Sarajevo - Dois partidos políticos membros da coalizão no poder na Bósnia pediram neste domingo eleições legislativas antecipadas para acalmar a revolta popular, que tem se traduzido em violentas manifestações contra o governo e a miséria. "É imperativo parar a violência, restabelecer a segurança dos cidadãos e organizar rapidamente eleições antecipadas", indicou em um comunicado o Partido Social-Democrata (SDP). As eleições legislativas estão previstas para outubro.
O membro muçulmano da presidência tripartite da Bósnia e líder do principal partido político muçulmano (SDA), Bakir Izetbegovic, também instou eleições antecipadas. "O povo exige uma mudança no poder", afirmou Izetbegovic. "Acredito ser necessário eleições em três meses para oferecer às pessoas a possibilidade de eleger aqueles em que confiam", acrescentou.
[SAIBAMAIS]Durante o dia, em Sarajevo, centenas de manifestantes protestaram pacificamente em frente ao edifício incendiado na sexta-feira da presidência, para exigir a renúncia das autoridades.
"Nós queremos uma mudança de poder em todos os níveis. Temos fome. Já chega! O povo não tem o que comer. Somos uma bomba prestes a explodir", exclamou uma mulher de 50 anos, Belkisa Kovacevic, desempregada há anos.
Os manifestantes seguiram para uma delegacia de polícia para exigir a libertação de uma dezena de manifestantes detidos durante o protesto violento de sexta-feira, durante o qual os prédios da presidência e da administração regional de Sarajevo foram saqueados e incendiados.
Neste contexto de crise política e econômica, o representante da comunidade internacional, Valentin Inzko (Áustria), declarou em uma entrevista ao jornal Kurier que a União Europeia poderia enviar soldados à Bósnia, "em caso de escalada da situação".
Nesta ex-república iugoslava vive "a situação mais tensa desde o fim da guerra", explicou o diplomata austríaco. "Em caso de escalada da situação, nós deveremos analisar a possibilidade de um envio de tropas da UE", declarou. Quase 600 soldados europeus já estão estacionados na Bósnia, como parte da operação Eufor-Althea sob mandato da ONU.
Os protestos dos últimos dias são os maiores no país desde o final da guerra de independência, de 1992-1995, e deixam em evidência a revolta da população com dirigentes às voltas com conflitos políticos e incapazes de recuperar uma economia devastada.
Este pequeno país balcânico de 3,8 milhões de habitantes, afetado por uma corrupção endêmica, é um dos mais pobres da Europa. O desemprego afeta 44% da população economicamente ativa, mas o Banco Central estima que o número de desocupados seja de 27,5%, pois muitas pessoas trabalham na clandestinidade.