Jornal Correio Braziliense

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Projeto reforça a cultura popular como atividade de educação integral

A iniciativa, vencedora do Prêmio Itaú-Unicef, ocorre em Major Sales, pequeno município do sertão potiguar, onde mestres, sanfoneiros, violeiros e cordelistas são convidados para passar esse conhecimento tradicional para crianças e adolescentes

O projeto Circulando a cultura na escola, que venceu o Prêmio Itaú-Unicef na categoria micro porte, tem como foco propiciar desenvolvimento infantil por meio da cultura popular. A cidade do Rio Grande do Norte em que a ação é executada, Major Sales, fica no sertão e é pequena: tem cerca de 4,8 mil habitantes e apenas três escolas municipais, duas na cidade e uma na zona rural. A iniciativa foi inscrita no concurso pelo trabalho feito com cerca de 600 alunos da Escola Municipal Antônio José da Rocha, que começou em 2010.
No entanto, o trabalho da ONG responsável, a Associação Comunitária Sociocultural Major Sales, começou antes, em 2006. A partir da iniciativa, violeiros, sanfoneiros, cordelistas, contadores de história e outros mestres de cultura da comunidade partilham o que sabem com os alunos. A presidente da instituição, Maria Carlos, conta que ganhar a honraria da Fundação Itaú Social e do Unicef foi uma surpresa, mas tinha certeza da efetividade e do mérito da iniciativa. "Eu sabia que o projeto preenchia as condicionalidades do edital e que seríamos, realmente, fortes concorrentes", revela.

A organização atende crianças e adolescentes em pontos de cultura; oferece oficinas de sanfona e inferências feitas por mestres de cultura nos colégios. "A cultura dos caboclos que existe lá é milenar. Também existe a cultura do rei do Congo que vem passando de geração em geração", afirma. "No período do contraturno, em que as crianças poderiam estar na rua, os alunos vêm e fazem até os deveres da escola, desenvolvem projetos culturais, produzem textos (que já viraram dois livros), frequentam cineclubes, tem atividades, oficinas de toque de sanfona", relata.
A partir daí, surgiu a Orquestra Sanfônica Mirim da cidade ; com alunos tocando sanfonas. Os efeitos do trabalho são nítidos, não apenas no aspecto educativo. "Isso tem elevado muito a autoestima dessas crianças. Uma delas até disse que antes elas eram inibidas, não tinham coragem de falar e, hoje, se expressam e se sentem mais gente, se sentem parte; são protagonistas dessas ações. E esse protagonismo passa para a vivência na escola também", observa.

*A jornalista viajou a convite da Fundação Itaú Social