postado em 14/10/2014 13:08
Cidade do Vaticano - A abertura da Igreja para os divorciados que voltam a casar, aos homossexuais e às uniões estáveis, manifestada durante o sínodo dos bispos no Vaticano, recebeu duras críticas de setores conservadores da hierarquia da Santa Sé, que não aceita as reformas.Dois importantes cardeais, o alemão Gerhard Mueller, prefeito para a Doutrina da Fé, e o americano Raymond Burke, da prefeitura para a Assignatura Apostólica, expressaram à imprensa sua oposição a tais aberturas.
"Não me importa se alguns não concordam com minha opinião. Eu digo o que quero e, sobretudo, o que devo dizer como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé: a Igreja não pode reconhecer os casais homossexuais", declarou o alemão.
Mueller também criticou o método de trabalho do sínodo, que reúne quase 300 bispos e cardeais de todo o mundo e que, segundo ele, foi alterado com o objetivo de "manipular a informação" sobre os debates internos, pois divulga a intervenção, mas não o nome do autor.
Os dois também consideram que o documento que resume os debates a portas fechadas de 265 bispos de todo o mundo - com o título "Relatio post disceptationem" e que foi divulgado na segunda-feira (13/10) -, não reflete as diferentes posições.
Outros dois importantes cardeais, o italiano Camillo Ruini e o sul-africano Wilfrid Napier, chamaram de "perigosas" as aberturas aos divorciados que voltam a casas e aos homossexuais.
O diálogo aberto e sem rodeios que o papa Francisco estabeleceu dentro da Igreja para falar dos desafios representados pela transformação da família moderna é complexo e tortuoso.
A admissão do valor e do amor que existe entre os casais de fato ou que optam pela relação estável antes do casamento na Igreja, assim como a abertura aos homossexuais manifestada no documento de trabalho do sínodo, virou um verdadeiro "terremoto" pastoral.
"A questão homossexual nos interpela a uma reflexão séria sobre como elaborar caminhos realistas de crescimento afetivo e de maturidade humana e evangélica integrando a dimensão sexual: portanto se apresenta como um importante desafio educativo", afirma o texto, que recorda que para a Igreja "as uniões entre pessoas do mesmo sexo não podem ser equiparadas ao matrimônio entre um homem e uma mulher".
Já se sabia que os religiosos mais conservadores não ficariam calados sobre temas tão delicados, mas o que fica dos debates é a moderação de um bom número de bispos, que nesta terça-feira (14/10) elogiaram o documento por "captar adequadamente" o espírito da reunião.
[SAIBAMAIS]Diante das reações, os bispos também pediram que seja ressaltado o princípio de que o casamento não apenas é indissolúvel, como pode ser feliz e fiel e evitar centrar-se principalmente nas situações familiares difíceis.
Os debates prosseguem por grupos esta semana e depois a hierarquia da Igreja votará um documento final que será em seguida submetido para discussão com as "bases" em todo o mundo, antes do sínodo de outubro de 2015.