A internet virou palco de discussões acaloradas desde a noite de domingo (10/3), após o presidente Jair Bolsonaro compartilhar uma matéria do portal de notícias Terça Livre. O texto, cujas informações mais tarde foram desmentidas, afirma que a repórter Constança Rezende, do jornal O Estado de S. Paulo, teria admitido a intenção de "arruinar" o mandato e a família de Bolsonaro.
A postagem do presidente foi constestada pelo jornal paulista, que chamou a matéria de falsa, e fez com que o assunto ganhasse as redes sociais, levando a expressão #BolsonaÉFakeNews aos trending topis do Twitter. Mais tarde, o próprio jornal francês, que teria abrigado a denúncia original, chamou a acusação contra a jornalista de "falsa". Entenda a história passo a passo.
A publicação da denúncia
1. No domingo (1/3), o site de notícias Terça Livre publica uma matéria com o título Jornalista do Estadão: a intenção é arruinar Flávio Bolsonaro e o governo. Segundo a matéria, a jornalista que teria admitido a intenção de "arruinar" o mandato do presidente e sua família é Constança Rezende, uma das repórteres do Estado de S. Paulo que produziram matérias a respeito de movimentações atípicas na conta do ex-assessor de Flávio Bolsonaro, Fabrício Queiroz ; apontadas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).
3. Mais adiante, o texto de Rhalib conclui: "A conversa gravada com a jornalista Constança Rezende revelou a verdadeira motivação por trás da cobertura negativa da mídia, que era ;arruinar; o presidente Jair Bolsonaro. Revela que eles não estão interessados %u200B%u200Bnos fatos, mas simplesmente em usar histórias negativas, muitas vezes inventadas, sobre a família do presidente Bolsonaro que foi eleito democraticamente." Esse trecho também foi reproduzido na matéria do Terça Livre.
Bolsonaro compartilha e jornal desmente
4. Após a publicação no site Terça Livre, Jair Bolsonaro, ainda no domingo, compartilhou a matéria no Twitter, com a mensagem: "Constança Rezende, do ;O Estado de SP; diz querer arruinar a vida de Flávio Bolsonaro e buscar o Impeachment do Presidente Jair Bolsonaro. Ela é filha de Chico Otavio, profissional do ;O Globo;. Querem derrubar o Governo, com chantagens, desinformações e vazamentos".
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5. Pouco tempo depois, o jornal desmentiu o presidente e o portal de notícias. Segundo O Estado de S Paulo, Constança não deu entrevista nem dialogou com o jornalista francês citado pelo Terça Livre. Ainda de acordo com o periódico, teriam sido usadas frases que a jornalista havia dito, em 23 de janeiro, a uma pessoa que se apresentou como Alex MacAllister, suposto estudante interessado em fazer um estudo comparativo entre os presidentes Donald Trump e Jair Bolsonaro. Essas frases, porém, teriam sido editadas e retiradas de contexto.
6. Afirmou O Estado de S Paulo: "Na gravação do diálogo, porém, Constança não fala em ;intenção; de arruinar o governo ou o presidente. A conversa, em inglês, tem frases truncadas e com pausas. Apenas trechos selecionados foram divulgados. Em determinado momento, a repórter avalia que ;o caso pode comprometer; e ;está arruinando Bolsonaro;, mas não relaciona seu trabalho a nenhuma intenção nesse sentido".
A polêmica ganha as redes
7. Pela internet, grupos de eleitores promoveram no Twitter uma série de postagens nas quais acusam o jornal de "mentir" na cobertura do caso Flávio Bolsonaro. Por outro lado, a hashtag #BolsonaroÉFakeNews esteve entre as mais compartilhadas do microblog.
8. Após a polêmica, a Asssociação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) disseram que Bolsonaro usa sua "posição de poder" para tentar intimidar a imprensa e que o presidente mostra um "descompromisso com a veracidade dos fatos".
Jornal francês diz que denúncia contra jornalista é falsa
9. O episódio seguinte foi a manifestação do jornal francês que hospedou o texto original. Pelo Twitter, o Mediapart disse se solidarizar com a jornalista, que está sendo vítimas de ameaças, e afirmou que "as informações publicadas no blog, que serviram de base para o tweet de Jair Bolsonaro, são falsas". Ainda de acordo com o jornal, "o artigo é de responsabilidade do autor (Jawad Rhalib), e o blog é independente da redação do jornal".
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10. Mais tarde, o Estado de S. Paulo divulgou a informação de que Fernanda Salles Andrade, que assina o texto do Terça Livre, ocupa cargo no gabinete do deputado estadual Bruno Engler (PSL), na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). Fernanda aparece em vários vídeos no Youtube, defendendo o governo Bolsonaro.
Até a última atualização desta matéria, tanto a postagem original em francês quanto a matéria do Terça Livre continuavam no ar.