Correio Braziliense
postado em 29/07/2020 06:00
O Brasil perdeu quase 1,2 milhão de vagas com carteira assinada no primeiro semestre deste ano. O resultado é o pior da série histórica do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) e reflete o impacto da pandemia do novo coronavírus no mercado de trabalho brasileiro. Em junho, porém, os dados foram melhores que o esperado, reforçando a tese de que o o momento mais grave da crise causada pela covid-19 ficou para trás, embora ainda haja muita incerteza pela frente.
Segundo o Caged, 1.198.363 de postos de trabalho formais foram fechados no país nos seis primeiros meses deste ano. O resultado reflete uma queda de 18,3% nas contratações, que somaram 6.718.276 no período; e um aumento de 1,3% nas demissões, que chegaram a 7.916.639.
“É natural que isso aconteça. Esta é a maior crise da história do país”, comentou o secretário de Trabalho do Ministério da Economia, Bruno Dalcolmo. Ele lembrou que, “quando a crise do coronavírus chegou, e ela chegou com força, alguns empresários demitiram e, seguramente, todos evitaram as contratações, à exceção dos setores que continuaram com um bom desempenho”.
A destruição do emprego formal foi puxada pelos setores econômicos que mais sofreram os impactos da pandemia. Só os serviços e o comércio, que ainda têm que lidar com as medidas de distanciamento social, por exemplo, fecharam 982,2 mil vagas. E a indústria seguiu essa tendência, eliminando mais 246,5 mil postos de trabalho.
“Não surpreende o fato de esses setores serem os mais negativos do ano, porque foram impactados diretamente pelo fechamento da economia e vêm amargando perdas fortes de receita”, explicou Fabio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC). Só as atividades que não foram impactadas pela pandemia, como a agropecuária (62,6 mil vagas) e a saúde (43,1 mil vagas), conseguiram fechar o semestre com um saldo positivo de vagas.
Melhora
Os dados do Caged, contudo, também trouxeram “notícias positivas”, segundo o secretário especial de Previdência e Trabalho, Bruno Bianco, pois mostraram uma desaceleração do fechamento de postos de trabalho ao longo do tempo. O país perdeu 900 mil vagas formais só em abril, no auge da crise da covid-19, mas viu o saldo negativo recuar para 350,3 mil, em maio, e para 10,9 mil em junho. O dado de junho, por sinal, veio bem melhor que as expectativas. “É uma recuperação significativa, que demonstra uma melhora clara do mercado de trabalho”, analisou Bianco.
O governo explicou que, depois do choque causado no início da pandemia, houve um aumento de 43% nas contratações entre abril e junho, além de uma queda de 41% nas demissões. E a melhora foi observada praticamente em todos os setores. A agropecuária seguiu forte e gerou 36,8 mil vagas em junho. Já a construção civil saiu de um corte de 20,9 mil para um saldo positivo de 17,2 mil vagas, o que reflete o aquecimento do mercado imobiliário e o fato de as obras não terem parado na quarentena, segundo a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC).
Os demais setores tiveram redução significativa do fechamento de postos de trabalho. Nos serviços, por exemplo, o saldo negativo caiu 152,3 mil, em maio, para 44,8 mil em junho, já com um saldo positivo de 12,2 mil postos no ramo de serviços de informação, comunicação e atividades financeiras e administrativas.
“O dado de junho foi uma surpresa e pode ser visto como um resultado positivo, porque a expectativa era de uma destruição de 220 mil vagas no mês”, disse o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez.
Segundo ele, o dado reforça o entendimento de que, depois do baque de abril, a economia brasileira começou a reagir.
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