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79% dos alunos da rede pública recebem algum tipo de atividade remota

Crescimento é maior nas regiões Norte e Nordeste, indica pesquisa DataFolha encomendada pela Fundação Lemann, Itaú Social e Imaginable Futures

Correio Braziliense
postado em 23/07/2020 23:44
No CED 3 de Sobradinho, alunos são incentivados a usar plataforma on-lineA crise do novo coronavírus trouxe desafios para a educação brasileira, mas, apesar disso, a rede de ensino pública do país vem mostrando uma grande mobilização para aumentar a oferta de atividades aos alunos de maneira remota. É o que mostra a segunda pesquisa feita pelo DataFolha, encomendada pela Fundação Lemann, Itaú Social e Imaginable Futures, realizada no período de 11 a 20 junho. Segundo o levantamento, 79% dos alunos da rede pública de ensino estão recebendo as atividades escolares de maneira não presencial. O percentual, que antes era de 74%, de acordo com a pesquisa Datafolha feita no mês de maio, aumentou de forma mais notável nas regiões Norte e Nordeste do país.

“Oito em cada dez famílias confirmam o recebimento das atividades pedagógicas a distância, e o número cresceu mais nas regiões Norte e Nordeste.”, diz Patrícia Mota Guedes, gerente de Pesquisa e Desenvolvimento do Itaú Social. A primeira pesquisa Datafolha sobre o tema foi realizada em maio de 2020, a qual o percentual de alunos que recebiam atividades escolares a distância durante a pandemia era de 74%. A etapa de ensino que obteve um maior crescimento foram os anos iniciais do ensino fundamental (1º ao 5º ano). Houve uma variação em torno de dois pontos percentuais nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste, já no Nordeste a variação foi de nove pontos e no Norte, oito. Aumentou de 70% para 79% a entrega de atividades nos anos iniciais, enquanto os anos finais (6º ao 9º ano) passou de 73% para 76%. No Ensino Médio, a variação foi de 86% para 84%.

Foram entrevistados para a pesquisa 1.018 pais ou responsáveis por 1.518 estudantes de escolas da rede pública municipal e estadual brasileira, com idade entre 6 e 18 anos, dos anos iniciais, finais (1º ao 9º ano) e ensino médio.

Relação aluno professor

Embora grande parte dos alunos da rede pública de ensino do Brasil esteja recebendo o conteúdo das aulas de forma remota, ainda existem alguns problemas a lidar. A pesquisa mostra que 31% dos pais e responsáveis temem que os estudantes desistam dos estudos por não conseguirem acompanhar o novo modelo de ensino a distância. O número aumenta em famílias que têm três ou mais estudantes em casa, passa a ser 38%.

O diretor do Centro Educacional 03 de Sobradinho I, Geraldo Calado, relatou que o percentual de alunos que não está recebendo os conteúdos de maneira on-line é mínimo. Ele explicou que a escola está incentivando o uso da plataforma virtual, para que o contato direto com os professores seja preservado. Além disso, o corpo docente está usando práticas pedagógicas que possam retomar o vínculo, antes comum em sala de aula, e isso envolve lives e o apoio dos professores aos alunos.

Para lidar com a evasão escolar do Ced 03, Geraldo explicou que o colégio entrou em contato com todas as famílias dos alunos, para resgatá-los à sala de aula, principalmente os que mostraram um maior distanciamento.

A pesquisa feita pelo Datafolha também aponta que a proximidade do aluno com o professor pode estimular os estudos. 82% dos estudantes dedicam mais de uma hora por dia aos estudos, enquanto 29% dedica mais de três horas. Aqueles que mantém um contato com o professor têm uma tendência de maior dedicação, sendo 31% dos que dedicam mais de três horas de estudo e 26% dos que têm uma carga horária mais reduzida, e não dispõem tanto contato com o docente.

De acordo com Patrícia Mota, este é o momento crucial para a valorização do trabalho de um professor. Eles estão  adaptando a um novo modelo de ensino. A gerente ressaltou, ainda, a importância do contato constante do estudante com o professor. “Para os alunos que contam com apoio do professor, o receio do abandono escolar cai, o estudante se dedica mais horas por dia. Quanto mais apoio mais motivação.”, ressalta Patrícia.

O psicológico dos alunos 

A pesquisa realizada no mês de junho pelo Datafolha, encomendada pela Fundação Lemann, Itaú Social e Imaginable Futures, também relatou a situação psicológica dos alunos que estão lidando com o ensino a distância. A ansiedade e a irritação são sentimentos persistentes nesse momento pandêmico, além do temor a volta às aulas. Muitos têm medo de serem contaminados pelo vírus ou não conseguirem acompanhar as atividades. 

Para 64% dos pais ou responsáveis, os estudantes estão ansiosos, 45% estão irritados, 37% tristes e 23% com medo do retorno ao colégio. De acordo com o número de estudantes por família, fica ainda mais fácil perceber esses comportamentos. Nas casas com três ou mais alunos, 72% estão ansiosos, 63% irritados, 50% tristes e 34% com medo de voltar à escola. 

O medo da contaminação pelo novo coronavírus no retorno às aulas é uma preocupação para 87% dos estudantes, enquanto 49% temem não conseguir acompanhar o ritmo das atividades e 43% não conseguem acompanhar as aulas. Entre a população de baixa renda, esse temor é ainda maior, 60% dos estudantes receiam não conseguir acompanhar as atividades e 53% o ritmo das aulas.

Pais aprovam o método híbrido

A pesquisa aponta que 89% dos responsáveis entrevistados apoiam a volta às aulas de forma híbrida, isto é, aulas virtuais conciliadas com presenciais. A região que mais apoia esse modelo é a Sul, com um percentual de 94%.

Além disso, os responsáveis também responderam sobre o que fazer para que o ano letivo de 2020 não seja desperdiçado: 73% defendem aulas aos sábados (o menor apoio a esse modelo está na região Norte, com um percentual de 62%); 72% citam a prorrogação do ano letivo de 2020 para 2021(o maior apoio à ideia está na região Centro-Oeste, com um índice de 80%; 68% defendem ter mais horas de aula por dia (maior apoio na região Nordeste 75%); 63% citam ter aulas em dias alternados ( com menor apoio ao modelo nas regiões Norte e Centro-Oeste, com 42%).

Erllaine Cristina, 33 anos, mora em Fortaleza — CE e sua filha cursa o 8º ano do ensino fundamental, na Escola Municipal de Tempo Integral Professor Ademar Nunes Batista. Erllaine é a favor do modelo remoto e conta que é a melhor forma de manter o ensino durante a pandemia. Além disso, a mãe conta que, apesar de tudo, a filha permanece motivada com os estudos, tem uma rotina bem traçada de atividades e os resultados do estudo a distância está sendo positivo.

*Estagiária sob supervisão de Ana Sá

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