Em cinco horas de prova neste sábado (2), os candidatos do vestibular de 2018 da Universidade de Brasília (UnB) tiveram de responder a 150 itens sobre português, literatura, geografia, história, artes, filosofia, sociologia e língua estrangeira (inglês, francês ou espanhol). Além disso, era preciso fazer uma redação expositivo-argumentativa sobre o tema ;A pressa nossa de cada dia: o tempo na contemporaneidade;. As questões foram marcadas por referências audiovisuais, a séries (Black Mirror e La Casa de Papel) e a filmes (Pantera Negra, As sufragistas, Viva ; A vida é uma festa e Coco antes de Chanel).
Audiovisual dá o tom
Para Leila Rabelo, professora de artes cênicas e visuais, do cursinho Exatas, isso é muito positivo. ;Eu gostei bastante. O eixo norteador foi a linguagem do cinema. E essas referências recentes geram identificação e fazem os meninos gostarem um pouco mais de fazer a prova. Quando é um teste muito só técnico, há dissociação;, acredita. As obras audiovisuais foram usadas com propósito. O filme Pantera Negra, por exemplo, serviu de base para falar sobre a história dos negros e racismo.
Black Mirror trouxe discussões sobre cyberarte (liguagem da arte via meio digital) e tecnologia. ;Na parte de artes cênicas, a banca fez um panorama da história da arte, trazendo um item relacionado a cada movimento; o teste abordou ainda teatro do oprimido, tragédia x comédia, Nelson Rodrigues e Stanislavski;, conta. O estilo da prova, para Leila, lembrou um pouco mais o modelo do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). ;Alguns itens eram mais amplos, interpretativos;, aponta. ;O vestibular estava com uma pegada mais contemporânea, puxado mais para a atualidade do que para o passado;, comenta.
Algo que poderia trazer um pouco de dificuldade é compreender o significado de alguns termos. ;O sentido muda dependendo do contexto. Alguns itens faziam você ficar pensando no que a banca estava querendo dizer. Por exemplo, o termo ;idealista; foi usado para dizer que alguém tem um ideal ou é porque idealiza um movimento?;, questiona. Para ter bom desempenho no teste, Leila destaca que só o tempo em sala de aula é insuficiente, seja no cursinho, seja na escola. ;Nossa área tem um tempo muito curto. Uma aula semanal não consegue cobrir tudo;, comenta. Por isso, o estudo sozinho faz toda a diferença.
Atualidades são fundamentais
Também professor do Exatas, o bacharel em geografia pela UnB Washington Neto concorda com a diferença que faz o interesse do aluno. ;O que difere é a vontade do garoto;, afirma. Segundo ele, os itens do vestibular, não apenas de geografia, foram bastante fiéis à matriz curricular proposta, sem deixar muita coisa de fora. ;Foi uma das provas mais coerentes nesse sentido;, aponta ele que dá aulas também na Secretaria de Educação do DF. ;A prova de geografia estava muito interessante, cobrava um panorama bem diversificado, principalmente de características de globalização, consumo e produção;, observa.
Outros assuntos abordados foram energia renovável e guerra da Síria. Para além de compreender o conteúdo, Neto destaca que os estudantes precisavam ter noção de alguns conceitos para conseguir boas notas. Entre eles, cadeia produtiva e redes sociais. Uma atividade fundamental, de acordo com ele, para ter bom desempenho em vestibulares como este é estar ligado às notícias, acompanhar as atualidades.
;Aquele aluno que não acompanha nada será prejudicado;, diz. ;O ideal seria que os estudantes gastassem quatro horas por dia só lendo atualidades, mas eles não têm tempo para isso;, percebe. Para facilitar, Washington Neto resume e comenta os principais acontecimentos da atualidade em um canal no YouTube.
Nomenclatura
Na avaliação de Sílvia Tominaga, professora de gramática do cursinho Exatas, os itens da disciplina estavam mais diretos do que em outras edições. Isso não quer dizer que estavam mais fáceis. ;O texto não te ajudava. As questões eram resolvidas por critérios de análise sintática;, afirma. Assim, era preciso saber algumas nomenclaturas de cor: não bastava saber usar o português corretamente.
;Quem não sabia dar nome a isso precisava pular ou chutar. Esse tipo de prova privilegia o bom aluno, aquele que está estudando mesmo;, diz. ;Oração de período composto, relações de subordinação, análise sintática do período simples e pontuação apareceram nos itens;, informa. No geral, ela considera que a prova estava tranquila e bem escrita, além de menos difícil e conflituosa que em outras edições do vestibular. ;Os textos eram tranquilos e fáceis de ler, alguns eram lúdicos, sobre filmes.;
A redação
Lucília Garcez, professora de português aposentada da UnB e escritora, analisa a proposta de redação do vestibular, a partir do tema ;A pressa nossa de cada dia: o tempo na contemporaneidade;. Confira:
;O tema é muito interessante. A UnB sempre procura um assunto que seja contemporâneo e esteja dentro do universo de preocupação dos jovens. É difícil selecionar tema para provas como esta porque você não pode optar por algo muito óbvio nem por algo que esteja acontecendo agora, como a greve dos caminhoneiros. Ao mesmo tempo, não pode ser uma temática muito específica que seja comum a poucos jovens. O assunto do tempo atende esses critérios e casa com o estilo de outros temas cobrados antes pela instituição, é algo que estimulam a reflexão. O importante num texto argumentativo é ter uma opinião, um eixo a defender. E esse tema abre espaço para muitas vertentes de reflexão. Todo mundo hoje se queixa da falta de tempo, da necessidade de ter mais tempo; As pessoas passam muito tempo nas redes sociais, é um período roubado de outras atividades mais interessantes ou mais produtivas. Para desenvolver bem um texto sobre isso, seria preciso dedicar pelo menos uma hora para fazer rascunho, reler, reorganizar as ideias, passar a limpo. Muitas vezes, as pessoas saem muito cedo da prova porque desistiram, acharam que não dariam conta de tantos itens e ainda da redação.;