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Comunidade escolar está apreensiva com a possibilidade de volta às aulas

Pais e professores de colégios cívico-militares e militares do DF são contra a possibilidade de reabertura. A SEE-DF afirma que gestores e professores serão consultados

Correio Braziliense
postado em 22/04/2020 15:27
Na última segunda-feira (20), em reunião no Palácio do Planalto, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, e o presidente Jair Bolsonaro levantaram a possibilidade de reabertura de escolas cívico-militares e militares do DF. A hipótese assustou a comunidade escolar desses colégios, que criaram petição on-line para barrar essa possível volta às aulas na próxima semana. A petição, até a tarde desta quarta-feira (22), contava com mais de 15 mil assinaturas.
 
Fachada do Colégio Cívico-Militar CED 03 de Sobradinho 

A comissão de pais, que se formou para a organização da petição, informou que a reivindicação que fazem é sobre a apresentação de estudo científico que aponte a segurança para o retorno às aulas. Além do respeito à isonomia e igualdade, previsto na Constituição.

Tiago Pessoa, 38 anos, é pai de aluna do Colégio Militar Dom Pedro II (CMDPII), e afirma que, caso as aulas retornem, não mandará a filha para à escola. “Temos crianças com problemas respiratórios, diabéticos, pessoas do grupo de risco em casa. A última coisa que deve voltar são as escolas” defende. 

Alessandra Freire, 44 anos, psicóloga e mãe de aluno do Colégio Militar de Brasília (CMB) está assustada com a possibilidade de retorno das aulas do filho na próxima semana. “Querem colocar nossos filhos no front, não vamos aceitar isso. Vamos recorrer, caso realmente decidam pela volta das aulas na próxima semana”.
 

Saiba Mais

 

Joana Lopes, 38 anos, mãe de aluno também do Colégio Militar de Brasília (CMB) afirma que essa medida é precipitada. “As crianças não têm as instruções necessárias para esse retorno e as escolas não estão preparadas para esse momento.”

O que dizem gestores e professores 

O diretor do Colégio Cívico-Militar CED 03 de Sobradinho, Geraldo Calado, conta que pais e professores pedem medidas que os deixem mais seguros para o retorno às aulas. “A maioria dos professores é contra a volta às aulas. Muitos pais, a princípio, eram favoráveis a essa possibilidade, mas mudaram de opinião, ambos querem mais segurança para poder voltar à rotina”, conta. No entanto, o diretor ressalta que se o Governo do Distrito Federal (GDF) optar por reabrir as escolas, ele terá que acatar a decisão. O colégio tem cerca de 1700 alunos.

Diretores da escolas cívico-militares vão se reunir na tarde desta quarta-feira (22) para discutir se existe a possibilidade de reabrirem na próxima semana. 

Cosme André, 52 anos, é professor no Centro de Ensino Fundamental 05 do Gama, e diz estar preocupado com o que pode acontecer com a saúde de toda a equipe escolar, principalmente dos alunos especiais. “Passei por uma cirurgia recentemente, sou hipertenso, não me sinto seguro em voltar a trabalhar. A escola onde trabalho atende alunos especiais e eles são do grupo de risco, é preciso levar essas questões em consideração."

Palavra de especialista

O professor de epidemiologia e membro do Comitê Gestor do Plano de Contingência da Covid-19 (COES) da Universidade de Brasília (UnB), Wildo Navegantes de Araújo, 46 anos, não considera a possibilidade de reabertura dos colégios prudente. “É necessário que o GDF esclareça qual é a base científica que estão levando em conta para cogitar essa reabertura de escolas”.

Além disso, o professor de epidemiologia da UnB esclarece, que por mais que crianças e adolescentes não estejam no grupo de risco, existe uma equipe de profissionais para o funcionamento da rotina escolar. “O efeito não vai ser sentido de imediato, pode demorar até 14 dias para vermos os efeitos dessa medida de reabertura. Mas não tenho dúvidas, que caso as aulas voltem, haverá aumento maior no número de casos de Covid-19 no DF”, afirma o especialista.

Para se pensar na possibilidade de retorno às aulas, Wildo Navegantes de Araújo diz que é preciso que as escolas estejam preparadas com equipamentos para evitar a disseminação do vírus. Além disso, enfatiza que é imprescindível que haja também uma melhor estrutura nos hospitais para atender mais casos de pessoas infectadas que pode vir a ocorrer, caso a decisão seja tomada.

Posicionamento do Sinpro/DF

A diretora do Sindicato dos Professores do Distrito Federal (Sinpro/DF), Rosilene Correia, 57 anos, afirma que o órgão é contra a reabertura de qualquer escola neste momento. “Nós não temos nenhum dado que possa dar segurança à população para tentar retomar a rotina de qualquer escola”, afirma. 

A diretora do Sinpro/DF ressalta que o governador, Ibaneis Rocha, não explicou ainda o que tem de diferente nas escolas militarizadas para as chamadas escolas regulares, e quais medidas seriam tomadas para dar segurança à comunidade escolar. “Estamos esperando que nos chamem para uma conversa. Queremos resolver no bom diálogo, que nos apresentem dados que mostrem que é seguro reabrir as escolas. Mas caso seja necessário, acionaremos a justiça para evitar a reabertura”.

Posicionamento da Secretaria de Educação

Em nota, a Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEE-DF) informou que o governador, Ibaneis Rocha, irá ouvir o posicionamento da Secretaria de Educação e da Secretaria de Saúde para deliberar alguma decisão a respeito da reabertura das escolas cívico-militares e militares na próxima semana. A SEE-DF afirma que também aguarda parecer da Secretaria de Saúde e irá ouvir gestores e professores das escolas envolvidas.
 
 
*Estagiária sob supervisão de Ana Sá 

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