A busca por soluções sustentáveis para a matriz energética no Brasil ganhou novo fôlego com iniciativas inovadoras na região Norte, especialmente no Amazonas. Recentemente, foi inaugurado o Centro de Tratamento e Transformação de Resíduos (CTTR) Amazonas, que propõe transformar resíduos sólidos urbanos em biometano, também conhecido como gás verde. O projeto promete contribuir para a redução de emissões de gases poluentes, ao mesmo tempo em que oferece uma alternativa estratégica de abastecimento energético para a capital Manaus e cidades próximas.
O conceito por trás do biometano envolve a conversão de matéria orgânica em biogás, que após um processo de purificação resulta em um combustível limpo e altamente eficiente. Essa tecnologia, já adotada em outras regiões do Brasil, chega ao Amazonas em um momento oportuno, diante das discussões globais sobre transição energética e do compromisso do país com metas de descarbonização.
Como o biometano transforma resíduos sólidos em energia?
A produção do gás verde começa logo na coleta dos resíduos enviados para aterros sanitários, que reúnem materiais orgânicos provenientes de domicílios, comércios e indústria. A etapa inicial inclui a separação de componentes para garantir que apenas a matéria orgânica seja destinada ao processo de decomposição e fermentação. A partir daí, ocorre a captura do metano gerado por microrganismos durante a decomposição. Esse gás é posteriormente purificado e, assim, obtém-se o biometano, com propriedades semelhantes ao gás natural utilizado nos sistemas convencionais de distribuição.
O potencial desse modelo é reforçado por projeções ambiciosas: estima-se que, em pleno funcionamento, o novo centro seja capaz de gerar até 41 milhões de metros cúbicos de gás verde por ano, abastecendo milhares de residências e colaborando para o fortalecimento da soberania energética estadual.
Quais os benefícios do gás verde para a matriz energética do Amazonas?
O Amazonas enfrenta desafios históricos em relação ao fornecimento de energia. Grande parte dos municípios ainda conta com sistemas isolados, de difícil conexão ao Sistema Elétrico Nacional, e depende fortemente de termelétricas movidas a combustíveis fósseis, como o diesel. Em períodos de estiagem, a situação se complica, pois a logística de transporte de combustíveis é prejudicada pela redução dos níveis dos rios.
- Redução das emissões de CO2: O biometano emite até 2,5 vezes menos dióxido de carbono em comparação com o gás natural.
- Sustentabilidade: O aproveitamento do lixo urbano reduz a quantidade de resíduos destinados a aterros inadequados e diminui a contaminação de água e solo.
- Abastecimento seguro: A utilização do biometano como alternativa ou complemento ao gás natural cria reservas energéticas locais, reforçando o fornecimento à capital e ao Polo Industrial de Manaus.
Além disso, o processo contribui para o tratamento do chorume – líquido resultante da decomposição de resíduos orgânicos – por meio de tecnologias avançadas, convertendo-o em água de reúso para aplicações industriais.
Biometano: solução definitiva para a descarbonização?
A entrada do gás verde em grande escala no mercado amazônico representa um avanço importante, mas os especialistas destacam que o biometano é parte complementar no processo de transição energética. Apesar do seu alto potencial de descarbonização, ainda depende de fatores como logística eficiente, separação adequada dos resíduos e integração com políticas públicas de incentivo aos biocombustíveis.
- Expansão da coleta seletiva e investimentos em compostagem.
- Modernização da infraestrutura de tratamento dos resíduos sólidos urbanos.
- Políticas de incentivo para a indústria do gás renovável, como programas nacionais de créditos de carbono.
Para o futuro, o biometano pode se tornar ainda mais relevante se for integrado a práticas de eficiência energética e consumo consciente. Reduzir o desperdício de energia em aparelhos e processos industriais potencializa os ganhos ambientais, tornando o ciclo de utilização do gás verde mais limpo e eficiente.
Quais os próximos passos para ampliar a produção de gás verde?
Com a infraestrutura do CTTR já estabelecida, a próxima etapa crucial envolve a transição da gestão dos resíduos sólidos de Manaus para o novo aterro sanitário vinculado ao centro. O início das operações industriais está previsto para 2028, prazo em que se espera a consolidação do processo produtivo e a ampliação da rede de distribuição do biometano para o mercado regional.
O sucesso do projeto também depende da participação ativa dos órgãos ambientais estaduais e municipais, garantindo a segurança hídrica e a proteção ambiental ao redor das instalações. Complementarmente, é fundamental fortalecer programas de educação ambiental junto à população para promover o descarte correto dos resíduos, facilitando o aproveitamento máximo da matéria orgânica.
Diante de cenários cada vez mais exigentes no combate às mudanças climáticas, o biometano produzido no Amazonas demonstra o potencial de transformar desafios ambientais em oportunidades, consolidando-se como um agente importante na matriz energética regional e nacional. O avanço dessa tecnologia dependerá, no entanto, de continuidade no investimento, aprimoramento da logística e integração com políticas de incentivo ao uso de fontes renováveis.





