres e com recursos direcionados. Esse comportamento decorreu, principalmente, da expansão dos financiamentos às empresas, com destaque para a sustentação das operações de capital de giro, compatível com o dinamismo da atividade econômica. O incremento dos empréstimos destinados às famílias continuou refletindo aspectos sazonais, com ênfase para a modalidade de crédito pessoal. Assinale-se ainda, a importante contribuição das operações de leasing, especialmente no financiamento para aquisição de veículos, tanto para pessoas físicas quanto para pessoas jurídicas.
O volume total dos financiamentos realizados com recursos livres e direcionados cresceu 3,5% em março, acumulando expansão de 31,1% em doze meses, ao atingir R$992,7 bilhões. Como resultado, a relação desse agregado com o PIB alcançou 35,9%, ante 35% em fevereiro último e 31,1% em março de 2007. Considerando-se a oferta de crédito sob a ótica do controle de capital das instituições financeiras, os empréstimos concedidos pelos bancos privados nacionais representaram 43,9% do total do sistema financeiro, cabendo às instituições públicas e estrangeiras, 34,3% e 21,8%, respectivamente.
A carteira de crédito com recursos livres, correspondente a 71% do total do sistema financeiro, somou R$705,3 bilhões, com acréscimos de 3,7% no mês e de 35,8% em relação a março de 2007. O resultado no mês foi determinado pela expansão de 5,1% nas operações contratadas com pessoas jurídicas, saldo de R$367,6 bilhões, enquanto, no segmento de pessoas físicas constatou-se aumento mensal de 2,2%, com o volume totalizando R$337,7 bilhões.
As operações de arrendamento mercantil concedidas aos segmentos de pessoas físicas e pessoas jurídicas somaram R$76,7 bilhões em março, revelando aumentos de 7,1% no mês e de 100,5% em doze meses. O resultado mensal refletiu os acréscimos respectivos de 7,4% e de 6,8% nos financiamentos destinados às famílias e às empresas, desempenhos associados, basicamente, à aquisição de veículos.
Os empréstimos realizados com recursos direcionados alcançaram R$287,4 bilhões, revelando crescimentos de 2,9% e de 20,7% em relação a fevereiro último e a março de 2007, respectivamente. A variação no mês foi impulsionada pela expansão de 3,5% nos financiamentos efetuados pelo BNDES, saldo de R$167,7 bilhões, com destaque para o aumento de 4,1% registrado nas operações contratadas de forma direta. As carteiras de crédito rural e habitacional registraram expansões mensais de 1,8% e de 2,5%, nessa ordem.
II.1 - Distribuição setorial do crédito
O estoque de crédito do sistema financeiro destinado ao setor privado totalizou R$973,2 bilhões em março, constatando-se incremento de 3,5% no mês, associado, basicamente, à maior demanda de recursos bancários por parte dos ramos industrial e de outros serviços, além do aumento sazonal verificado no segmento de pessoas físicas.
Dessa forma, os financiamentos concedidos à indústria somaram R$230,5 bilhões, revelando incremento mensal de 5,3% no mês, com ênfase para os setores de petroquímica, energia e agroindústria. As operações realizadas com o segmento de outros serviços apresentaram expansão de 4,8% no mês, ao atingir R$165,9 bilhões, destacando-se os ramos de energia, transportes e telecomunicações. As operações de crédito destinadas ao comércio evoluíram 3,1% no mês, totalizando R$102 bilhões. Os empréstimos contratados pelas famílias alcançaram R$334,1 bilhões, com acréscimo de 2,2% no mês, refletindo, principalmente, a maior procura das modalidades de crédito pessoal e de aquisição de veículos.
A carteira de crédito rural alcançou R$92,3 bilhões em março, registrando expansão mensal de 1,8%, com destaque para o aumento das modalidades de investimentos e comercialização. Os financiamentos destinados à habitação, que incluem pessoas físicas e cooperativas habitacionais, totalizaram R$48,4 bilhões, com crescimento de 2,6% no mês, influenciado, principalmente, pela utilização dos recursos da caderneta de poupança e do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS).
Os créditos contratados com o setor público somaram R$19,5 bilhões em março, com incremento de 3,6% no mês. Esse comportamento decorreu do aumento de 12,9% na dívida bancária contraída pelo governo federal, saldo de R$4 bilhões, com ênfase para o segmento de geração de energia. Os financiamentos contratados pelos governos estaduais e municipais mostraram variação de 1,5% no mês, atingindo R$15,5 bilhões, com destaque para o financiamento de saneamento básico.
II.2 - Operações com recursos livres - Crédito referencial para taxas de juros
As operações de crédito referencial totalizaram R$558,4 bilhões em março, registrando incremento de 3,1% no mês e de 30,2% em doze meses. Em função desse resultado, essas operações passaram a representar 79,2% do volume de crédito livre. O desempenho mensal foi determinado, predominantemente, pelos financiamentos para pessoas jurídicas, os quais apresentaram expansão de 4,5% no mês, totalizando R$304,8 bilhões.
Nesse contexto, destacaram-se as modalidades referenciadas em moeda estrangeira, cujo saldo evoluiu 10,3% no mês, atingindo R$78,5 bilhões. As operações de repasses externos apresentaram crescimento mais relevante, variação de 15,9% no mês e estoque de R$31,4 bilhões. A maior demanda por esses empréstimos foi condicionada, principalmente, pelas mudanças ocorridas nas regras de tributação, implementadas pelo Decreto Presidencial 6.391, de 12 de março de 2008. Com a revogação do benefício fiscal relativo à cobrança do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) nas operações de crédito com repasses externos, cuja efetividade se deu a partir de 17 de março, observou-se concentração de contratações no período precedente a esta data.
As carteiras vinculadas a recursos domésticos para pessoas jurídicas registraram incremento de 2,6% no mês, totalizando R$226,3 bilhões. A contínua expansão dos empréstimos para capital de giro, modalidade mais relevante desse segmento, com estoque de R$109,9 bilhões, expressa pelo crescimento de 56,6% nos últimos doze meses e de 2,9% no mês, permanece determinando o comportamento das carteiras lastreadas por captações internas. A trajetória crescente das operações de capital de giro vem acompanhando o ciclo de dinamismo da atividade econômica, evidenciado pelo aquecimento dos investimentos e do consumo, aspecto que reforça a necessidade de recursos para financiar os gastos operacionais das empresas. Outro estímulo ao aumento na procura por essa linha de crédito relaciona-se ao alongamento no prazo dessas operações, as quais já são contratadas em até dez anos.
O crédito destinado às pessoas físicas somou R$253,6 bilhões em março, com crescimentos de 1,4% em relação a fevereiro e de 24% em doze meses. Ressalte-se o desempenho da modalidade de crédito pessoal, com aumento mensal de 2,2%. Os empréstimos consignados em folha de pagamento, que respondem por 56,4% da carteira de crédito pessoal, mostraram incremento de 2,6% no mês e de 30,9% em doze meses, alcançando R$69,2 bilhões.
A taxa média de juros relativa às operações de crédito referencial atingiu 37,6% a.a. em março, com aumento de 0,2 p.p. no mês e retração de 0,9 p.p. em doze meses. O resultado verificado no mês decorreu da elevação nas taxas destinadas às pessoas jurídicas, compensada, parcialmente, pela redução nas taxas das operações com pessoas físicas.
Nesse sentido, a taxa média dos financiamentos destinados às empresas cresceu 1,7 p.p. em março, situando-se em 26,5% a.a., com destaque para o incremento mensal de 5,5 p.p. nas operações pós-fixadas, associado, em parte, à flutuação entre as cotações do dólar à vista e no mercado futuro.
Em sentido oposto, o custo médio dos empréstimos para pessoas físicas diminuiu 1,2 p.p. em março, atingindo 47,8% a.a. Esse desempenho decorreu principalmente da queda de 2,1 p.p. no custo médio das operações de crédito pessoal, que alcançou 50,5% a.a., e do recuo de 1,1 p.p. nas taxas médias de financiamentos para aquisição de veículos, 30,1% a.a. Em sentido inverso, os encargos referentes ao cheque especial aumentaram 3,8 p.p., situando-se em 149,8% a.a.
O spread bancário registrou decréscimos de 0,6 p.p. no mês e de 1,1 p.p. nos últimos doze meses, alcançando 25,4 p.p. O resultado no mês decorreu da queda de 1,6 p.p. nas operações com pessoas físicas e da elevação de 0,6 p.p. com pessoas jurídicas, cujos spreads situaram-se em 35,3 p.p. e 14,7 p.p., respectivamente.
A taxa de inadimplência do crédito referencial, considerados os atrasos superiores a noventa dias, diminuiu 0,3 p.p. no mês, alcançando 4,1%. No segmento de pessoas físicas foi observada a mesma variação, com o índice atingindo 6,8%.