O incentivo à leitura e a persistência em trabalhar no desenvolvimento dos alunos são os
segredos do projeto ;Produtor leitor: plantando histórias, colhendo os frutos;, capitaneado pela
professora Maria de Lourdes Severino Cosmo, do Centro de Ensino Fundamental (CEF) Cerâmicas
Reunidas Dom Bosco, na região rural de Planaltina (DF). O trabalho de quatro anos junto a um
grupo de estudantes rendeu a vitória da etapa regional da 11; edição do Prêmio Professores do
Brasil (PPB), na categoria ;Anos iniciais do ensino fundamental/4; e 5; anos;.
Agora, ela e a
professora Vandete Pereira Lima, da Escola Classe n; 8 do Cruzeiro (saiba
mais), fazem parte do grupo de 30 educadores finalistas do prêmio nacional. A solenidade
de divulgação dos resultados será no Rio de Janeiro, em 29 de novembro. Ao todo, serão seis
ganhadores, um para cada categoria do prêmio (saiba quais são abaixo).
De acordo com o Ministério da Educação (MEC), 4.040 professores da educação básica da rede
pública de todo o país se inscreveram na competição, cujo principal objetivo é reconhecer o
trabalho de docentes que contribuem de forma relevante para a área no país. Cada ganhador da
etapa regional levará para casa R$ 7 mil e um troféu, além de ter a viagem custeada pela
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Os seis vencedores
nacionais ganharão ainda R$ 5 mil adicionais e outro troféu.
Projeto alinha-se à realidade da comunidade escolar
Não é a primeira vez que a professora Lourdes se inscreve no prêmio. Sempre buscando projetos
inovadores para facilitar o aprendizado do conteúdo pelos alunos, ela foi terceira colocada na
etapa estadual do PPB em 2017. Desta vez, superou com folga o melhor desempenho que tinha até
então. ;A ficha está caindo devagarzinho;, confessa a educadora. ;Os outros projetos finalistas
são muito bons. Ver o meu trabalho contemplado como uma referência é um sonho. Mais que a
premiação, é o reconhecimento de que estou no caminho certo;, comemora.
Responsável pelo ensino de língua portuguesa, história e geografia aos alunos do 5; ano que
têm, em média, 11 anos, ela conta que o projeto ganhador da etapa regional é apenas um dos cinco
que ela desenvolve na escola ; um para cada dia da semana. ;O ;produtor leitor; faz parte de um
projeto macro que ocorre de segunda a sexta;, afirma. Se algo pode resumir a motivação da
professora, é o seu amor pelos alunos, que acompanha há quase quatro anos. ;Eu peguei essa turma
em 2015, quando eles eram do segundo ano e estavam saindo do processo de alfabetização. Comecei
a trabalhar com eles e procurei dar continuidade;, relembra. ;Na Secretaria de Educação, existe
uma pontuação para escolher a turma. Continuei com eles em 2016 e, em 2017, pedi a um colega,
que tinha uma pontuação maior do que a minha, para deixar eu permanecer com o grupo;, diz. Da
turma de 24 alunos em 2018, 20 estão com a professora desde 2015.
Conhecendo melhor cada aluno, ela traçou o planejamento para desenvolvimento da habilidade de
leitura. ;Passamos um mês programando a rotina do ano. Sabia em que nível eles estavam. Muitos
deles chegam alfabetizados e acabam esmorecendo, porque já sabem ler e escrever. Fiz eles
acreditarem que a leitura poderia fazer deles pessoas diferentes;, mostra.
A realidade socioeconômica das crianças da escola situada na área rural de Planaltina é
diversa. ;Parte deles mora na região circunvizinha da escola, outros moram em Formosa, mas tem
aluno que mora a cerca de uma hora do colégio. Alguns moram em assentamentos e os pais, em sua
maioria, são chacareiros ou trabalham em fazendas;, afirma.
Em sala ou debaixo da árvore
Não à toa, o nome do projeto busca trazer valor à origem rural dos alunos. Todas as
segundas-feiras, a professora se reúne com eles, mas o cenário varia. Pode ser na sala de aula
ou debaixo de um pé de manga. Usando chepéus de palha, as crianças se reúnem e formam a roda de
leitura, que começa sempre com um texto novo, trazido por Lourdes. ;Depois, eles têm que
ilustrá-lo, partindo do que entenderam do texto;. O segundo momento é de leitura em voz alta.
;Vamos trabalhando oralidade e a compreensão do texto, que é algo que os professores perdem, às
vezes;, observa. No fim da aula, eles preenchem uma ficha de leitura, destinada a uma pasta
específica.
A jornada de aperfeiçoamento da leitura não para por aí. Para sair da mesmice, a pedagoga
comprou uma caixinha de som e dois microfones, encomendou um palanque e um pódio, do primeiro ao
terceiro lugar. ;No último momento de leitura, escolho os melhores e premio com as medalhas de
ouro, prata e bronze. Faço de forma que todos na sala tenham medalha. Ninguém fica excluído;,
conta.
Histórias plantadas rendem frutos
O projeto é tão contagiante que traz, constantemente, os olhares curiosos dos outros alunos e
professores com o ambiente agradável promovido pela professora. ;A nossa alegria é tanta que as
pessoas olham até desconfiadas e se perguntando ;porque esse povo é tão feliz?;. Nunca estou
cansada ou triste;, garante Lourdes.
O nome do projeto não mente. As histórias plantadas já estão rendendo frutos. ;Eles são
formidáveis. Onde chegam, são sucesso. São alunos que leem e escrevem com uma maestria incrível,
com coerência de ideias, contextualização, interpretação do texto e uma criticidade incríveis.
Como cidadãos, ninguém tira isso deles;, diz.
Com viagem marcada para a etapa nacional no Rio de Janeiro, ela admite que pode dar uns
;gritinhos; e vibrar se conquistar mais um prêmio. No entanto, valoriza e se satisfaz com os
resultados alcançados. Ver os alunos onde estão é minha maior premiação. Se ganhar o prêmio
nacional, é um bônus, claro, mas já somos vencedores.;
Saiba mais sobre o Prêmio Professores do Brasil
Conheça as seis categorias tradicionais
1-Educação infantil/creche
2-Educação infantil/pré-escola
3-Anos iniciais do ensino fundamental/1;, 2; e 3; anos
4-Anos iniciais do ensino fundamental/4; e 5; anos
5-Anos finais do ensino fundamental/6; ao 9; ano
6-Ensino médio
[SAIBAMAIS]
*Estagiário sob supervisão de Ana Sá