Economia

Ibovespa cai forte com prisão de Temer nesta quinta-feira

Principal índice dos negócios paulistas encerrou o dia em forte queda de 1,34%. Temor gira em torno da Previdência

Gabriel Ponte*
postado em 21/03/2019 21:06

Principal índice dos negócios paulistas encerrou o dia em forte queda de 1,34%. Temor gira em torno da Previdência

A notícia da prisão do ex-presidente da República, Michel Temer, além do ex-ministro de Minas e Energia, Moreira Franco, caiu como um balde d;água fria aos agentes econômicos que operam no mercado financeiro. Repercurtindo a detenção de Temer, o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), sofreu forte recuo na sessão de negócios desta quinta-feira (21/03), encerrando pregão aos 96.729 pontos, em queda expressiva de 1,34%.

Os donos do dinheiro temem que, com a prisão de Temer, as relações entre os poderes executivos e legislativos e a força-tarefa da Operação Lava-Jato sejam agravadas. Há o temor, também, de que os desafios que envolvem a tramitação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Previdência, no Congresso Nacional, sejam acentuados. Na quarta-feira (20/03) a equipe econômica apresentou o texto que contempla a aposentadoria dos militares, estimando, em um período de dez anos, a economia de R$ 10,45 bilhões, o que provocou um movimento de realização, por parte dos investidores, naquele dia.

Os efeitos da prisão do ex-presidente também foram assimilados nos CDS (espécie de seguro que mensura o risco de calote de um país), que alcançou, durante o dia, os 165 mil pontos. Raphael Figueredo, sócio-analista da Eleven Financial Research, afirmou que a notícia desviou a atenção para tramitação da Previdência, estressando os investidores.

;A prisão de um ex-presidente não é novidade no país. Isso acaba gerando um mal humor intenso para os negócios. Na minha visão, foi um desvio de foco. Já tínhamos, no início do pregão, a repercussão em torno do texto da Previdência, a qual engloba os militares. Essa notícia só não foi pior, porque o investidor estrangeiro continua fora do país. Esse tipo de situação, aos olhos do exterior, tem um impacto muito forte;, contextualizou.

No que tange o poder executivo, de acordo com Figueredo, a missão, agora, é mostrar ao investidor que a tramitação da PEC da Previdência ocorrerá sem agravantes. ;O papel do governo, sob a ótica do investidor, é mostrar pulso quanto à governabilidade, que significa manter contato diário com sua base, ainda que aos trancos e barrancos, para que se crie um ambiente viável de negociação para aprovação da reforma;, completou. O mercado teme que a prisão tumultue o MDB, partido de Temer, que tem a maior bancada no Senado Federal.

Também ontem, o dólar norte-americano teve forte valorização, diante do real, em meio à prisão do ex-presidente. A divisa estrangeira encerrou o dia cotada a R$ 3,803 a venda, em alta de 0,93%. ;A situação como um todo é bem complicada. Levando em conta a credibilidade do país, temos dois ex-presidentes presos (Lula foi detido pela Polícia Federal em abril de 2018) em menos de um ano. O investidor internacional olha para essas situações ao analisar o país;, disse Jefferson Laatus, sócio-analista do Grupo Laatus. O especialista em dólar também afirma que um segundo fator para preocupação, por parte do mercado financeiro, é o MDB.

;Os agentes ficam apreensivos em torno da eventual ligação de políticos à prisão. O partido tem uma bancada importante para a aprovação da Previdência;, disse. Ainda segundo Laatus, no cenário externo, a guerra comercial entre Estados Unidos e China, além do imbróglio envolvendo o Brexit, corroboram para o estresse da moeda. ;Não há cenário para o dólar voltar a ser negociado abaixo dos R$ 3,80. A tendência é ficar caro, a não ser que, na conjuntura doméstica, as notícias sejam positivas, como a aprovação da Previdência;, completou.

De acordo com o economista Daniel Xavier, além de ter acompanhado a prisão do ex-presidente Temer, o mercado continuou a analisar a proposta da Previdência que inclui os militares. ;A exclusividade embutida na proposta, sendo a única categoria contemplada com um plano de reestruturação de carreira, com ajustes e benefícios, foi um privilégio e não está tendo uma repercussão boa. Isso também estende-se aos cálculos em torno do impacto fiscal;, analisou.

Para Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset, o Ibovespa, que alcançou, na segunda-feira, o patamar dos 100 mil pontos, dependerá da conjuntura econômica para que volte a atingir novas altas. ;O fato de atingir os 100 mil pontos trata-se apenas de um fator numérico. Na verdade, podemos mensurar, positivamente, os novos níveis, quando o Ibovespa alcançar a faixa entre 120 mil e 125 mil pontos, o que, de fato, seria um intervalo histórico. Os 100 mil pontos é mero psicológico;, disse.

*Estagiário sob supervisão de Anderson Costolli

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