Politica

Processo político turbulento eleva rejeição dos líderes das pesquisas

Especialistas veem uma onda antipetismo como explicação para o expressivo aumento na rejeição de Haddad na corrida presidencial. Já a situação de Bolsonaro pode ser explicada pela relação de amor e ódio que o candidato desperta no eleitorado

Adriana Izel
postado em 02/10/2018 20:10
Fernando Haddad
A cinco dias da votação, as pesquisas têm mostrado os altos índices de rejeição dos dois candidatos à Presidência da República líderes na intenção de votos dos eleitores: Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT). Divulgada nesta terça-feira (2/10), a pesquisa Datafolha mostrou que Bolsonaro tem 45% de rejeição e é seguido por Fernando Haddad, que saltou de 32% para 41%. Resultado que se assemelha aos dados do Ibope revelados na noite de segunda (1;), em que Bolsonaro teve 44% de rejeição, enquanto Haddad atingiu 38%, um aumento de 11 pontos percentuais.

Especialistas apontam que o aumento da rejeição de Haddad demonstrado nas pesquisas está relacionado ao movimento antipetismo que tem tomado conta da corrida eleitoral de 2018, além da maior exposição do candidato. "A gente teve três momentos na candidatura do Haddad. O primeiro em que aparecia o Lula para os eleitores; o segundo com o impedimento e a transferência de votos de Lula para Haddad; e o terceiro, em que o Haddad fica exposto e passa a receber ataques e a ser alvo de uma corrente de fake news até a ativação do antipetismo. A candidatura dele passa a ter uma desvantagem de estar com o Lula e representar o petismo, o que foi uma vantagem num primeiro momento", analisa a cientista política Flávia Millena Biroli Tokarski, do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (Ipol-UnB).

Creomar de Souza, cientista político da Universidade Católica de Brasília (UCB), concorda. Ele vê o crescimento da rejeição de Haddad ligada a maior visibilidade que o candidato ganhou ao longo da campanha eleitoral. "A rejeição de Haddad era pequena, porque pouca gente o conhecia. Mesmo tendo sido prefeito de São Paulo, ele não tinha grande visibilidade (no Brasil todo). Ele foi aparecendo, se consolidando e sendo visto como o herdeiro político do Lula. Então, esse eleitor que é contra o PT, passou a se posicionar contra o Haddad", explica. Souza também vê relação na rejeição de Haddad com o discurso forte e a ideia de confronto com o PT, que o postulante do PSL causa.

Mas o antipetismo não é o único fator responsável pelo crescimento da rejeição do candidato do PT, apesar de estar relacionado a outros pontos. Para Flávia Biroli, uma outra hipótese está ligada à força de Jair Bolsonaro, principal opositor de Fernando Haddad, entre o eleitor cristão e com uma visão mais conservadora. "Uma hipótese para se avaliar é que durante a semana passada as igrejas evangélicas assumiram a posição favorável ao Bolsonaro. Conversei com algumas pessoas que me relataram situações no DF em que pastores falaram explicitamente que quem é cristão não vota no Haddad. Outro ponto a se avaliar é a temática do gênero de quando Haddad era ministro da Educação", afirma, com uma referência à época em que o petista esteve à frente do Ministério da Educação e propôs incluir no currículo escolar temas relativos a gênero.

Jair Bolsonaro

Em relação aos dados de rejeição de Jair Bolsonaro, Creomar acredita ser um retorno ao patamar que havia sido mostrado em outras pesquisas. "A rejeição dele caiu logo após o atentado (quando o candidato foi esfaqueado em um dia de campanha em Juiz de Fora, Minas Gerais) e digamos que voltou ao patamar ;natural, tendo em vista que o candidato sempre despertou muitos sentimentos, de paixões e ódios (no eleitorado)", analisa.

O fato de os dois candidatos que estão à frente nas pesquisas terem altos índices de rejeição é visto pelo cientista político como um resultado do processo político atual. "Nesse exato momento, a democracia passa por um processo em que os políticos sofrem bastante com a polarização", afirma Creomar. Para Souza, os índices de rejeição podem ser importantes para avaliar uma possível configuração de um eventual segundo turno. "O candidato com uma rejeição menor tem maior probabilidade de ser o próximo presidente", acrescenta.

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