Aproximadamente 4 mil pessoas, convocadas pelos sindicatos bolivianos, participaram, ontem, de uma marcha por La Paz em protesto contra as políticas de saúde, educação e trabalho da presidente interina de direita Jeanine Áñez. Os manifestantes chegaram pacificamente a uma distância de quatro quarteirões da Plaza de Armas, onde ficam o palácio do governo e o Congresso, que permaneceu cercada pela polícia e pelas Forças Armadas.
Faltando menos de dois meses para as eleições gerais de 6 de setembro, a manifestação foi a maior realizada desde que a pandemia do novo coronavírus atingiu o país, em março. Jeanine Áñez, que assumiu após a renúncia de Evo Morales, em novembro do ano passado, é candidata à Presidência. No momento, ela cumpre distanciamento social depois que testou positivo para a covid-19, na semana passada.
“O povo está expressando suas necessidades”, destacou o mineiro Juan Carlos Huarachi, líder da Central Obrera Boliviana (COB), que convocou a mobilização. Os manifestantes percorreram cerca de 12km, da cidade de El Alto até La Paz, sede do poder político. As duas cidades estão em quarentena.
“Estamos apoiando a mobilização dos professores rurais e urbanos contra a educação virtual e pedimos a renúncia do ministro (Victor Hugo) Cárdenas”, afirmou Huarachi.
Desde o decreto de emergência e do confinamento em saúde, há quatro meses, as aulas presenciais foram suspensas e várias escolas, especialmente as particulares, implementaram a modalidade virtual. Cárdenas tenta aplicar a educação virtual nas escolas públicas, mas nas áreas rurais e nas favelas urbanas os alunos nem sempre têm acesso à internet ou a dispositivos adequados.
“Estamos pedindo internet grátis, porque há crianças que não têm telefone celular e não podem estudar em casa”, disse Feliciana Quesucala, 46 anos, moradora de El Alto.
Crise econômica
Os manifestantes também cobraram medidas nas áreas de saúde, educação e criticaram a “demissão maciça de trabalhadores”, reflexo da depressão econômica decorrente da quarentena. “Estamos defendendo a estabilidade no emprego, existem muitas demissões, eles não respeitaram seus próprios decretos”, disse Huarachi, que denunciou demissões nos setores público e privado, apesar do atual regulamento para evitá-las.
“O que queremos? Eleições agora”, gritavam os manifestantes várias vezes, referindo-se a votação de 6 de setembro, que Jeanine Áñez tentou adiar devido à pandemia. Segundo as mais recentes pesquisas, ela está em terceiro lugar na preferência dos eleitores, com 16,9% das intenções de voto.
O candidato apoiado por Morales, Luis Arce, lidera com 33,3%, seguido pelo ex-presidente centrista Carlos Mesa, com 18,3%.
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