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Brasiliense relata horror durante o tiroteio em massa

Em entrevista ao Correio, brasiliense que estava dentro de uma sala de aula da escola atacada na Flórida descreveu o que aconteceu naquela tarde de terror

Rodrigo Craveiro
postado em 18/02/2018 10:24
Quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018, 14h23 (17h23 em Brasília). Mensagens desesperadas começavam a ser enviadas pelo celular, mas a falta de sinal as impediu de chegarem ao destino. ;Tiro. Tiro. Mãe. Estão atirando na escola. Mãe. Pelo amor de Deus. Mãe. Tô tremendo. Liga pra polícia. Mãe. (...) Vai ficar tudo bem. Eu te amo muito.; Dentro de uma sala de aula da Marjory Stoneman Douglas High School, em Parkland (Flórida), o brasiliense Gabriel Cruz Carvalho, 18 anos, teve a certeza da morte.

Mensagens trocadas através do WhatsApp mostram o desespero do brasileiro

Em entrevista ao Correio, ele contou que estava no primeiro andar do prédio, quando escutou um primeiro disparo. ;Ninguém entendeu o que estava acontecendo. Todo mundo achou que alguém tivesse batido no armário da minha sala, ou algo assim. Logo em seguida, veio outro tiro. Todos se assustaram. Pouco depois, dois tiros em sequência. Foi quando todo mundo se levantou e começou a correr para o canto da sala;, relatou, por telefone.

[SAIBAMAIS]Foi nesse exato momento que Gabriel e os colegas viram uma garota entrar na sala com a perna aberta. ;A gente podia ver o osso, pois o estrago foi grande. Na hora que ela entrou, a porta trancou. Eu e meus dois colegas brasileiros começamos a colocar até roupas por cima da perna dela, para estancar o sangue. Não demorou literalmente nada para entendermos que estava ocorrendo um massacre ali. Segundos depois dos primeiros tiros, veio uma rajada;, lembrou.

Gabriel Cruz Carvalho, 18 anos, relata momentos de horror em escola na FlóridaA reportagem pediu ao brasiliense que descrevesse o que passou naquela tarde. ;Cara, foi o terror. Terror. Meio que esperando a minha hora, entendeu? Ali, eu tive a certeza de que morreria. É desesperador, cara, é desesperador. Eu só queria falar com a minha mãe. Cara, é uma sensação que não desejo a ninguém. Uma sensação de esperar a sua vez;, acrescentou. Segundo Gabriel, ele pôde ver que o atirador Nikolas Cruz, 19 anos, estava rastreando cada uma das salas do primeiro andar. ;Ele parava de atirar e começava. E os tiros só estavam chegando mais perto.;

Além da garota baleada na perna, ele disse ter visto mais vítimas de Nikolas. "Eu me deparei com mais duas pessoas mortas no corredor, quando saí. Vi um dos meus amigos mortos dentro da sala, com mais uns dois corpos no mesmo local", comentou. O pânico teria durado cerca de uma hora. Gabriel afirmou à reportagem que gostaria de fazer um pedido, em nome dos dois amigos que morreram; do segurança da escola, "um pai de família maravilhoso"; do diretor esportivo; e de todas as 17 vítimas do massacre. "É preciso que as pessoas falem. Falem e não deixem isso cair no esquecimento. Se as pessoas não falarem, vai cair no esquecimento, assim como coisas até piores já caírem. Se não mudarmos isso, piores coisas acontecerão. É um pedido de alguém que foi afetado de uma maneira louca", desabafou.

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Acesso às armas

Gabriel reiterou que lutará para que o incidente em Parkland não seja apenas mais uma Columbine (em 20 de abril de 1999, dois atiradores mataram 15 pessoas na Columbine High School, no Colorado). "As vítimas daqui tinham entre 13 e 15 anos. Em 2007, alguém entrou numa escola de ensino fundamental e matou 10 crianças, de 4 a 6 anos. Como a gente pode acreditar que eles (os políticos) farão algo? Ninguém pede que acabem com as armas, mas que o acesso a elas seja mais restrito. Uma pessoa com a incapacidade mental, como a que Nikolas tinha, não pode carregar armas de tão alto poder de fogo. O presidente Donald Trump é uma pessoa estúpida e não vai falar sobre armas. É tanto dinheiro envolvido nisso, que é triste..."

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