O velório do sambista Arlindo Cruz chamou atenção não apenas pelo respeito à sua trajetória, mas também pela escolha de uma despedida marcada pela alegria, elemento central da cerimônia gurufim. Essa tradição de velórios festivos, presente em diversos cantos do Brasil, transforma o luto em celebração. Assim, resgata a memória do homenageado de uma forma singular, repleta de música, riso e histórias.
Essa prática, que se opõe ao tom convencionalmente triste dos funerais, aproxima familiares e amigos num contexto de descontração e afeto. Na cerimônia gurufim, o ambiente se modifica: ao invés de lágrimas e lamentações, predominam sambas, anedotas e saudações calorosas, transformando a despedida em um encontro de recordações marcantes.

O que é a cerimônia gurufim?
A cerimônia gurufim é uma tradição afro-brasileira que se caracteriza por velórios em que a tristeza cede espaço a momentos de descontração e celebração da vida. De origem popular, seu nome deriva de referências africanas, principalmente de comunidades do Rio de Janeiro e do Nordeste, onde a prática ficou mais conhecida. No gurufim, a presença do samba e de instrumentos musicais costuma ser indispensável.
Familiares, amigos e admiradores do falecido se reúnem não apenas para prestar uma última homenagem, mas para recordar histórias de vida, promover rodas de samba e valorizar a trajetória de quem partiu. O velório festivo, portanto, adquire o papel de agradecimento coletivo, transformando-se também em um ritual de cura para quem fica.
Como funciona um velório festivo?
A organização do gurufim pede uma atmosfera informal e acolhedora. Não há regras rígidas: cada homenagem se constrói de acordo com as características e desejos do homenageado. Normalmente, instrumentos como o pandeiro, cavaquinho e violão ganham espaço ao redor do caixão, enquanto os convidados compartilham risos e lembranças marcantes.
- Cantos e músicas: Canções preferidas do falecido, sobretudo sambas e marchinhas, costumam ser entoadas como forma de exaltar sua presença e legado.
- Histórias descontraídas: Depoimentos e situações inusitadas são rememoradas em clima de camaradagem.
- Comida e bebida: Delícias apreciadas pelo homenageado são servidas para todos, reforçando o tom de celebração.
O objetivo é proporcionar alívio coletivo e tornar leve um momento tradicionalmente doloroso. Ao inverter a lógica do sofrimento, o gurufim oferece uma perspectiva positiva diante da perda.
Por que Arlindo Cruz teve um gurufim?
Arlindo Cruz, reconhecido como um dos grandes nomes do samba, participou de incontáveis cerimônias onde a música servia de consolo e de homenagem. Seu próprio velório não poderia fugir à regra: a escolha pelo gurufim refletiu não só a vivência artística do sambista, mas também o reconhecimento de sua ligação profunda com a cultura popular e suas tradições.
Companheiros de samba, amigos pessoais e músicos optaram por celebrar sua partida com rodas de música, relembre de letras marcantes e muita emoção compartilhada. O adeus dado a Arlindo Cruz quebrou protocolos tradicionais, aproximando-se do espírito autêntico desse tipo de ritual.

Quais são as origens e os significados do gurufim?
A raiz do gurufim está ligada a rituais africanos de despedida, adaptados ao longo do tempo pela população negra brasileira, principalmente no contexto das rodas de samba e outros eventos culturais. O termo e a dinâmica do ritual incorporam elementos da religiosidade afro-brasileira e das manifestações populares do samba, conferindo-lhe um sentido profundo de pertencimento e memória coletiva.
- Valorização da vida: O foco do evento é ressaltar as conquistas e as alegrias trazidas pelo falecido em vida.
- Homenagem personalizada: O clima é moldado conforme a história do homenageado, respeitando suas paixões, gostos e legado.
- Fortalecimento comunitário: Familiares e amigos encontram força na coletividade ao lidar com a ausência de quem partiu.
No contexto do samba e das culturas tradicionais, o gurufim reafirma a potência dos rituais como instrumentos de resistência e celebração da vida, mesmo diante das despedidas.
Ao buscar meios de lidar com a perda de grandes nomes como Arlindo Cruz, a cerimônia gurufim mantém vivas as raízes culturais brasileiras e transforma o luto em continuidade, mostrando como alegria e memória podem andar de mãos dadas até mesmo nos momentos finais.










