Caracas - A publicação na sexta-feira das primeiras fotografias do presidente venezuelano, Hugo Chávez, desde sua última operação em dezembro provocou um alívio entre seus seguidores, mas deixou sem resposta a pergunta sobre se estará em condições de voltar à Venezuela para governar, segundo especialistas.
"Embora as fotografias tragam calma a uma parte dos venezuelanos, principalmente aos simpatizantes de Chávez, não são um elemento contundente que aponte um cenário de recuperação do presidente e de que é capaz de retomar suas funções", disse à AFP o sociólogo Ignacio Ávalos. "A incerteza política prossegue", ressaltou este professor da Universidade Central da Venezuela.
Nas imagens, apresentadas pelo ministro da Ciência e genro de Chávez, Jorge Arreza, o presidente aparece acompanhado por suas duas filhas mais velhas, Rosa Virginia e María Gabriela, com um exemplar do jornal oficial cubano Granma de quinta-feira.
[SAIBAMAIS]As reações de seus seguidores não demoraram a aparecer. No Twitter, a hashtag #ChávezViveySonríe se manteve entre os temas mais populares do dia, e nas ruas seguidores do presidente mostravam cópias das imagens.
"As fotos conseguiram diminuir os níveis de ansiedade, após as opiniões da oposição e dos meios de comunicação, que afirmavam que Chávez estava morto ou incapacitado", disse à AFP o analista político Farith Fraija. "Além disso, são uma forma de mostrar que o presidente está tomando as ações de governo, embora tenha um pouco de dificuldade na comunicação", acrescentou Fraija. Até agora, o governo não havia mostrado nenhuma imagem de Chávez desde sua quarta operação contra um câncer, no dia 11 de dezembro, ao mesmo tempo em que sustentava que ele segue no comando do país, tomando decisões e assinando decretos.
Em uma sociedade partida literalmente em dois, como a venezuelana, Ávalos afirma que as imagens foram encaradas de forma polarizada. "Os chavistas dizem ;o presidente não está tão mal quanto se dizia;, e os opositores falam de uma ;montagem; ou destacam sua incapacidade de falar", disse.
O líder opositor Henrique Capriles insistiu na sexta-feira que o governo mente sobre a saúde do presidente, porque há alguns dias dizia que podia falar e "agora diz que não pode". Arreaza destacou que o presidente "tem dificuldade para se comunicar verbalmente", mas "comunica perfeitamente suas decisões" de forma escrita.
Ao mesmo tempo, Arreaza advertiu que se trata de "uma recuperação lenta, um processo que envolve um tratamento muito duro que pode ter reações adversas". Chávez ainda tem um "longo caminho" até sua plena recuperação, indicou seu genro, sem fornecer uma data de retorno do presidente, reeleito em outubro para um novo mandato de seis anos.
Ávalos também destacou que ações paralelas do governo despertam suspeitas em parte da sociedade venezuelana. "Por um lado, estão as fotos de Chávez e a possibilidade de que retorne ou não ao comando e, por outro, se vê o vice-presidente (Nicolás) Maduro no que é mais ou menos uma campanha eleitoral: inaugura obras, fala na televisão e isso aponta para uma campanha de posicionamento de alguém que não era tão visível", disse.
Maduro foi designado por Chávez como seu sucessor caso ficasse incapacitado para governar.