Politica

Bolsonaro no JN: 'Estou em uma plataforma de tiro de artilharia'

Presidenciável vai armado com o discurso de sempre para entrevista no Jornal Nacional e afirma estar "namorando" Paulo Guedes, o seu guru econômico, há algum tempo. "Não queremos aventura nesse processo", disse.

Rosana Hessel
postado em 28/08/2018 22:36
Em vez de falar de suas propostas econômicas, Bolsonaro voltou a dizer que não entende do assunto e defendeu as ideias de Paulo Guedes
O candidato à Presidência da República do PSL, Jair Bolsonaro, foi para o confronto na segunda entrevista dos presidenciáveis realizada pelo Jornal Nacional nesta terça-feira (28/08). "Estou em uma plataforma de tiro de artilharia. Estou confortável aqui." Essas foram as primeiras palavras do ex-capitão reformado do exército logo no início do programa apresentado pelos jornalistas William Bonner e Renata Vasconcellos, sinalizando que ele estava preparado para o ataque e armado até os dentes.

Bolsonaro deu o seu recado e disse uma série de frases de efeito, para a alegria de seus seguidores, pois conseguiu novamente constranger os entrevistadores globais ao, no final, declamar o trecho inicial da carta escrita pelo fundador da TV Globo defendendo a ditadura militar em 1984, como fez na sabatina da GloboNews, causando uma enorme saia justa na emissora. O deputado conseguiu, durante a entrevista ao JN, manter o discurso que o coloca entre os principais nomes na disputa eleiotaç e que aproveita o vácuo deixado pelos escândalos de corrupção envolvendo os representantes dos governos que se alternam no poder. "Minha família é limpa. Sempre integrei o baixo clero", disse ele ao ser questionado por Bonner como se declara ser novo da política estando no sétimo mandato como parlamentar. "Mantive a minha linha. Ser honesto não é virtude. É obrigação", completou.

Um dos momentos mais tensos da entrevista foi quando Bolsonaro foi questionado sobre a disparidade salarial entre homens e mulheres e se ele, caso fosse eleito, teria uma proposta para intervir sobre isso. O candidato devolveu a pergunta com o mesmo discurso sobre a pejotização dos jornalistas, como mais uma tentativa de constranger os entrevistados, e insinuou que Bonner ganhava mais do que a Renata. A apresentadora, com classe, deu uma enquadrada no deputado ao afirmar que, como cidadã, não queria discutir salário. "Seu salário de deputado nós pagamos. O meu, da iniciativa privada, não sou obrigada a dizer. Mas o senhor saiba que eu não aceitaria receber menos que um homem na mesma função que eu", afirmou ela. Depois disso, quando Renata fazia pergunta, Bolsonaro respondia olhando para o Bonner.


"Namoro"


Em vez de falar de suas propostas econômicas, Bolsonaro voltou a dizer que não entende do assunto e defendeu as ideias de seu principal conselheiro na área, o economista Paulo Guedes, em quem ele admite confiar plenamente. "Dilma, que entendia de economia, levou o Brasil ao caos. Temos que confiar (no Paulo Guedes). Até me pergunto o que ele viu em mim. Tenho que confiar nele", afirmou.

Em tom de brincadeira, o parlamentar comparou sua relação com o economista a um casamento ao ser questionado por Bonner se Guedes poderia deixar o seu eventual governo. "Estou namorando Paulo Guedes há algum tempo. Não pensamos em uma mulher reserva para isso", disse o deputado. "Juramos fidelidade eterna. Duvido, pelo que conheço, que esse compromisso será desfeito. O único substituível na historia sou eu. Estamos imbuídos em buscar um futuro melhor para o Brasil. Não queremos aventura nesse processo", frisou.

Sobre outros temas, como segurança, kit gay, Bolsonaro manteve o discurso e defendeu que, para combater a criminalidade no país, é preciso fazer como o Exército brasileiro atuou no Haiti, onde, segundo ele, a violência foi controlada. "Tem que atirar. Se não atirar, não vai resolver nunca", disse.

Durante as considerações finais, o candidato voltou a afirmar que é a alternativa para fazer do país "uma grande nação", pois é contra os dois partidos que se alternaram no poder nos últimos 20 anos que "mergulharam o país em uma crise ética moral e econômica". "Vamos mudar esse ciclo e para isso, precisamos eleger um candidato honesto, que trate as crianças com consideração na sala de aula", completou.


Desempenho


Na avaliação do economista André Perfeito, da Spinelli, "a percepção é que Bolsonaro foi bem no embate", apesar de não apresentar propostas concretas. "O estilo da entrevista, tal qual observado na noite de ontem com o candidato Ciro Gomes, privilegia pontos polêmicos e a dupla de âncoras do JN ;pegou pesado; com Jair Bolsonaro, que apesar de respostas evasivas em muitos pontos conseguiu transmitir de maneira clara ; mais uma vez ; os pontos principais do ;ethos; da sua candidatura, a saber: firmeza, segurança, ordem e tradição", resumiu. "Nos parece que o eleitorado dele se viu representado em sua fala e os indecisos podem reconhecer nele alguém que carrega esses valores. As farpas que trocou com os apresentadores não desqualificam ele no sentido de ser ;deselegante;, mas antes carregam a marca de um candidato disposto a enfrentar, marca da sua candidatura", completou.

Ao ver de Perfeito, Bolsonaro tem chance "relevante" de disputar o segundo turno com o petista Fernando Haddad, o que vai impor mais instabilidade ao mercado. "Projetamos o dólar a R$ 4,30. Para setembro, trabalhamos com a hipótese que o candidato Geraldo Alckmin (PSDB) possa avançar nas pesquisas uma vez que tem tempo de TV relevante e que tanto Bolsonaro e Marina Silva (Rede) não tem e isto pode criar euforia temporária no mercado de capitais. Neste sentido apontamos posição ;comprada em Brasil; no curto prazo", emendou.

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