Politica

Postura de Bolsonaro após infecção põe pessoas em risco, dizem cientistas

Mesmo infectado pelo novo coronavírus, postura de Bolsonaro diante da doença não se altera. Ignora medidas previstas pela OMS, como o uso de máscara e o distanciamento. Mas, agora, caso desrespeite o isolamento, infringirá artigo do Código Penal

Correio Braziliense
postado em 08/07/2020 06:00
homem gesticulandoNem mesmo a infecção pelo novo conronavírus fez com que o presidente Jair Bolsonaro mudasse sua postura diante da covid-19, que até ontem matou 66.741 pessoas, oficialmente, no Brasil. Propagandista da hidroxicloroquina, usa da própria doença para promover o medicamento sem eficácia comprovada para tratar a doença.

Também não faz valer o uso da máscara, nem o isolamento social, como recomenda a Organização Mundial da Saúde (OMS), ao dar esclarecimentos aos jornalistas sem respeitar distanciamento físico, e retirando a proteção ao final da conversa. E incorre em crime previsto no artigo 268 do Código Penal, que enquadra criminalmente aqueles que, sabendo que estão com um agente infeccioso, continuam se relacionando com outros e disseminando a doença

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Para especialistas, a postura de Bolsonaro coloca a vida da população, já fragilizada pela pandemia, sob um risco ainda maior. Ao mostrar por vídeos que faz uso da cloroquina e afirmar que confia no medicamento no combate à covid-19, ele incita o uso do remédio pelas pessoas. É o que lastima Alessandro Silveira, pós-doutor em microbiologia clínica e graduado em Farmácia-Bioquímica pela Universidade Federal de Santa Maria.

“Não seria interessante externar esse tipo de postura para a população inteira. A partir do momento que se faz isso, ele está incitando o uso do remédio”, observa.

O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta alertou que Bolsonaro precisará ter cuidado com o próprio temperamento e ficar 14 dias em isolamento total, caso contrário vai transmitir o coronavírus. E salientou que passar doença adiante é crime previsto em lei. “É crime quando alguém tem consciência que está com doença infecciosa e contamina o outro intencionalmente”, afirmou.

O ex-ministro se referia ao artigo 268 do Código Penal, que diz: “Infringir determinação do poder público, destinada a impedir introdução ou propagação de doença contagiosa: Pena — detenção, de um mês a um ano, e multa”. Bolsonaro cancelou todos os compromissos externos, até dia 13, e que se reunirá apenas por videoconferência. Porém, não representa que ficará em quarentena, única forma de evitar a propagação do vírus.

Poção mágica


O também ex-ministro da Saúde Nelson Teich rebateu Bolsonaro, que afirmou usar a hidroxicloroquina contra a covid-19. Em vídeo, desmistificou o uso da medicação, que tem sido apresentada pelo presidente como se fosse poção mágica. “A cloroquina e a hidroxicloroquina não mudaram a história natural da doença, não aumentaram o índice de cura e não reduziram a mortalidade”, explicou.

Alessandro Silveira concorda: “Não existem estudos que demonstram que a cloroquina é realmente eficaz. É consenso”, reforça. Em maio, a Sociedade Brasileira de Infectologia desaconselhou a prescrição da droga em pacientes leves de covid. O medicamento ainda pode agravar doenças cardíacas.

As máscaras, que são aconselhadas e têm eficácia preventiva, estão longe de serem incentivadas por Bolsonaro. “O pretenso ‘bom mocismo’ não o impediu de mutilar o projeto de uso de máscaras que o Legislativo propôs, com argumentos que satisfazem ao seu ego e suas convicções destrambelhadas”, atacou o médico e doutor em saúde pública Flávio Goulart.

Para o especialista em Gestão da Saúde da Fundação Getúlio Vargas Adriano Massuda, a postura de Bolsonaro denuncia o descaso com a saúde da população. “Que a experiência possa servir para que ele repense as atitudes, a atenção com a população do país, com sistema de saúde público, porque as medidas dele têm enfraquecido o sistema e dificultado o enfrentamento à pandemia”.

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