Politica

FHC sobre Azeredo e Aécio: "Vi com tristeza tudo isso, como vi com o Lula"

Ex-presidente avalia que falta confiança ao PSDB e a todas as legendas e defende união para reformar o país

Vicente Nunes - Enviado Especial
postado em 28/04/2018 07:00
Ex-presidente avalia que falta confiança ao PSDB e a todas as legendas e defende união para reformar o país
Nova York ; A sobrevivência do PSDB vai depender da mensagem que o partido passar para o povo, disse o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em rápida entrevista ao Correio. Na avaliação dele, a legenda está enfrentando os mesmos problemas dos demais partidos que foram açoitados por denúncias de corrupção. Não por acaso, acrescentou ele, o Brasil vive um momento muito ruim na política. Há um descrédito generalizado da população em relação aos políticos, provocando uma fragmentação que compromete o futuro do país.

Fernando Henrique reconheceu que a iminente prisão de Eduardo Azeredo, ex-governador de Minas Gerais, acusado de liderar o mensalão mineiro, e a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de do empresário Joesley Batista são notícias péssimas para o PSDB. E se diz triste. ;Vi com tristeza tudo isso, como vi com o Lula (preso na sede da Polícia Federal em Curitiba). Mas quem vai decidir (sobre essas questões) é a Justiça;, afirmou.

O ex-presidente, que acabou de lançar o livro Crise e Reinvenção da Política no Brasil, não escondeu a preocupação com o desgaste dos partidos junto à população e com a divisão do país. ;O Brasil não vive um bom momento. E isso tem a ver mais com a política do que com a economia. As eleições estão a caminho, precisamos buscar forças que sejam capazes de unir o país, porque, desse jeito, não se vai longe;, ressaltou. ;Essa divisão vai acabar não só prejudicando o país, (vai prejudicar) o povo, que é o mais importante;, frisou.

Credibilidade

Antes, porém, de puxar um movimento de união pelo país, o ex-presidente sabe que terá que pacificar o PSDB, que está totalmente dividido. Em São Paulo, onde reside a força dos tucanos, o partido está rachado. Tanto que o pré-candidato da legenda à Presidência da República, Geraldo Alckmin, terá que subir a dois palanques, um do atual governador, Márcio França, do PSB, seu fiel escudeiro, outro, do tucano João Dória, que largou a prefeitura para disputar o governo.

[SAIBAMAIS];Se depender de mim, vamos unir o PSDB com o povo ao redor de temas simples, e que voltem a dar credibilidade aos governos;, assinalou Fernando Henrique. ;O futuro do PSDB está como o de todos os partidos, vai depender da mensagem que passar para o povo;, acrescentou. Para ele, o que falta ao PSDB e a todas as legendas é confiança. Os eleitores precisam confiar que os políticos, em sua maioria, estão dispostos a trabalhar em favor da sociedade.

Prestes a completar 87 anos (em 18 de junho), o ex-presidente disse que o mundo está em grandes transformações, e o Brasil não está de fora desse processo. Ao descrever esse mundo novo, ele citou o historiador marxista britânico Eric Hobsbawm. ;Vivemos num mundo com grande potencial econômico, com a tecnologia mudando as relações entre as pessoas, mas não sabemos para onde esse mundo vai;, destacou.

Como ele descreveu em seu mais recente livro, a globalização enfraqueceu organizações como o Estado e os partidos e ampliou a autonomia do indivíduo. Isso abriu um fosso entre as aspirações de uma sociedade dinamizada e um sistema representativo arcaico. Para desatar esse nó, recomendou o ex-presidente, será preciso união para reformar o ambiente partidário de forma a reconectá-lo à vida dos cidadãos e a reforçar a democracia.

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