Politica

Em jantar com a imprensa, Dilma fala sobre polêmicas de seu governo

A presidente reuniu dez jornalistas para o encontro, com direito a tour pelo Palácio da Alvorada. Entre os assuntos abordados, CPI, inflação e protestos

postado em 07/05/2014 07:17
De CPI da Petrobras, ;não temo nada;, a inflação ;está sob controle, mas não está tudo bem;, e cenários otimistas de ;o Brasil vai bombar em 2015;, a presidente Dilma Rousseff falou de tudo um pouco na noite dessa terça-feira (6/5), quando reuniu dez jornalistas mulheres para jantar no Palácio da Alvorada. Foram pelo menos quatro horas de conversa com direito a um tour por todo o andar térreo do Palácio e uma visita à capela, parada que Dilma incluiu no roteiro para mostrar a restauração. ;Eu gosto da capela. Antes da reforma, tinha cheiro de mofo. Não dava para ficar;, comentou a presidente, devota de Nossa Senhora, a única imagem no interior da capela.

Ainda dentro da capela, alguém solta: ;É bom estar com a capela restaurada nesse momento difícil, presidente?; Eis que Dilma, já caminhando para voltar ao Palácio, em meio a perguntas complementares sobre como se sentia em relação a essa baixa nas pesquisas, responde: ;Saiba você que a única pessoa que te derrota é você mesma. Em qualquer circunstância. Eu não me deixo abater;, afirma.

Foto com jornalistas: temas espinhosos foram respondidos de forma firme pela presidente, inclusive a CPI da Petrobras

Feitas as fotos na sala de reuniões ao lado da Biblioteca __ muitos selfies e conversas a respeito de amenidades, maquiagens, perfumes e tinturas de cabelo __, o cerimonial avisa que o jantar estava servido. Entre as colegas, a preocupação, ;pronto, agora vamos comer e ela vai nos mandar embora sem notícia;. Que nada. A noite estava apenas começando.

Na sala de banquetes, com todos à mesa __ além das jornalistas estavam ainda a senadora Gleisi Hoffmann (ex-ministra da Casa Civil) e o ministro da Secretaria de Imprensa e Divulgação da Presidência da República, Thomas Trauman __ alguém saca o caderninho de anotações e os temas polêmicos se sucedem. Dilma só se recusa a falar de campanha: ;Estou na fase pré-candidata e falar sobre campanha agora é crime eleitoral;, e de troca de ministro: ; (Alexandre) Tombini (presidente do Banco Central) na Fazenda?;, quis saber uma das convidadas. ;Não cogito nada;, disse. Ela, no entanto, ao longo da conversa, deixou exposta uma divergência com o ministro Guido Mantega que esta semana mencionou a perspectiva de aumento de imposto: ;Não terá aumento de imposto;, afirmou. ;Não sei em que contexto ele falou sobre isso;.



A CPI e a ;tolice meridiana;

Os demais temas espinhosos são respondidos de forma firme, inclusive a CPI da Petrobras. ;Não temo nada de CPI. Não devo nada. Não tenho temor nenhum. O governo é de absoluta transparência. Não tenho dúvida de que tem um componente político nessa CPI;, disse ela, que considerou normal a troca que fez de Sérgio Gabrielli por Graça Foster no comando da empresa. ;Troquei até ministro, não é loura?;, comentou, virando-se para Gleisi. Diante das insistentes perguntas sobre se CPI atingiria Lula ou ela, Dilma não titubeia: ;Sou eu, é? Então, o Gabrieli era do governo Lula e eu não? Eu sou governo Lula. Eu representava o controlador;, diz ela, referindo-se ao período em que se decidiu pela compra da refinaria de Pasadena.

[SAIBAMAIS]A presidente deixa exposta, entretanto sua divergência em relação ao ex-diretor Nestor Cerveró, um dos responsáveis pela compra de Pasadena e chama de ;tolice meridiana;, dizer que as cláusulas Put Option (a chamada cláusula de saída) são padrões, como mencionou Cerveró: ;A Put Option é como se fosse um casamento. Cada um tem o seu, alguns tem clausulas de saída do casamento, outros não e nem todos são iguais;, explica. ;Até onde eu sei não houve má fé, pode ter havido um equívoco;, diz ela, concluindo que fria tudo de novo, em relação à nota que soltou reclamando da ausência dessas cláusula no resumo técnico sobre Pasadena.

A inflação e o ;também quero fazer política;

Em todas as áreas possíveis, a presidente compara seu governo com o do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e rebate as críticas feitas pelo tucano Aécio Neves e também pelo socialista, Eduardo Campos. NO quesito inflação, ela foi direta: ;Está sob controle, mas não está tudo bem. O efeito inflação não explica o mal estar. Tem uma coisa que explica o mau-humor: a taxa de crescimento de bens e de serviços;, afirma. ;NO setor de serviços, não tenho condição de, ao fazer o investimento, resultar em benefício imediato. Quem me critica esqueceu, mas o estoque de serviços (a executar) é um acúmulo do passado;, diz ela, afirmando categoricamente que o governo FHC investiu R$ 1 bilhão em saneamento, enquanto o governo dela aplicou R$ 37,8 bilhões, ;e é pouco para o déficit, teria que triplicar para zerar;. ;Não estou comparando com FHC para fazer política, mas quero fazer política também;, diz a presidente.

Se os dados de saneamento servem para alfinetar os tucanos, a perspectiva de desemprego para a meta de inflação de 3%, prevista por Eduardo Campos, do PSB, é repisada em comparação com a economia dos Estados Unidos: ;Lá, o crescimento foi de 0,025%. NO ano, 0,1%. Se alguém perguntar, dirão que foi de franca recuperação. Ninguém dirá que é o caos e que o mundo caiu. Aqui, n Brasil, se isso acontecer, o céu estará caindo sobre minha cabeça;, comenta, emendando com uma crítica direta à proposta de Campos, de 3% de inflação. ;Sabe o que isso significa? Desemprego de 8,2%. Quero ver manter o investimento público em logística;.

São Paulo e a ;má fé;

A seca que provoca o desabastecimento de água em regiões da Grande São Paulo também não ficou de fora, quando o assunto da conversa vira para a energia elétrica. ;A seca este ano é 100 vezes pior do que foi em 2001. E água e energia, só segura se investir. (No caso da água) Não sei quanto São Paulo investiu. Não temos nada a ver com a operação dele (Geraldo Alckmin). A água é tratada pelos estados. Qualquer tentativa de repartir (essa crise d) a água com governo federal é má fé;.

Base aliada & tempestade perfeita

Pouco se falou dos partidos aliados ao governo, mas a presidente deixou claro que não dispensará o contato com eles, a partir de 2015, caso receba mais quatro anos de mandato. ;Vocês acreditam que alguém, só por não ser mais candidato à reeleição, pode prescindir das instituições?;, diz, respondendo ainda àqueles que mencionam um conjunto de fatores (tempestade perfeita) eu pode agravar os problemas econômicos do Brasil no ano que vem. ;Passei seis meses esperando a tempestade perfeita. Ela não veio. Agora, vocês me perguntam se o Brasil vai explodir em 2015. Vocês acreditam em história da Carochinha?;

Ação da oposição contra o pronunciamento do 1; de maio e ;meiguíssima;

O Bolsa Família vão falar que é eleitoreiro, mas melhoramos em vários anos e não íamos deixar de melhorar. ;O Bolsa Família é visto como eleitoreiro. Quem não tem compromisso com os mais pobres acha uma besteira colocar dinheiro no Bolsa Família. A troco de quê não vou reiterar meus compromissos com aqueles que são a base do governo? Não é possível que eu não possa defender o que eu penso. A oposição pode falar o que quiser e eu não posso?;, diz.

;Acho que o PT tem mais vantagens, tem seus méritos e características positivas. Se tem um partido que conviveu com a disputa interna é o PT. E vai conviver pelo resto da vida. (Quanto ao Lula), quem viveu junto, intensamente, todas as horas e dificuldades, tem uma relação política e pessoal que não é passível de ruptura;. Quanto ao ex-presidente e o movimento para fazer ele candidato: ;Nunca falamos sobre isso. Respeito muito o Lula. Tenho certeza (do apoio) dele. Ele está acima dessas questões.Tenho certeza de que o Lula me apóia nesse exato instante;.

Imprensa e o ;couro de jacaré;

Lá para o final da conversa, em meio às amenidades, a presidente mencionou, respondendo a uma pergunta, que a ;a imprensa brasileira é bastante oposicionista; atualmente. ;A gente vai ficando um couro grosso de jacaré ou de tartaruga;, afirmou.

A Copa, os holligans, Neymar e a greve da PF

A menos de 40 dias do mundial, obviamente, o tema não ficaria de fora. A presidente contou que seu governo e a Fifa preparam duas ações relativas à segurança e ao combate o racismo. Em relação à segurança, a ordem é evitar o embarque de torcedores violentos para o Brasil. Aqueles que conseguirem, entretanto, escapar a esse filtro, podem ser barrados na entrada. A outra iniciativa, essa e fácil execução,são as falas antirrascistas em todo os jogos da Copa. ;E quem senhora escalaria. Presidente? ;Neymar. Ele é uma unanimidade. Também gosto do Daniel Alves. Ele respondeu bem;, diz ela. O técnico Felipe Scolari, o FElipão, também é elogiado como alguém que tem ;liderança, caratê e dignidade. É uma pessoa especial;.

Quanto à perspectiva de greve da Policia Federal, a presidente foi direta: ;Nunca soube disso. A PF se comportou muito bem na Rio %2b 20; E também mencionou as manifestações:. Se quiser fazer manifestação é legítimo,mas não vamos permitir que haja qualquer interferência sobre a Copa.

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