Na última década, pesquisadores têm direcionado suas atenções para sítios históricos no México, motivados por indícios de que antigas crenças mesoamericanas ainda impactam o imaginário popular. Recentemente, uma equipe multidisciplinar fez uma descoberta relevante no subsolo de uma tradicional igreja católica, localizada na região de Mitla, no estado de Oaxaca. O achado chamou a atenção da comunidade internacional por sugerir uma ligação direta entre práticas religiosas contemporâneas e antigos rituais zapotecas.
Os arqueólogos se depararam com estruturas subterrâneas até então desconhecidas, consideradas pelos povos originários como uma verdadeira ‘passagem para o submundo’. Essas galerias e câmaras, encontradas abaixo do templo católico, lançam nova luz sobre a convivência – e por vezes fusão – entre o catolicismo introduzido no século XVI e as cosmologias ancestrais da América Central.

O que motivou a busca por uma passagem para o submundo em Mitla?
Os habitantes locais sempre narraram histórias sobre túneis e corredores misteriosos sob a Igreja de San Pablo, em Mitla. Segundo registros do século XIX e relatos orais passados entre gerações, o local teria servido para rituais de transição entre mundos, tanto na época pré-colonial quanto após a chegada dos espanhóis. Esses relatos instigaram arqueólogos a iniciar um projeto de investigação utilizando tecnologias modernas, como radares de penetração no solo e mapeamento 3D.
A descoberta das estruturas subjacentes foi possível graças à colaboração entre institutos mexicanos e universidades internacionais. As escavações, organizadas de forma cuidadosamente planejada para preservar o patrimônio histórico, permitiram a identificação de corredores construídos em pedra e possíveis portas simbólicas. Segundo especialistas, tais passagens representam uma ponte entre o mundo dos vivos e o dos mortos na antiga cultura zapoteca.
Como era o conceito de submundo para os zapotecas?
No universo religioso zapoteca, a existência não era limitada à vida terrena. O submundo, chamado de Lyobaa, era visto como um espaço de transição para onde as almas seguiam após a morte física. Esse local, descrito em registros arqueológicos e tradições orais, era simbolicamente acessível através de portais localizados em pontos estratégicos, frequentemente marcados por arquitetura monumental e símbolos específicos.
A própria palavra Mitla deriva de Mictlán, termo náuatle que designa o reino dos mortos nas crenças mesoamericanas. A associação entre o subsolo da igreja e o submundo evidencia uma sobreposição cultural significativa. O templo atual foi erguido sobre um importante centro cerimonial zapoteca, num processo histórico de ressignificação de espaços sagrados.

Quais são as características da passagem recém-descoberta?
De acordo com os responsáveis pela escavação, a estrutura encontrada é composta por corredores de pedra cuidadosamente talhados e câmaras funerárias conectadas. Elementos decorativos e inscrições sugerem que, no passado, essas passagens serviam tanto para rituais religiosos quanto para sepultamentos de figuras de destaque na comunidade zapoteca.
- Presença de símbolos esculpidos nas paredes dos túneis.
- Conexão com áreas externas do antigo centro cerimonial.
- Câmaras amplas, possivelmente usadas para cerimônias e ofertórios.
- Vestígios de materiais utilizados em antigos rituais.
A combinação dessas características reforça a hipótese de que o local funcionou, por séculos, como elo entre a esfera terrena e o espiritual. A estrutura, apesar do tempo, permanece surpreendentemente bem preservada, permitindo estudos detalhados e novas hipóteses sobre o cotidiano e a espiritualidade dos povos originários.
Qual o impacto da descoberta para a compreensão do passado?
A identificação da passagem para o submundo em uma igreja católica de Oaxaca amplia o entendimento acerca das interações entre culturas mesoamericanas e o catolicismo, sobretudo durante os primeiros séculos após a conquista espanhola. O achado evidencia como crenças, rituais e espaços sagrados muitas vezes se entrelaçam, transformando-se lentamente ao longo do tempo.
Para a arqueologia e para a história, essa descoberta representa material valioso, pois permite estudar tanto a arquitetura antiga quanto o sincretismo religioso que marcou a formação do México atual. O povo zapoteca deixou marcas profundas em edifícios, tradições e mesmo na religião praticada hoje ali. A passagem subterrânea serve, agora, como objeto de pesquisa, suscitando novas perguntas sobre as relações entre o visível e o invisível, antigo e atual, vida e morte.










