Nos últimos anos, tornou-se comum presenciar disputas que vão além dos campos diplomáticos. Um episódio recente chamou atenção em território vietnamita envolvendo a popular boneca Baby Three, originária da China, e seu impacto nas relações políticas e comerciais na região do Sudeste Asiático. Assim, um produto infantil desencadeou debates sobre soberania nacional e símbolos políticos.
A Baby Three, com suas orelhas de coelho de pelúcia e olhos expressivos, virou uma febre entre crianças e adolescentes no Vietnã, alcançando vendas milionárias em poucos meses. Contudo, o sucesso comercial acabou confrontado por autoridades locais quando um de seus modelos apresentou um símbolo em forma de coração na bochecha. Esse desenho remeteu ao contencioso mapa da “linha de nove traços”. Este detalhe trouxe à tona tensões históricas entre Vietnã e China sobre áreas do Mar do Sul da China, cenário recorrente de divergências territoriais.

Por que a “linha de nove traços” gera tanta controvérsia?
O desenho conhecido como “linha de nove traços” simboliza as reivindicações territoriais da China sobre vastas áreas marítimas. Ela são frequentemente contestadas por países vizinhos. Pequim interpreta a representação gráfica como justificativa histórica para controlar ilhas, recifes e recursos marinhos estratégicos. Por outro lado, o Vietnã defende que esses territórios integram sua zona econômica exclusiva, conforme diretrizes da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, assinada em 1982.
Como resultado dessa disputa, episódios de tensão diplomática, manifestações populares e até confrontos em alto-mar são observados periodicamente. Decisões internacionais também entraram em cena — em 2016, a Corte Permanente de Arbitragem de Haia invalidou a principal alegação chinesa, porém o governo chinês rejeitou o veredito, perpetuando o impasse.
Quais foram as consequências do caso Baby Three no Vietnã?
A suspeita de que a boneca estivesse promovendo a reivindicação territorial chinesa levou o Ministério da Indústria e do Comércio vietnamita a determinar inspeções rigorosas nos brinquedos importados. Houve intensa mobilização digital, provocando rápida queda nas vendas do produto e repercussão nacional a respeito da “mensagem subliminar” dos brinquedos. O episódio tornou-se ainda mais impactante ao envolver escolas e pais, que começaram a desencorajar o consumo do item entre crianças por razões patrióticas.
Além disso, a reação despertou uma série de questionamentos sobre o papel dos produtos culturais e infantis na formação da identidade nacional, principalmente em países onde as questões de soberania são tão sensíveis. A comercialização da Baby Three, portanto, deixou de ser apenas uma questão mercadológica para transformar-se em pauta de interesse público, gerando discussões sobre regulamentação, vigilância e responsabilidade social dos importadores de brinquedos estrangeiros.
Quais outros exemplos ligam entretenimento a disputas territoriais?
O episódio envolvendo a Baby Three não foi isolado. Em 2023, o longa-metragem “Barbie” foi banido dos cinemas do Vietnã devido à aparição de um mapa relacionado à polêmica linha traçada por Pequim. A justificativa das autoridades baseou-se na percepção de que, mesmo tratando-se de ficção, a presença do símbolo seria uma forma de legitimar as pretensões chinesas sobre áreas contestadas. Situações similares ocorreram em outros lançamentos, como o filme “Uncharted” e a comédia romântica “Podres de Ricos”, ambos alvos de restrição por exibirem mapas interpretados como favoráveis às reivindicações da China.
- 2018: Cena de comédia romântica cortada devido à exibição de um mapa controverso.
- 2022: Suspensão de exibição do filme “Uncharted” por presença do mapa polêmico.
- 2023: Banimento do filme “Barbie” após identificação do mesmo símbolo em uma cena de fundo.
Nesses exemplos, fica evidente que elementos visuais presentes em produções cinematográficas e culturais podem assumir interpretações políticas significativas, justificando reações governamentais e medidas regulatórias específicas.

A simbologia em produtos infantis pode realmente influenciar debates geopolíticos?
Diante desses acontecimentos, especialistas apontam que a difusão de símbolos, mesmo em objetos aparentemente inofensivos como bonecas e filmes, pode servir como ferramenta simbólica em disputas internacionais. A inserção de referências visuais alinhadas a interesses políticos pode gerar interpretações variadas, especialmente em áreas onde o contexto histórico é marcado por rivalidades. Por esse motivo, países como o Vietnã intensificam fiscalizações, buscando preservar sua integridade territorial mesmo nos mínimos detalhes apresentados em brinquedos ou produtos de entretenimento.
A vigilância sobre a presença da “linha de nove traços” ou de outras representações similares ilustra a complexidade na interface entre comércio, cultura e política internacional. No cenário contemporâneo de 2025, tratar temas geopolíticos em múltiplas esferas tornou-se quase inevitável, inclusive no universo infantojuvenil.










