Agência France-Presse
postado em 07/08/2013 13:43
Cairo - O primeiro-ministro egípcio Hazem Beblawi declarou nesta quarta-feira (7/8) que o governo não revisará sua decisão de dispersar os acampamentos de partidários do ex-presidente Mohamed Morsy , após a a presidência egípcia anunciar o fracasso da mediação internacional para resolver a crise política do país. O governo atribuiu o fracasso das negociações ao movimento Irmandade Muçulmana, que exige nas ruas o retorno ao poder do ex-presidente Morsy, destituído no dia 3 de julho por um golpe militar.Depois de dez dias de mediações diplomáticas europeias, americanas, africanas e árabes no Cairo, o governo instalado pelo exército pôs bruscamente um ponto final nas esperanças internacionais de encontrar uma solução pacífica negociada para o país. O comunicado da presidência sugere ainda que o governo poderia adotar iniciativas contra as manifestações de partidários de Morsy. A comunidade internacional teme ainda mais violência no país.
"A etapa dos esforços diplomáticos terminou hoje", afirma a presidência, em referência à mediação do subsecretário de Estado americano William Burns e do emissário da União Europeia (UE) Bernardino León, entre outros diplomatas que viajaram ao Cairo. "Os esforços não alcançaram os resultados esperados", completa o comunicado. "A Irmandade Muçulmana é responsável pelo fracasso dos esforços de mediação", afirma o comunicado da presidência.
O movimento islâmico mantém há mais de um mês dois acampamentos no Cairo que as forças de segurança ameaçam dispersar à força. Desde o final de junho, os confrontos entre partidários e detratores de Morsy deixaram mais de 250 mortos. Nesta quarta-feira (7), na península do Sinai, um ex-parlamentar foi assassinado por homens armados por demonstrar seu apoio ao exército.
As autoridades haviam intensificado há dias sua ameaça de dispersar à força os protestos nas praças de Rabaa al Adawiya e Nahda, onde se concentram milhares de partidários da Irmandade Muçulmana, à qual pertence Morsy. O governo autorizou há uma semana a polícia a "pôr fim ao terrorismo e à ameaça à segurança nacional" representadas por esses protestos. O chefe do poderoso exército e novo homem-forte do país, o general Abdel Fatah al Sisi, insistiu: "A polícia civil - e não os militares - porá fim a esses protestos e limpará as praças".
Quase toda a imprensa e grande parte da população vê nesta dispersão uma maneira de reativar a transição, no momento em ponto morto. Frente à firmeza de posições mostradas pelos dois setores confrontados, os emissários internacionais, entre eles a chefe da diplomacia da União Europeia, Catherine Ashton, e o secretário de Estado adjunto dos Estados Unidos, William Burns, tentavam conseguir moderação por parte das autoridades e que os islamitas se dispersassem.
Depois de prolongar por vários dias sua visita surpresa ao país, Burns abandonou o país nesta quarta-feira (7), segundo fontes aeroportuárias. O representante da União Europeia, Bernardino León, ainda continua no Cairo. Depois da queda do presidente Hosni Mubarak durante a denominada Primavera Árabe, no início de 2011, o Egito conheceu uma nova revolução em 30 de junho, quando milhões de manifestantes reclamaram nas ruas a saída de Mursi, acusado de ter assumido o poder em benefício da Irmandade Muçulmana, e de ter afundado a economia já por si exígua.
Em 3 de julho, o general Al Sisi, acompanhado de responsáveis religiosos e políticos, anunciou a substituição de Mursi por autoridades de transição, que prometeram uma nova Constituição e eleições gerais no mais tardar no início de 2014.
Desde esse dia, a Irmandade Muçulmana denuncia um golpe de Estado militar, principalmente com a prisão de vários de seus dirigentes, entre eles Mursi. O Guia Supremo da confraria, que se encontra foragido, deve ser julgado a partir de 25 de agosto junto com seus adjuntos, em prisão preventiva, por incitação ao assassinato. Os Estados Unidos têm dificuldade em denominar esta destituição do primeiro presidente eleito democraticamente no Egito porque, se classificar de golpe de Estado, isso os obrigará a interromper a ajuda de 1,5 bilhão de dólares ao país.