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Ataque dos EUA à Síria teve apoio da França e do Reino Unido

"Ordenei às Forças Armadas dos Estados Unidos ataques de precisão contra alvos associados à capacidade de armas químicas do ditador Bashar al-Assad", disse Trump

Agência France-Presse
postado em 14/04/2018 08:39


Estados Unidos, França e Reino Unido executaram neste sábado (14/4) bombardeios seletivos na Síria contra o regime de Bashar al-Assad, acusado pelo presidente americano Donald Trump de ter cometido ataques químicos dignos de "um monstro".

A ofensiva ocidental não provocou "nenhuma vítima entre a população civil ou o exército sírio", afirmaram as Forças Armadas da Rússia, grande aliada da Síria. Eram 4h em Damasco, quando o presidente americano anunciou os ataques em um discurso na Casa Branca. No horário, foram ouvidas explosões em Damasco, a capital de um país devastado há mais de sete anos por uma guerra que deixou mais de 350.000 mortos. Os ataques ordenados por Trump terminaram e não há previsão de novas ações militares, declarou o secretário americano de Defesa, general Jim Mattis. "No momento não planejamos ataques adicionais", disse Mattis, acrescentando que o departamento de Defesa está em consulta permanente com França e Reino Unido, que também participaram as ações militares.

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As explosões foram seguidas por ruídos de aviões e grandes colunas de fumaça ao nordeste da capital síria. "Ordenei às Forças Armadas dos Estados Unidos ataques de precisão contra alvos associados à capacidade de armas químicas do ditador Bashar al-Assad", disse Trump. "Uma operação coordenada com as Forças Armadas da França e do Reino Unido está atualmente em curso", completou.

O regime sírio, a Rússia e o Irã, outro aliado de Assad, condenaram os bombardeios.
As autoridades de Damasco denunciaram uma "agressão bárbara e brutal" e acusaram as potências ocidentais de uma tentativa de obstruir uma missão da Organização para a Proibição das Armas Químicas (OPAQ), que neste sábado deve iniciar uma investigação sobre o suposto ataque químico de 7 de abril.

O presidente sírio Bashar al-Assad se declarou mais determinado do que nunca a "lutar contra o terrorismo". "Esta agressão apenas reforça a determinação da Síria de seguir lutando e esmagando o terrorismo", afirmou Assad em uma conversa por telefone com o colega iraniano Hassan Rohani, segundo a presidência síria.

A Rússia, que afirmou que a defesa antiaérea síria interceptou 71 mísseis de cruzeiro de um total de 103, condenou os ataques e convocou uma reunião urgente do Conselho de Segurança da ONU. O embaixador russo nos Estados Unidos, Anatoli Antonov, afirmou que as advertências de Moscou não foram ouvidas e que os bombardeios são um "insulto" ao presidente Vladimir Putin.

No Irã, o guia supremo Ali Khamenei chamou de "criminosos" os governantes dos Estados Unidos, França e Reino Unido.

Forças sírias em Duma


Após 45 minutos de ataques, partidários do regime de Assad se reuniram na emblemática praça dos Omeias de Damasco. Alguns estavam sorridentes e faziam o V da vitória, exibiam bandeiras sírias, tiravam selfies e cantavam em homenagem ao presidente sírio.

Estas pessoas consideraram os bombardeios ocidentais um sinal da vitória do regime, que recuperou o reduto insurgente de Ghuta Oriental, nas proximidades de Damasco. "A história mostrará que a Síria derrubou os mísseis, mas não apenas isto. Derrubou a arrogância americana", afirmou Nedher Hamud, de 48 anos.

A imprensa estatal síria anunciou a entrada das forças de segurança do regime em Duma, o último bastião rebelde em Ghuta. Os insurgentes do grupo Yaish al-Islam aceitaram abandonar esta cidade, um dia depois do suposto ataque químico atribuído ao regime sírio pelas potências ocidentais.

Uma fonte deste grupo rebelde islamita afirmou que os ataques ocidentais de sábado não passam de uma "farsa" enquanto Assad permanecer no poder.

O suposto ataque químico de 7 de abril deixou mais de 40 mortos em Duma, de acordo com os serviços de emergência da cidade. O regime sírio e a Rússia negam qualquer envolvimento.

Antes dos bombardeios, Washington afirmou que tinha provas do uso de armas químicas por parte do regime de Assad. Neste sábado, a França indicou dispor de "informações confiáveis" sobre o envolvimento das Forças Armadas sírias no ataque.

Represália "correta e legal"


De acordo com o general Joe Dunford, comandante do Estado-Maior americano, os bombardeios apontaram contra três alvos vinculados ao programa de armamento químico sírio: um próximo de Damasco e outros dois na região de Homs (centro).

Ele disse que no momento não estão previstas mais operações militares no país.
"Está claro que o regime de Assad não aprendeu a lição do ano passado", afirmou o secretário de Defesa americano, o general Jim Mattis, ao recordar o bombardeio de abril de 2017 contra uma base militar próxima a Homs em represália a um ataque químico atribuído a Damasco, que deixara mais de 80 mortos em Khan Sheikhun (noroeste) alguns dias antes. "Fomos muito precisos e a resposta foi proporcional", completou, antes de informar que o ataque utilizou o dobro de munições em relação ao ano passado.

O governo britânico anunciou que quatro caças Tornado GR4 da Royal Air Force bombardearam um "complexo militar" próximo de Homs. "É uma represália correta e legal", afirmou a primeira-ministra Theresa May.

A França afirmou que atacou com fragatas no Mediterrâneo e com caças-bombardeiros. "O principal centro de pesquisa e dois centros de produção do programa clandestino químico do regime foram atacados", afirmou a ministra da Defesa, Florence Parly.

O governo francês anunciou que os bombardeios destruíram "boa parte do arsenal químico", mas alertou que outra "intervenção militar" acontecerá no caso de um novo ataque químico.

Em seu discurso, Trump fez uma advertência a Irã e Rússia, que enviaram homens e material militar à Síria para ajudar Assad contra os rebeldes e jihadistas.

Moscou traiu suas promessas de 2013 sobre a eliminação das armas químicas sírias, afirmou o presidente sírio.

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